Hotéis e restaurantes preocupados com cancelamentos para o Natal e Ano Novo

​​​​​Com a variante Ómicron a ganhar terreno em Portugal e um pouco por toda a Europa, o setor já enfrenta cancelamentos de almoços e jantares e quebra de reservas.
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O setor do turismo em Portugal, que no verão viu sinais de retoma, está preocupado com os cancelamentos para os próximos dias. Contavam com o Natal e Ano Novo para ter um pouco de oxigénio para aguentar o primeiro trimestre, esperando que a Páscoa de 2022 fosse já de normalidade. Mas, pelo segundo ano, a quadra natalícia e o Ano Novo vão ser vividos um pouco por toda a Europa com renovados receios em torno da pandemia. Se em 2020, a vacinação não era uma realidade disseminada, o que levantava preocupações quanto à propagação do vírus e geração de doença grave, em 2021 o surgimento de uma nova variante, a Ómicron, fez novamente soar as campainhas de alerta. Vários governos decidiram aplicar medidas para tentar controlar a pandemia, desincentivando o ajuntamento de pessoas e a mobilidade.

Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), reconhece ao DN/Dinheiro Vivo que os hotéis em Portugal estão a sentir "bastante" os efeitos quer da propagação da Ómicron, quer das restrições aplicadas pelo governo português à entrada no país. Os efeitos estão a ser sentidos "sobretudo com os turistas estrangeiros. Estávamos a sentir um retorno destes turistas, sobretudo nos grandes centros urbanos, no entanto as novas medidas agora em vigor, não só em Portugal, mas em toda a Europa, e no mundo, mais a obrigatoriedade de apresentação de testes à entrada e saída de Portugal e em vários locais, entre eles os hotéis e restaurantes, interromperam este princípio de retoma".

As operações das unidades hoteleiras foram já afetadas, confirmando a responsável que "já houve cancelamentos, sobretudo nos jantares e almoços de Natal, quer de famílias quer de empresas. Acresce que a procura para este período também diminuiu e ocorreu uma quebra nas reservas".
A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) também está a receber a mesma reação. Ainda a ouvir os associados e, por isso, sem números ainda fechados que permitam traçar um retrato fiel, Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, assume que "logo que foram anunciadas novas regras sanitárias a 1 de dezembro tivemos, imediatamente, relatos de cancelamentos de jantares de grupo e de Natal. A "confiança" e a "previsibilidade" são determinantes e sempre que há regras mais restritivas, o efeito imediato é negativo".

"Estes efeitos assumem ainda maior impacto nesta época porque, como sabemos, o Natal e o Ano Novo são tradicionalmente importantes para ajudar as nossas empresas nos meses de inverno, em que tipicamente a procura é menor. Contudo, como facilmente se compreende, pior seria haver limitações de horários e de lotação", como ocorreu em 2020, acrescenta Ana Jacinto.
Na Madeira, o governo regional já admitiu que houve alguns cancelamentos, mas não num número expressivo, e que a região terá uma taxa de ocupação na casa dos 90%, com muitos portugueses a rumarem ao arquipélago.

Também nas restantes regiões, e de acordo com as indicações que a AHP tem recebido, os residentes são os principais clientes a fazerem reservas, bem como espanhóis, "o chamado "mercado interno alargado", sem surpresas relativamente aos outros anos. Em Lisboa, para além de alguns mercados europeus, há também, ainda, algumas reservas do mercado brasileiro".

Os portugueses são também os principais clientes do Vila Galé nesta época festiva. "As reservas para o período de Natal e réveillon são essencialmente de clientes portugueses. Neste momento temos os hotéis praticamente completos para estas datas", diz ao DN/Dinheiro Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo. "A situação em Portugal é manifestamente diferente da situação noutros países e substancialmente melhor do que se verificou no ano passado. Como tal, o número de cancelamentos tem sido residual", afirma. No entanto, o hoteleiro nota que "em alguns mercados emissores, houve um ligeiro abrandamento das reservas para 2022".

Cristina Siza Vieira não esconde que o setor foi apanhado de surpresa com as medidas restritivas que entraram em vigor a 1 de dezembro - como a apresentação de teste negativo à covid-19 à entrada em Portugal e apresentação de certificado digital em locais com hotelaria e restauração. "Não estávamos à espera de novas restrições, as perspetivas para esta época eram razoáveis, já existiam reservas de turistas estrangeiros e a evolução da pandemia e as novas medidas vieram alterar os planos, o que é desastroso depois de dois anos de pandemia, de muitos hotéis ainda fechados e dos restantes que trabalham todos os dias para manter as portas abertas, com baixíssimas ocupações", diz.

A somar a isto, aponta, há os alertas das autoridades sanitárias de algumas regiões que desaconselharam o ajuntamento de pessoas, bem como muitas autarquias que, por precaução, optaram por cancelar os festejos públicos de Passagem do Ano. "Há situações que nos preocupam particularmente. Quer no Norte quer no Algarve, as autoridades de saúde regionais locais estão a desaconselhar "a realização de eventos que promovam a aglomeração de pessoas". Este anúncio feito esta semana já começou a trazer cancelamentos à hotelaria. Quer no Algarve, maior região turística nacional onde os cancelamentos, a continuarem, trarão grandes prejuízos à economia da região e ao país, quer no Norte", remata Cristina Siza Vieira.

E com a Passagem do Ano à porta, e muitos a quererem entrar no novo ano numa discoteca, a AHRESP alerta para a necessidade de mais testes, um requisito para a entrada nos espaços. O governo, neste fim de semana, já revelou que pretende reforçar a disponibilidade de testes. "No que diz respeito à animação noturna (bares e discotecas), a situação é mais complexa, pois temos tido conhecimento de vários constrangimentos relacionados com a dificuldade de acesso aos testes ao que acresce o encerramento destas atividades (por decreto) entre o dia 2 e 9 de janeiro de 2022", diz Ana Jacinto.

A responsável da AHRESP acrescenta ainda que "afastar as pessoas destes estabelecimentos irá ter como efeito o ressurgimento de festas em locais não controlados, com as óbvias consequências ao nível pandémico. Tememos que o problema se agrave nas próximas semanas, pelo que temos vindo a defender a disponibilização de centros de testagem".

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