Imigração ajuda Alemanha a ter a maior taxa de fecundidade em 33 anos
Há 33 anos que a taxa de fecundidade na Alemanha não era tão elevada e o governo alemão está satisfeito com o "excelente sinal", que pode significar a inversão da tendência de declínio. Segundo os dados do Instituto Federal de Estatística (Destatis), em 2015 a taxa foi de 1,5 filhos por mulher (ficando ligeiramente aquém dos 1,51 registados em 1982), impulsionada pela taxa elevada que se regista entre as estrangeiras residentes no país (1,95).
"O declínio da taxa de fecundidade foi travado. Com base nestes números, podemos mesmo falar numa inversão da tendência", disse num comunicado Martin Bujard, investigador de temas de família do Instituto Federal para a Investigação sobre População. A taxa de fecundidade é o número de nascimentos por cada mil mulheres em idade fértil, ou seja, entre os 15 e os 49 anos de idade. A de 1,5 registada na Alemanha está longe da de 2,1 nascimentos necessários para assegurar a reposição populacional, mas é melhor do que a de 1,47 do ano anterior - o valor mais baixo (1,24) foi registado em 1994. O aumento é equivalente a mais 27 bebés por cada mil mulheres. Em Portugal, a situação é ainda grave, com apenas 1,3 filhos por mulher. A média europeia é de 1,58, com Irlanda e França próximo dos 2.
A imigração é um dos fatores chave para explicar os resultados na Alemanha, já que entre as mulheres alemãs a taxa subiu apenas de 1,42 em 2014 para 1,43. Já entre as estrangeiras passou de 1,86 para 1,95. Alguma opinião pública fez de imediato uma ligação entre estes números e a política de portas abertas aos refugiados (a maioria da Síria), implementada pela chanceler alemã, Angela Merkel. Contudo, uma porta-voz do Destatis, citada pela revista Makronom, revelou que o aumento foi registado em mulheres oriundas da Europa de Leste e Balcãs (Polónia, Bulgária, Albânia). Já no caso das de origem turca, estão em queda.
O impacto da chegada de mais de um milhão de refugiados em 2015 (cerca de 70% dos quais muçulmanos) só será analisado em estatísticas futuras, sabendo-se que as famílias muçulmanas têm tendência a ser mais numerosas do que as europeias (mas também que 70% dos que chegaram eram do sexo masculino). A taxa de fecundidade na Síria, de onde chegaram muitos refugiados, era superior a 3 antes da guerra, há cinco anos.
"Os refugiados não tiveram grande contributo em termos de aumento do número de nascimentos", contou ao DN Helena Araújo, economista portuguesa que vive em Berlim e é autora do blogue "2 Dedos de Conversa", falando em valores muito pequenos no bolo total. "Mas há localidades, em regiões desertificadas, nas quais a presença de crianças refugiadas permitiu abrir turmas em escolas que de outro modo acabariam por fechar por falta de alunos em número suficiente", referiu.
Para lá da imigração
Um estudo publicado em abril revelou que a população alemã deverá perder dez milhões de pessoas até 2060, passando dos atuais 81 milhões de habitantes para um valor entre 68 e 73 milhões. O que terá consequências ao nível da economia. "Mais crianças é melhor do que menos crianças. Uma taxa de natalidade baixa torna o nosso sistema financeiro e social menos estável", disse ao jornal britânico The Independent o chefe do departamento para Migrações e Mercado de Trabalho do Instituto para o Desenvolvimento Populacional de Berlim, Stephan Sievert.
As taxas reduzidas têm sido usadas para justificar muitas das políticas económicas do gigante europeu, que defende a austeridade para evitar que as futuras gerações tenham que lidar com um problema crescente de dívida pública e a rutura do sistema de pensões. Nos últimos anos, Merkel tem implementado políticas para incentivar a natalidade e isso também pode estar a dar frutos.
"Hoje, mais casais querem ter filhos do que há uns anos acontecia. Além disso, o aumento nos cuidados e assistência à infância contribuíram para permitir reconciliar a carreira com a vida familiar", indicou Bujard. "Mais creches e mais escolas a tempo inteiro resultam em mais crianças", congratulou-se a ministra da Família, Manuela Schwesig, a mesma que considerou um "excelente sinal" o aumento na taxa de fertilidade.
"As mentalidades estão a mudar", admite Helena Araújo, que diz que "os homens assumem a licença de paternidade com toda a naturalidade e as mulheres já não são tão criticadas por terem filhos e continuarem a trabalhar". Contudo, conta a portuguesa, "ainda faltam muitas das creches que o governo queria assegurar".