Instituto Universitário Militar
Não é meramente formal a designação de Instituto Universitário Militar, que iniciou o seu ano escolar no dia 16 de setembro, com as limitações impostas pela crise, porque se trata de reconhecer à investigação, ao ensino e à ação das Forças Armadas (FA) o mérito, finalmente oficializado, obtido na questão que, desde o século XIX, se traduziu na disputa entre utilitarismo e cultura conservadora.
Destacou-se a proposta do cardeal Newman, com o seu The Idea of a University, de 1852, e que foi elevado recentemente aos altares católicos. O debate, no século passado, definiu-se mais entre universidades e politécnicos, com a diferença de as universidades buscarem as ideias, e os segundos a aplicação. Sempre por esse tempo nos pareceu que deveriam ter identidade específica, e dignidade igual, e supomos que os factos finalmente responderão nesse sentido. Na área militar separada, por isso conviveram o saber e o saber-fazer, com uma evolução recente frequentemente atingindo a salvaguarda da vida habitual.
Talvez a primeira inquietação pública tenha sido a de 2012, quando foi decidida a extinção do Instituto de Odivelas, prevendo a admissão das raparigas no Colégio Militar. Ainda hoje, a Zacatraz, revista da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar, de que sou sócio honorário, não deixa de salientar o desgosto da época. Mas os resultados foram recolhidos positivamente pelo interesse nacional, com alunas que contribuíram para a dignidade do exercício da função escolhida nas FA.
Por memória pessoal, não esqueço, para começar, a heroica intervenção, na Guerra Colonial, das Enfermeiras Paraquedistas, sem distinguirem os feridos que procuravam socorrer. É no mesmo humanitário conceito que ficaram registadas intervenções nas guerras ocidentais, por exemplo a intervenção do almirante Sarmento Rodrigues, galardoado pela Inglaterra, salvando um número elevado de náufragos.
Exemplos do saber-fazer respeitando imperativos da cultura ética, documentados pelo mérito das instituições de formação na Marinha, na Força Aérea e no Exército. Este saber-fazer assentou, como mereceria o apreço do cardeal Newman, na valiosa e numerosa articulação das publicações de investigação e ensino que enriquecem as bibliotecas das suas instituições, e outras de origem exterior, e articulação com os problemas dos deveres das FA. A par da Revista da Marinha, hoje dirigida pelo almirante Alexandre da Fonseca, destaca-se a Revista da Armada, dirigida pelo almirante Aníbal Ramos Borges, a Revista Militar fundada em 1840 e hoje dirigida pelo general Pinto Ramalho, as privadas, como a Segurança e Defesa, coordenação de José Manuel Anes, a ativa Academia de Marinha, hoje presidida pelo almirante Francisco Vidal Abreu.
E lembrando perdas, como sempre entendi que foi a extinção do Instituto Superior Naval de Guerra, cujo último diretor foi o ilustre almirante Rebelo Duarte. Tudo são insuficientes lembranças em que não omito a Revista Estratégia, de uma associação devida ao apoio de Veiga Simão, e da qual é atual diretor o almirante Pires Neves, estando publicados 30 volumes.
Esta breve memória justifica o imediato apoio do Instituto Universitário Militar, cuja Revista de Ciência Militar - Centro de Investigação e Desenvolvimento, demonstra o número e importância dos ensaios, do saber e da capacidade das FA. Numa época em que, além da agressão geral da covid-19, que leva a população mundial a organizar-se, segundo noticiários, como Le Grand Bazar du Dépistage", a capital do Líbano a explodir com uma mortandade terrível, a presidência dos EUA insistente a recriar o modelo do Estado espetáculo com o culto da leviandade contra o conselho de Bismark.
As Forças Armadas portuguesas, sem omitir as exigências mundialmente respeitadas das suas intervenções em missões no estrangeiro, assumiram a intervenção da defesa e da segurança que cabe no interior contra a gravíssima agressão mundial pela covid-19.
A qualificação universitária do ensino das FA é um ato de rigor numa época de desordem global crescente. A sua melhor contribuição é a garantia de que vão participar na reconstrução da nova ordem internacional, quando a desordem global for vencida.
Que a definição tenha sido consagrada no antigo Instituto de Estudos Superiores Militares, assenta num passado ilustre de grandes professores, a que, por exemplo, a Academia das Ciências prestou respeito e homenagem de receber como titulares. Todos os ramos das FA são por igual participantes da justiça recebida.