Já quando o iate real Brittania ancorou no Tejo em fevereiro de 1957, trazendo uma jovem Isabel II na sua primeira visita a Portugal, não faltou nos jornais a referência à aliança luso-britânica, datada do século XIV e, por isso, a mais antiga no mundo ainda em vigor. E sem surpresa, no encontro ontem, em Londres, do primeiro-ministro António Costa com Boris Johnson, o homólogo britânico, os mais de seis séculos de amizade entre os dois países voltaram a ser lembrados, tanto mais que a par da estreita ligação económica entre Portugal e o Reino Unido, também há a questão da forte cooperação militar, nomeadamente no âmbito da NATO..Dirão as más-línguas que Portugal pouco ganhou com esta aliança ao longo dos tempos e que até houve momentos, como no final do século XIX, em que os interesses nacionais e os britânicos colidiram e não tardou que o lado mais forte impusesse a sua vontade, como se de um inimigo se tratasse. Falo do célebre episódio do Ultimato, quando a ambição colonial do Mapa Cor de Rosa a unir Angola a Moçambique chocou com o projeto de um Império Britânico do Cairo ao Cabo. Também muitas vezes é dito que a proteção da Marinha Britânica na retirada da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1807-1808, só aconteceu porque o príncipe-regente, o futuro D. João VI, prometeu abrir o mercado brasileiro às nações amigas..Porém, do papel dos archeiros ingleses em Aljubarrota ao Exército luso-britânico que, sob o comando de Wellington, expulsou as tropas napoleónicas de Portugal, muito pode ser também dito em abono da aliança. Que teve, sem dúvida, altos e baixos e sofreu mesmo, aqui e ali, traições pontuais por conflito de interesses. Mas o século XX veio confirmar que, por muito que Portugal tenha apostas geopolíticas variadas, desde essa UE que viu o Reino Unido virar-lhe costas (para especial desilusão dos portugueses), até ao amplíssimo espaço da CPLP, o atlantismo é vital e sem Reino Unido não há atlantismo, tal como sem Estados Unidos também não o há..Os Estados Unidos só nasceram 400 anos depois do tratado luso-britânico, mas não o ignoram quando defendem os seus interesses na Europa e fazem contas ao que vale cada aliado. Sabem que, se no passado era a posição estratégica de Lisboa que valia, hoje são sobretudo os Açores que contam e a base das Lajes até começou por alojar britânicos. Mas o mais surpreendente é, por mera coincidência, um americano ter-me falado há dias, durante uma visita a Nova Iorque, com grande admiração, da Ínclita Geração (assim, a designou Camões), os geniais filhos de D. João I e de Filipa de Lencastre, o casal cuja união consagrou a Aliança Luso-Britânica. Só eles, já fizeram valer o tratado..Diretor adjunto do Diário de Notícias