A inflação de 7,8%, registada em 2022, provocou um verdadeiro rombo nos salários dos funcionários públicos e dos colaboradores do setor privado. Cálculos realizados pelo Dinheiro Vivo com base nas estatísticas sobre as remunerações brutais mensais, publicadas esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam que, no conjunto, os trabalhadores perderam cerca três mil milhões de euros devido ao impacto da subida continuada dos preços..No ano passado, o vencimento bruto médio mensal dos mais de 4,4 milhões de trabalhadores fixou-se em 1411 euros, o que representa uma perda real de 4% por força do embate da inflação, segundo os dados do INE. Assim, em termos reais, verificou-se um corte na massa salarial da economia portuguesa de cerca de três mil milhões de euros, o que dá uma perda anual de 676 euros para cada trabalhador..Analisando os efeitos da variação dos preços nos ordenados brutos dos setores público e privado, verifica-se que os trabalhadores do Estado foram mais penalizados. Apesar de auferiram uma remuneração bruta média mensal superior, de 1951 euros, a perda real também foi maior, de 5,6%. Feitas as contas, os mais de 742 mil funcionários públicos sofreram uma perda global de 968 milhões de euros, o que significa, em termos médios, um corte anual nos salários de 1304 euros..No perímetro das empresas do setor privado, o ordenado bruto mensal médio em 2022 era de 1302 euros, menos 642 euros face aos valores praticados na Administração Pública. Mas o abalo provocado pela inflação também foi menor. Os mais de 3,6 milhões de trabalhadores sofreram um corte de 3,1% nas suas remunerações, o que dá uma redução global anual de 1,7 mil milhões de euros e de 484 euros por cada funcionário..Em termos acumulados, os portugueses perderam 9,5 mil milhões de euros nos últimos oito anos, o que significa um corte de 12,6% na massa salarial, de acordo com a série estatística do INE que deflaciona as remunerações a janeiro de 2014, altura em que a inflação era nula. Tendo em conta as penalizações globais geradas desde o último ano da troika em Portugal, os cortes no Estado superaram os 2,2 mil milhões de euros: a diferença entre o vencimento ilíquido médio mensal nominal (1951 euros) e o valor real (1703 euros) é de 248 euros que, multiplicado por 12 meses, uma vez que esta remuneração já inclui os subsídios de férias e de natal, dá uma perda global por trabalhador de 2976 euros. Ao contabilizar todos os 742 400 funcionários públicos existentes em 2022, chegamos a um recuo nas remunerações que supera os tais 2,2 mil milhões de euros..No setor privado, e porque o universo de trabalhadores é muito superior, ultrapassando os 3,6 milhões, o impacto é maior. No conjunto, a inflação tirou mais de 7,3 mil milhões aos salários. Na comparação entre o vencimento médio bruto verificado, de 1302 euros, e o real, de 1137 euros, existe uma quebra de 165 euros por mês. A perda global por trabalhador atingiu os 1980 euros..Salomé Pinto é jornalista do Dinheiro Vivo