Hospital de contingência poupou 753 dias de internamento a unidades de Lisboa
Foi inaugurado no dia em que o país registou o maior número de sempre de infetados com covid-19: 15 333 casos e 274 óbitos, a 23 janeiro. A região de Lisboa e Vale do Tejo era a que estava sob maior pressão com a terceira vaga da pandemia e só nesse dia tinha somado 6135 casos e 122 óbitos. Assim que abriu as portas começou a receber doentes infetados, mas estáveis, apesar de necessitarem de cuidados.
No início, a estrutura hospitalar de contingência - ou hospital de contingência -, instalada no Estádio Universitário de Lisboa, tinha capacidade para cerca de 60 camas. Um mês depois, está prestes a mudar para outro pavilhão do mesmo estádio, que é maior e com outra arquitetura, para poder integrar mais camas e mais doentes, explicou ao DN o coordenador da unidade, António Diniz.
Para este médico pneumologista do Hospital Pulido Valente, o balanço de pouco mais de um mês "é muito positivo. Neste período, tratámos 148 doentes, o que significa que poupámos cerca de 753 dias de internamento aos hospital da região de Lisboa e Vale do Tejo".
O médico, que também viveu a experiência da doença ao ser infetado pelo SARS-CoV-2, em setembro do ano passado, justificou a abertura da unidade com "dois objetivos majors. O primeiro porque permite auxiliar os hospitais numa situação de grande afluxo de doentes às suas instalações, evitando que estes passem pela situação de deixarem de ter capacidade para conseguir internar todos os doentes. O segundo, e tendo em conta a fase que já estamos a viver, porque permite receber doentes que já não têm de estar nos hospitais, fazendo que estes possam retornar à sua atividade normal rapidamente", argumentou.
Desde o início que estão definidos os critérios de admissão dos doentes nesta estrutura. "Definimos que a estrutura só receberia doentes infetados que não tivessem critérios de gravidade. Quer isto dizer que as pessoas que aqui começaram a chegar já tinham sintomas há mais de dez dias ou que não precisavam de estar a fazer oxigénio superior a um determinado valor (quatro litros por minuto)".
Critérios ou limites que, justificou o médico, foram estabelecidos por uma questão de segurança para os doentes e para os próprios profissionais. E porquê? Precisamente porque "o grosso do corpo médico é constituído por colegas de medicina geral e familiar que ainda estão no decurso do seu internato médico e que têm de estar supervisionados por um outro colega assistente hospitalar. É uma equipa que não tem o nível de diferenciação das equipas que estão nos hospitais, nem nunca o objetivo foi que tivessem esse nível de diferenciação. Esta unidade é de retaguarda, de apoio aos hospitais, portanto funciona muito bem com uma equipa assim."
De acordo com o médico, nesta unidade funcionam diariamente cerca de 13 médicos distribuídos por três turnos de oito horas, juntamente com 20 enfermeiros, 15 assistentes operacionais e três administrativos.
Além dos dois objetivos principais, António Diniz sublinhou haver em simultâneo um terceiro objetivo, que é o da cidade de Lisboa ficar com uma unidade pronta a ser ativada em 48 ou 72 horas, em caso de outras situações pandémicas ou de catástrofe natural no futuro.
Aliás, reforçou, "a capital precisa de uma unidade de retaguarda aos hospitais para situações em que haja necessidade de se recorrer em massa aos cuidados hospitalares. De alguma forma, só o facto de os profissionais saberem que existe uma unidade destas transmite-lhes algum conforto, em vez de estarem a prestar cuidados no limite de ficarem sem capacidade de internamento".
Neste momento, e com o número de casos positivos a diminuir cada vez mais - ontem foram 691 e 38 óbitos -, o número de doentes internados nesta unidade também está a reduzir. "Estamos com 14 a 16 doentes", confirma o coordenador. Mas isto não quer dizer que deixe de funcionar. Pelo contrário, alargaram os critérios de admissão para poderem receber os ditos doentes sociais, aqueles que ainda estão infetados mas que não têm condições para regressarem a casa ou às instituições onde residem.
"Alargámos os critérios precisamente para os hospitais poderem escoar os doentes que já não necessitam de cuidados mas que não têm para onde ir, e assim regressarem mais rapidamente à sua atividade normal", justificou o pneumologista.
Até agora, a maioria dos doentes que ali foram tratados estão acima dos 60 anos. "Mas já tivemos pessoas na casa dos 30, 40 e 50 anos", relembra, sublinhando que para ele "está fora de questão baixar a guarda em relação às medidas de proteção, porque a doença não atinge só os outros, pode atingir-nos a todos, até os profissionais de saúde."