Instituto Ricardo Jorge apoia Guiné-Bissau no combate à covid-19

Apoio do Instituto Doutor Ricardo Jorge desde os tempos do ébola foi essencial para dar ao país capacidade de diagnóstico desde o início da pandemia. Mas muitos guineenses não acreditam ainda que o vírus existe, alguns não sabem o que é uma máscara e muitos não respeitam as regras de saúde pública para evitar a propagação do vírus.
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Foi a equipa do Instituto Nacional de Saúde Pública Doutor Ricardo Jorge de Portugal que formou, no período do ébola, a única técnica do Laboratório Nacional de Saúde Pública da Guiné-Bissau. Uma das pedras fundamentais no apoio ao LNSP, que permitiu agora ao país estar em condições de dar resposta aos primeiros casos da pandemia de covid-19.

"Depois do surgimento de casos de covid-19 na China e do seu alastramento para a Europa e África, começámos a preparar o laboratório para o que desse e viesse. Como se diz na nossa língua crioula, quando uma pessoa não tem lágrimas deve-se começar a chorar antes de chegar ao funeral. Mas se não fossem os equipamentos que a Direção-Geral da Saúde de Portugal nos ofereceu no período do ébola, não estaríamos em condições de fazer os primeiros diagnósticos da covid-19 na Guiné-Bissau", explicou ao DN o diretor-geral do LNSP, o microbiologista guineense Serifo Monteiro.

Segundo o microbiologista, "fomos preparando o nosso laboratório com o apoio também da Organização Oeste Africana da Saúde (OAS) e em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS)". As duas organizações "solicitaram-nos para mandarmos mais um técnico para uma formação no Instituto Pasteur em Dacar". No regresso do técnico guineense formado no Senegal, a OAS e a OMS ofereceram ao LNSP um kit de diagnóstico, de extração e de colheita de amostras que permitiu aos técnicos da Guiné-Bissau dar uma resposta aos primeiros dois casos de covid no país.

O diretor do LNSP considera que foi a má estratégia de diagnóstico que a Guiné-Bissau adotou nos primeiros tempos que levou o país a liderar até hoje nos casos de contaminação nos países africanos da Comunidade da Língua Portuguesa (CPLP). "Infelizmente, no início, na Guiné-Bissau, as pessoas, mesmo os académicos, não acreditavam que o vírus tinha chegado ao país" lamentou o microbiologista, sustentando que "este comportamento fez que a maioria da população não acreditasse na existência da covid-19".

Para Serifo Monteiro, apesar do apoio do Instituto Doutor Ricardo Jorge e de o país ter agora o Hospital Nacional Simão Mendes, o de Comura e a Clínica de Bôr com alguns equipamentos sanitários, "a Guiné-Bissau ainda tem um sistema de saúde débil, com falta de meios materiais e humanos para dar resposta aos casos de covid-19".

"O nosso país nunca investiu na compra de equipamento para fazermos face aos diagnósticos das infeções. Foi necessário chegar o ébola aos países vizinhos para beneficiarmos do apoio da Direção- -Geral da Saúde de Portugal, que na altura nos ofereceu equipamentos (os PCR) de alta gama que foram instaladas aqui no LNSP", explicou ao DN, visivelmente triste com o facto de haver pessoas, sobretudo jovens, na Guiné que acreditam que o vinho de caju mata o novo coronavírus.

Para o microbiologista, Portugal é um parceiro incontornável da Guiné-Bissau, porque se não fosse o Instituto Doutor Ricardo Jorge de Portugal "não estaríamos agora em condições de fazer diagnósticos da covid. Estaríamos a fazer colheitas e a enviar para Dacar para fazer diagnóstico", asseverou o microbiologista, preocupado com o facto de muitas pessoas nas Tabancas da Guiné-Bissau ainda não saberem o que é uma máscara.

Médicos cubanos não conseguiram ainda travar a covid

Apesar da chegada de 23 médicos cubanos para apoiar os colegas da Guiné-Bissau, a situação epidemiológica do país é traduzida ainda por um aumento progressivo do número de casos. Por outro lado, agora na época da chuva há um aumento da morbilidade e mortalidade infantil na população guineense. É igualmente neste período do ano que aumentam as infeções respiratórias e o paludismo na Guiné.

A evolução da situação epidemiológica levou o governo, pela sétima vez, a prolongar até dia 24 de agosto o estado de emergência. Por outro lado, ainda reina entre os epidemiologistas da Guiné o pessimismo generalizado de que não é somente com a chegada dos 23 técnicos cubanos ou com a chegada de materiais sanitários oferecidos pela União Europeia no dia 4 de julho que se vai reduzir os surtos da covid-19, uma vez que a maioria dos guineenses não está a cumprir as regras sanitárias.

A recuperação económica das mulheres vendedeiras

O governo de Bissau, sob liderança do primeiro-ministro Nuno Gomes Nabiam, não tem nenhum apoio para proteger as mulheres vendedeiras nos mercados do país que o estado de emergência desarticulou.

As Organizações da Sociedade Civil da Guiné-Bissau dizem ao DN estar preocupadas com a desestruturação das vendedeiras, uma vez que a maioria das famílias guineenses vive do rendimento vindo das vendas dos produtos nos mercados e da remessas dos emigrantes, em particular os que vivem e trabalham em Portugal.

Para o presidente da Plataforma das Organizações da Sociedade Civil, Fodé Caramba Sanhá, é insuficiente a redução dos preços de desalfandegamento da importação do produto pesqueiro vindo da Gâmbia e do Senegal.

Fodé Sanhá garantiu ao DN que a Plataforma das Organizações da Sociedade Civil vai recorrer aos microprojetos de fundos da União Europeia para apoiar as vendedeiras na gestão dos rendimentos.

Defendeu, por outro lado, a necessidade de o governo criar mecanismos para comprar aos agricultores castanha de caju e revendê-la às empresas americanas, indianas e vietnamitas. Todavia, disse não estar convencido de que o governo esteja em condições de o fazer devido ao crónico desequilíbrio de 40% do Orçamento Geral do Estado.

Bancos da África Ocidental apoiam o governo de Bissau

A progressão rápida da pandemia de covid-19 obrigou o governo de Nuno Gomes Nabiam a recorrer aos bancos da África Ocidental para melhorar as frágeis estruturas sanitárias da Guiné. O governo tentou melhorar os salários do pessoal médico e garantir o seu pagamento atempado. Também isentou os doentes de pagar algumas consultas e medicamentos.

"Deixar a nossa população à mercê de Deus é imoral para quem está a gerir as coisas públicas", sublinhou o ministro das Finanças Públicas, João Fadia, que assegurou ainda: "Neste momento, estamos a pagar o pessoal da Saúde Pública e os salários atrasados no Ministério de Educação num valor de 2,9 mil milhões de francos CFA."

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