Inimigos como dantes

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Como reagirá a China à estratégia ofensiva da administração Trump? A imprensa oficiosa chinesa fala na possibilidade de uma guerra caso Washington tente afrontar os "interesses fundamentais" da China na questão de Taiwan ou no mar do Sul da China.

O exercício pode ser retórico, mas, a avaliar pela postura desafiante do presidente norte-americano e de colaboradores mais próximos, perante a China, as posições no terreno tenderão a extremar-se. Estaremos perante uma corrida aos armamentos entre as duas maiores potências mundiais? É provável, mas o esforço orçamental associado limita as opções em jogo. Em todo o caso, a China está a alcançar a paridade com os EUA em alguns sistemas de armas, ao mesmo tempo que é o único P5 da ONU a ampliar, ainda que marginalmente, o seu arsenal nuclear.

Ao contrário dos EUA, a China tem vindo a aumentar substancialmente as verbas alocadas à defesa. Embora o investimento realizado por Pequim seja impressionante, o governo americano tem ao seu dispor um orçamento que quase triplica o equivalente chinês. Entre 2010 e 2016 o orçamento americano para a defesa foi reduzido em 14%, uma tendência que poderá ser invertida pela administração Trump.

No entanto, de acordo com o artigo publicado pelo general Petraeus na revista Foreign Affairs, bastará aos EUA manter os atuais 3% do PIB dedicados à defesa para garantir a superioridade tecnológica e militar da maior potência por muitos anos. E se a economia americana está a atravessar um período virtuoso, a homóloga chinesa regista o maior arrefecimento em décadas.

Nenhuma grande potência em ascensão prescindiu do poderio militar. A China não é exceção. A visão realista de afirmação do poder chinês, apoiada em orientações estratégicas bem definidas e vastos recursos, tem vindo a traduzir-se em generosos orçamentos dedicados ao fortalecimento das suas forças armadas. A China é já o segundo país a nível mundial, a seguir aos EUA, a registar a maior despesa na área da defesa. É também a terceira maior exportadora e importadora de armamento a nível mundial.

Fontes credenciadas admitem que o investimento militar efetivo realizado por Pequim seja muito superior aos dados divulgados oficialmente. Ainda assim, de acordo com o Instituto SIPRI, em Estocolmo, o orçamento para a defesa da China terá crescido 396% entre 1995 e 2015. A União Europeia refere um aumento de 150% na última década.

Um relatório recentemente divulgado pelo grupo internacional IHS Jane"s prevê que a despesa da China em defesa duplicará até 2020, ascendendo a 233 mil milhões de dólares. Em 2016, a China anunciou um orçamento para a defesa cifrado em 146 mil milhões de dólares, um aumento de 7,6% relativamente a 2015. Tratou-se, na realidade, do crescimento mais reduzido em seis anos, que poderá ter resultado da instabilidade financeira vivida pela China naquele período. Refira-se que o orçamento da China para a defesa tem estado associado ao índice de crescimento económico.

Em 2015, o governo chinês publicou um livro branco sobre defesa, deixando claro que a China vai ser uma grande potência marítima. A militarização do mar do Sul da China não deixou dúvidas quanto a esse desiderato.

Investigador do Instituto do Oriente (ISCSP)

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