Iglesias pressionado a aceitar solução de governo à portuguesa
Pablo Iglesias abdicou de ser vice-primeiro-ministro mas não abdica de entrar num governo de coligação com o PSOE, com direito a vários ministérios para a Unidas Podemos, a aliança que encabeça e que inclui, entre outros, a Esquerda Unida. Por isso não viabilizou, na semana passada, um governo minoritário do Partido Socialista Operário Espanhol.
Pedro Sánchez deu por terminadas quaisquer negociações com Iglesias e sobre um governo de coligação. Pois mesmo juntos, PSOE e Unidas Podemos não somam maioria absoluta de deputados e, por isso, o líder do PSOE não quer ficar amarrado a uma coligação que o pode comprometer em determinados temas, como a Catalunha, por exemplo.
Várias vezes, durante o debate de investidura, Sánchez ofereceu a Iglesias uma hipótese de governo à portuguesa, ou seja, os partidos não têm que estar no governo, apenas apoiá-lo, consoante os temas em causa.
"Se não chegarmos a acordo, pensem bem que vão votar ao lado da extrema-direita contra a investidura de um primeiro-ministro socialista. Façam vocês então um acordo entre PP, Ciudadanos, Vox e Unidas Podemos, certamente têm a maioria. A cooperação existe em Portugal, na Dinamarca, existiu estes 10 meses em Espanha. Falam de um governo de coligação só à imagem daquilo que vocês querem. Não queremos uma investidura falhada e uma repetição das eleições", disse Sánchez, no primeiro de dois dias de debate de investidura que, no final, resultaram em falhanço.
Sánchez não foi investido e começaram agora a contar os prazos para novas eleições. Se não houver qualquer tipo de acordo até setembro, os espanhóis voltam às urnas, o mais provável a 10 de novembro.
Apesar de Iglesias insistir que a Unidas Podemos seja membro de pleno direito do governo, a Esquerda Unida de Alberto Garzón e outras fações dentro da aliança já se mostraram disponíveis para fazer apenas um acordo de apoio parlamentar. "O grupo Unidas Podemos deve exigir um acordo à volta das bases programáticas" sobre o Orçamento do Estado para 2019 "ainda que não exista acordo para construir um acordo de coligação com o PSOE a fim de evitar novas eleições. Na Esquerda Unida entendemos que é, precisamente, nos momentos de maior convulsão que devemos manter como único guia a defesa dos interesses das famílias trabalhadoras", indicou a Esquerda Unida, em comunicado citado pela imprensa.
Segundo avança esta terça-feira o El País, também os anticapitalistas, uma corrente dentro do Podemos, começaram a exigir a Pablo Iglesias que negoceie com Pedro Sánchez um programa de governo sem necessidade de fazer parte desse mesmo governo. Teresa Rodríguez, líder do partido na Andaluzia, Miguel Urbán, eurodeputado, são dois dos nomes que o jornal espanhol associa a essa corrente dentro do Podemos. "Unidas Podemos cometeu erros muito importantes na sua tentativa de entrar no governo pela porta de serviço: nem todas as renúncias foram suficientes à voracidade social liberal", refere um comunicado citado pela imprensa, no qual se reclama a negociação com o PSOE de um "acordo programático" para depois "voltar à oposição" sem entrar no governo e para construir "pacientemente uma alternativa".
Em resposta a estas posições, o deputado Pablo Echenique, homem da máxima confiança de Pablo Iglesias, fez saber: "É bom que haja debate. Mas isto [apoio ao governo sem estar no governo] foi o que já fizemos com a moção de censura [do PSOE de Sánchez contra o governo PP de Mariano Rajoy] e não funcionou. O PSOE não cumpriu os pactos nas questões chave, como os limites à subida dos preços dos alugueres, sem estar no governo mão há maneira de garantir que eles vão cumprir".