Honra e glória conquistadas após forte susto com... uma onda

Destacamento de Fuzileiros Especiais 7 celebra os 50 anos da receção com honras de Estado, no rio Tejo, após dois anos na Guiné
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O Destacamento de Fuzileiros Especiais 7 (DFE7) foi uma das unidades mais condecoradas na Guerra Colonial, pela bravura e resultados das operações realizadas na Guiné, entre 1966 e 1968. Mas o que colocou os seus 75 militares à prova, de forma algo violenta e logo na primeira operação, não foram emboscadas ou trocas de tiros: foi um fenómeno natural, conhecido como Macaréu e que é uma onda enorme causada pelo choque das águas do mar com as do rio.

Nessa "operação difícil" no rio Corubal em julho de 1966, um mês após a chegada do DFE7, "a unidade foi logo posta à prova de uma forma um pouco violenta", recorda o então terceiro oficial Mendes Fernandes, futuro imediato do destacamento e que cumpriu três comissões seguidas num território também conhecido como "Vietname Negro".

"O Destacamento, que estava numa situação de contacto muito forte com o inimigo, ouviu um barulho ensurdecedor" - cuja existência não fez parte da exigente recruta dada àquelas forças especiais, conta Mendes Fernandes. O que se passou foi "uma coisa ensurdecedora e que a todos assustou um bom bocado", mais até do que "as situações de combate muito perto e com o inimigo muito bem estruturado", lembra o agora capitão-de-mar-e-guerra na reforma.

Em Setúbal, o comandante Mendes Fernandes fala ao DN sobre as cerimónias com que hoje celebram, na Escola de Fuzileiros, os 50 anos da chegada do DFE7 a Lisboa - no dia 30 de abril de 1968 e com um cerimonial único junto à fragata Diogo Gomes: honras de Estado ao lado do Tejo, com a presença do chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Reboredo e Silva. "O DFE7 foi uma unidade única" e que regressou à então Metrópole com todos os seus membros, em que menos de metade ainda estão vivos (ver caixa), diz o seu segundo-comandante.

Três louvores coletivos e 73 individuais, três medalhas de mérito militar e três de valor militar, duas de serviços distintos, nove cruzes de guerra individuais e uma cruz de guerra coletiva foram as condecorações conquistadas pelos militares do DFE7 entre 11 de junho de 1966 e 23 de abril de 1968. Sete dias depois, na cerimónia de receção, ouviram o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Roboredo e Silva, declarar: "O vosso esforço e sacrifício, a energia despendida, o vosso valor e coragem na defesa do território nacional dão-vos o direito a regressar cobertos de prestígio e de glória e, acima de tudo, com a consciência do dever cumprido."

No meio das memórias, Mendes Fernandes - condecorado com a medalha de valor militar com palma "por ter prestado serviços de carácter militar relevantes e extraordinários em campanha e por cometido atos de heroísmo, abnegação e coragem, com grave risco de vida" - indica que as cerimónias na Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro (Barreiro), começam com a deposição de uma coroa de flores junto ao monumento de homenagem aos mortos em combate, a que se segue a celebração de uma missa em memória desses militares e a visita ao Museu do Fuzileiro, acabando com um almoço e depois lanche.

"Apanhámos a guerra no seu máximo", pois o PAIGC "tinha unidades quase como as nossas", assegura Mendes Fernandes, até porque vivia-se um período em que "os resultados não eram aquilo" que os responsáveis militares esperavam e queriam. "Havia muitas operações mas sem resultados palpáveis, resultados concretos, face ao inimigo que estava cada vez mais pujante, mais bem armado."

Com o DFE7 organizado em dois grupos de assalto, as operações anfíbias começavam "com um desembarque" depois da meia-noite e posterior reembarque na tarde do mesmo dia. "Eram normalmente golpes de mão" sobre as bases do inimigo e não operações de "reconhecimento ofensivo". Certo é que as operações executadas ao longo dos dois anos de comissão num território geográfica e climaticamente hostil, permitiram alcançar "resultados extraordinários" - e que competiam com os dos homens de Alpoim Calvão, o homem que planeou e executou a famosa Operação Mar Verde.

O armamento apreendido, da ordem das várias toneladas, incluiu morteiros, lança-granadas foguete, metralhadoras ligeiras e pesadas, espingardas automáticas, pistolas metralhadoras, munições, pistolas ou, por exemplo, granadas.

"Ser sensato, equilibrado, corajoso" foi fundamental mas, sem "a sorte", o DFE7 não teria alcançado os resultados operacionais que constam dos relatórios e serviram de fundamento para os muitos louvores e palavras públicas de reconhecimento das chefias militares. Para isso, garante Mendes Fernandes ao DN, "o tiro instintivo" para acertar no inimigo "foi o segredo" do destacamento.

Quanto às operações com que o DFE7 se cobriu de honra e glória, embora algumas com pouco reconhecimento oficial por rivalidades internas no Corpo de Fuzileiros Especiais, Mendes Fernandes elenca várias: Eridanus, Chalupa, Cametonco, Cumbamori, Touro...

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