Rio vence moção de confiança. "Agora temos de construir a possibilidade de o PSD ganhar" eleições
Por voto secreto, a moção de Rui Rio foi aprovada esta madrugada por 75 votos a favor, 50 contra e um nulo. Os críticos e Luís Montenegro saíram do Porto derrotados desta batalha.
À saída, o presidente social-democrata assumiu que sente a sua liderança reforçada. Afirmou que este foi "um resultado importante", uma vez que foi "um pouco superior ao resultado das eleições diretas", em que venceu a Pedro Santana Lopes.
"O que é preciso é que agora haja alguma paz no partido", disse Rio, com vista às eleições.
"Neste momento é claro que o PS pode perder as eleições. Agora temos de construir a possibilidade de o PSD ganhar", afirmou.
A ideia de união foi igualmente expressa pelo líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, que afirmou aos jornalistas que "o partido sai unido e reforçado". "O que lhe compete é constituir-se como alternativa" ao PS, acrescentou.
Algum tempo antes da votação, Rui Rio fez saber aos jornalistas que defendia a votação secreta da moção de confiança, tal como exigiam os críticos. 78 dos conselheiros aprovaram o voto secreto e 26 queriam o braço no ar.
O ex-líder parlamentar do PSD entrou a matar no Conselho Nacional extraordinário do PSD e desafiou o presidente do partido, que não tem direito de voto, a revelar qual a sua posição sobre o modo de votação da moção de confiança. Líderes das distritais de Coimbra e Setúbal ameaçavam não votar. Rui Rio respondeu já de madrugada pela voz do secretário-geral do partido, José Silvano, que comunicou aos jornalistas a opção do líder social-democrata pelo voto secreto.
Hugo Soares fez ainda apelo para que o Conselho de Jurisdição Nacional do partido se pronunciasse sobre a matéria. Aquele órgão acabou mesmo por dar um "parecer sucinto" em que reconheceu que ao abrigo do artigo 13.º, alínea C do regulamento dos Estatutos do PSD, se a votação secreta fosse solicitada por um décimo dos membros do CN presentes ela teria de ser obrigatória.
Ainda assim, a mesa do Conselho Nacional decidiu colocar à votação os requerimentos entregues para votações de forma diversa, o que levou os membros do órgão de Jurisdição do partido a abandonar a sala. Sobre a mesa estavam quatro requerimentos que deram entrada, todos relativos à forma como irá ser votada a moção de confiança. Segundo informação prestada por José Silvano aos jornalistas, um requerimento defende o foto secreto, outro o voto de braço no ar, um terceiro pede que seja por voto uninominal - cada conselheiro teria que dizer o seu voto - e um quarto requerimento, entregue por conselheiros e congressistas que elegeram conselheiros, pede que seja o próprio conselho nacional a votar qual o método de votação da moção de confiança à direção de Rui Rio.
Acabou por ser aprovado o voto secreto. 78 conselheiros quiserem pronunciar-se em urna e só 26 de braço no ar.
O presidente da distrital de Coimbra do PSD, apoiante de Luís Montenegro, fez a intervenção mais contundente da noite de facas longas no PSD sobre a polémica da votação. "A si ainda comprava um carro em segunda mão",disse virando-se para Rui Rio, mas "não à sua Comissão Política Nacional, que "não contribuiu para a estabilidade do partido mas para a guerrilha".
Idêntica posição assumiu outro apoiante de Montenegro. O líder da distrital de Setúbal garantiu que se o voto não for "livre e democrático", ou seja secreto, e Rio "obrigar a votar como se faz lá na minha terra", de braço no ar, não votará. Bruno Vitorino argumentou que só através do voto secreto se "clarificará" o peso político da direção do PSD e será uma forma de calar os críticos. "Serei o primeiro a fazer essa clarificação, se ganhar apresentarei a demissão da minha Comissão Política Distrital e devolverei a palavra aos militantes".
À mesa exigiu que a moção de apoio à direção seja por voto secreto, se assim não for, ameaçou, "recuso-me a participar no que considero uma fraude eleitoral". O deputado Carlos Abreu Amorim, uma das vozes mais críticas da direção social-democrata, usou o mesmo argumento da "fraude" e defendeu que os conselheiros se pronunciem em urna. E também ameaçou com "indeferimento" caso seja deliberado a votação de braço no ar.
Nesta altura, ainda há muitos inscritos para falar na sala do Hotel Porto Palácio que ainda aguardam pela sua vez e com a nova interrupção, os trabalhos deve, prolongar-se pela madrugada.
Um dos vice-presidentes de Rui Rio dos mais discretos saiu esta madrugada num ataque feroz a Luís Montenegro. Nuno Morais Sarmento acusou o antigo líder parlamentar do PSD de criar uma "crise séria" no partido apenas pelos "apetites" de um militante pela presidência do PSD. "Eu ainda compreendia que ao arrepio das regras do nosso partido, há mais de 40 anos que respeitamos, tivesse sido posta perante os militantes uma qualquer estratégia. Mas não vi qualquer estratégia", que a existir deveria ter sido apresentada há um ano em congresso,
"Não tente à 25.ª hora, sem apresentar uma única ideia, substituir uma direção e os ciclos normais do nosso partido", disse ainda Sarmento.
Esta noite de quinta-feira, falaram de seguida o atual secretário-geral do PSD, José Silvano, e o antecessor, José Matos Rosa, que atravessou o consolado de Pedro Passos Coelho,
O primeiro, como é óbvio, considerou uma "completa irresponsabilidade" criar uma situação de instabilidade no partido. Se a moção de confiança for rejeitada, lembrou, segue-se a marcação de eleições diretas. "Vão ser três meses, no mínimo, em luta interna enquanto lá fora estarão todos em campanha". José Silvano manifestou-se convicto de que o PSD irá ganhar as próximas eleições.
José Matos Rosa, que tem sido crítico de Rio, levantou a voz para pedir bom senso ao partido e pedir que os conselheiros pensem bem como votar a moção para que o PSD não fique "mais pequeno e irrelevante".
Castro Almeida falou na dupla condição de vice-presidente de Rui Rio e "amigo"de Luís Montenegro, para o qual pediu ao partido que não se esqueça de reconhecer o valor que teve enquanto líder parlamentar num momento tão difícil quanto foi o período do governo de Pedro Passos Coelho. "Tem um capital que não podemos esquecer e ser ingratos". Esta declaração deu-lhe mais crédito para censurar o "amigo". "Montenegro tomou uma atitude muitíssimo reprovável", afirmou sobre o desafio à liderança de Rio. "Montenegro atirou para aqui uma bomba" e sublinhou que o antigo líder parlamentar nunca disse que vai ganhar as eleições.
O dirigente social-democrata questionou os conselheiros nacionais:"Vale a pena criar este problema tão sério ao partido?" E respondeu: "A estrela de António Costa está a perder brilho, seria o melhor presente de Páscoa que lhe poderíamos dar"
A líder da JSD fez uma intervenção muito assertiva, lamentando o timing desta crise e o "triste espetáculo"que o partido está a dar ao país. Margarida Balseiro Lopes distribuiu criticas entre o líder do partido, que convida pessoas a sair do partido e o opositor, Luís Montenegro, que abriu a crise. "Sou pela estabilidade dos mandatos, mas não posso deixar de perceber os motivos que estão na sua base e concordo com alguns argumentos", disse .
E de modo frontal disse ali naquele hotel do Porto o que vai mal na vida do partido: todo o discurso; a diferença para o PS e a marca PSD. Margarida Balseiro Lopes defendeu que é preciso "ser mais duro nas críticas ao primeiro-ministro, que a demarcação em relação aos socialista tem de ser mais clara e que tem de haver um reconhecimento "sem medo ou tibiezas" do trabalho do anterior governo.
Um dos principais colaboradores de Pedro Passos Coelho, conselheiro político no anterior governo, Miguel Morgado, atacou esta madrugada de sexta-feira a "estratégia" de Rui Rio.e assumiu que não tem "confiança" na direção política do partido, O deputado social-democrata, que já assumiu que também poderá vir a disputar a liderança do partido, censurou o "recentramento" do PSD."Significa, na prática, a assimilação total do nosso partido, da nossa identidade pelo PS. Este PS não serve este país e a única razão do PSD é servir o país e não o PS".
Miguel Morgado insistiu, numa crítica direta a Rio, que convidou quem discorda estruturalmente da estratégia seguida a sair do partido:"Nós não somos socialistas, faz parte da nossa identidade federar as diferenças, não é criar um clima de indesejáveis. Ora é essa a estratégia que tem sido seguida e da qual me demarco totalmente porque isso é sinónimo de definhamento do partido". Com RSF