Hospitais privados fizeram mais de 15 mil cirurgias do SNS em 2020

O presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, afirmou, no entanto, que a colaboração entre o SNS e hospitais privados deveria ter sido mais intensa em 2020, face às necessidades de saúde criadas pela pandemia de covid-19.
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Os hospitais privados efetuaram mais de 15 mil cirurgias a doentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2020, ao abrigo do programa de redução de listas de espera, revelou esta quinta-feira a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP).

De acordo com o presidente da instituição, Óscar Gaspar, a colaboração entre o SNS e o setor privado de saúde no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) permitiu operar 15 284 doentes no último ano, mesmo com os "desafios muito grandes" criados pela pandemia de covid-19 em Portugal. No total, foram realizadas 167 809 cirurgias nos 119 hospitais privados do país.

"O número foi inferior ao de 2019, porque houve muita atividade que ficou por realizar e deixou de se alimentar a lista para cirurgia", explicou, acrescentando: "A missão dos hospitais privados não é alugar blocos cirúrgicos. Além dos blocos temos os nossos médicos, enfermeiros, as nossas equipas... A nossa perspetiva é que haja um planeamento adequado dos recursos, mas reconheço que estamos num momento extraordinário".

Embora tenha destacado 2020 como um "ano anormal" ao nível da assistência aos utentes, o líder da APHP notou que "os hospitais privados estiveram desde a primeira hora ao lado do SNS" e na "linha da frente" do combate à pandemia. Todavia, ressalvou a dimensão da capacidade de assistência ao nível de consultas de especialidade e de recurso aos serviços de urgência hospitalar.

"Tivemos cerca de 6256 milhões de consultas de especialidade, são cerca de 17 mil consultas por dia", precisou Óscar Gaspar, que salientou também os 820 470 episódios de urgência e os 11 943 partos realizados nas unidades privadas e as mais de 531 mil 'diárias' (internamentos).

Paralelamente, foram ainda atendidas mais de 104 mil pessoas em medicina dentária, registando-se mais de 14 mil doentes oncológicos em tratamento no último ano.

Porém, Óscar Gaspar alertou que terá de ocorrer nesta especialidade "um reforço de investimento extraordinário" devido ao número de diagnósticos que terão ficado por fazer, por causa dos constrangimentos de acesso criados pela covid-19.

"Terminámos com mais de 213 milhões de euros de investimento em 2020, é um investimento muito significativo", finalizou.

Na conferência de imprensa online, Óscar Gaspar, disse, no entanto, que a colaboração entre Serviço Nacional de Saúde (SNS) e hospitais privados deveria ter sido mais intensa em 2020, face às necessidades de saúde criadas pela pandemia de covid-19.

"Durante o ano de 2020, penso que a colaboração ficou aquém daquilo que era possível e aquém daquilo que os hospitais privados estavam disponíveis para pôr ao serviço dos portugueses. Quem decidiu, tinha poder para decidir e terá decidido com os elementos que tinha. Quem sou eu para discutir se não decidiu bem, mas a verdade é que nós tínhamos mais capacidade", afirmou.

Para o líder da APHP, essa situação foi evidente na preparação do outono e inverno, quando a Direção-Geral da Saúde (DGS) apresentou em setembro o respetivo plano para esse período.

"Dissemos desde a primeira hora que parecia que era um plano apenas e só SNS. Quando se perspetivava que teríamos um inverno complicado, entendíamos que, em termos de planeamento, os hospitais privados também deviam ser envolvidos. A verdade é que depois, em dezembro, janeiro e fevereiro, quando a situação esteve pior no país e no SNS, os privados responderam afirmativamente e deram tudo o que podiam dar", frisou.

Óscar Gaspar sublinhou que o reconhecimento da importância do setor privado da saúde acabou por chegar "há algumas semanas" pelo primeiro-ministro, quando António Costa disse que a capacidade de diálogo e de trabalho em conjunto tinha sido "extremamente importante", bem como pela ministra da Saúde, Marta Temido, que considerou que os diversos intervenientes do sistema de saúde deveriam trabalhar "ombro a ombro".

E destacou: "Foi a capacidade de nos entendermos e procurarmos soluções que nos permitiu resolver o problema da covid-19 em fevereiro e olhar de forma mais confiante para o futuro".

Com 900 camas contratualizadas com o SNS e que entre janeiro e fevereiro atingiram um pico de ocupação (incluindo 300 doentes covid), o "nível de utilização diminuiu" nas últimas semanas, reconheceu Óscar Gaspar, que adiantou que "neste momento, não há necessidade de os doentes covid do SNS estarem nos hospitais privados". Contudo, rejeitou que haja um benefício para os privados com uma maior 'folga' na ocupação das camas contratualizadas.

"Para afastar qualquer fantasma sobre isso, o SNS contratualiza, mas só paga aquilo que utiliza. Não se pense que contratualizou as 900 camas e está a pagar as 900 camas. O SNS paga de acordo com a utilização que é feita e a necessidade que existe a cada momento", reiterou, sem deixar de lembrar a "pressão imensa" que a pandemia colocou sobre o sistema de saúde.

Já sobre o processo de vacinação dos profissionais dos hospitais privados, que registam mais de 15 mil médicos, mais de sete mil enfermeiros e mais de seis mil auxiliares de ação médica, o presidente da APHP assumiu que houve "altos e baixos", mas disse que o processo evoluiu em março, fruto de um "diálogo positivo" com a 'task force', e que "80% dos profissionais de saúde tidos como prioritários no combate à covid estão vacinados com a primeira dose".

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