Histórias das maiores goleadas nos clássicos entre leões e dragões
Aí está o primeiro clássico da I Liga 2020-21. Sporting e FC Porto defrontam-se em jogo a contar para a 4.ª jornada, neste sábado (20.30) num Estádio José Alvalade vazio, por causa da pandemia de covid-19. Será a 173.ª vez que as duas equipas se defrontam para o campeonato nacional, sendo o domínio dos dragões evidente nos tempos mais recentes - venceu cinco e empatou duas vezes nos últimos sete encontros. Para se encontrar um triunfo leonino é preciso recuar mais de quatro anos...
Ainda assim, os clássicos entre Sporting e FC Porto têm tido resultados com diferenças de um ou dois golos, bem diferente do que aconteceu nas duas maiores goleadas registadas e que remontam praticamente aos primeiros anos de existência do campeonato nacional. A maior goleada de sempre aconteceu no Campo do Ameal, antiga casa do FC Porto, que no dia 22 de março de 1936 despachou o Sporting com um inacreditável 10-1. As páginas do DN noticiavam o feito dos dragões como tendo sido algo de "sensacional".
Contudo, a proeza acabou por ser a consequência natural de, naquela altura, não ser permitido fazer substituições. Afinal, após os 30 minutos, quando o FC Porto vencia por 2-1, o Sporting viu o guarda-redes Artur Dyson lesionar-se, o que obrigou o treinador leonino, que também era jogador, o romeno Wilhelm Possak, a mandar o avançado Rui Carneiro para a baliza, ficando assim com apenas dez jogadores em campo.
A decisão revelou-se um desastre já que, como escreveu o DN, o guarda-redes improvisado "não teve recursos para opor aos avançados portuenses e evitar as invulgares proporções que a derrota tomou".
A juntar à infelicidade de Dyson, os leões já tinham iniciado este clássico sem o seu melhor jogador, o atacante Manuel Soeiro. Aos 17 minutos, já o FC Porto vencia por 2-0, mas o jogador-treinador Possak deu alento aos leões, minutos antes da lesão do guarda-redes, que perdeu os sentidos ao levar com a bola na cabeça. A seguir foi um acumular de golos portistas, com destaque para os quatro de Carlos Nunes e os três de Pinga.
Esta derrota leonina só não teve piores consequências porque, à mesma hora, o Benfica empatou em Setúbal, pelo que perdeu apenas um ponto para os encarnados, que se isolavam assim na liderança do campeonato. Beneficiou, portanto, o FC Porto treinado pelo húngaro Ferenc Magyar, que reduzia o atraso para os rivais, pois ficava a um ponto dos leões e a dois da liderança, ocupada pelo Benfica, que viria a sagrar-se campeão.
A vingança do Sporting foi servida na época seguinte, a 4 de abril de 1937, no Campo Grande. Desta vez, o Sporting treinado por Joseph Szabo, um húngaro naturalizado português, já podia contar com o goleador Soeiro. E, conta a edição do DN, que a primeira meia hora de jogo até fora de interesse "muito reduzido", apesar de a equipa da casa dominar o FC Porto, que tentava explorar o contra-ataque.
Só que nos últimos 15 minutos do primeiro tempo, o Sporting teve o primeiro de "dois momentos fulgurantes". Abriram o marcador aos 33" por João Cruz e ao intervalo já venciam por 3-0. O segundo momento de vendaval leonino surgiu nos primeiros minutos do segundo tempo, com mais quatro golos de rajada, de nada valendo o canto direto de Pinga, que serviu para o FC Porto, treinado pelo austríaco François Gutkas, marcar o golo de honra.
Os dois últimos golos surgiram já nos instantes finais, ambos por Soeiro, que finalizava a partida com um póquer, enquanto Cruz abandonava o estádio do Campo Grande com um hat trick.
Tinha sido uma resposta do Sporting à goleada sofrida um ano antes. "O Porto terá ficado com um golo à maior, mas não se pode ufanar por isso", pode ler-se nas páginas da edição do DN, lembrando que "a expressão dos números e a alegria ou a mágoa que eles terão causado é que conta para a história". E, nesse sentido, é apontado o dedo à "crise" que nesse campeonato tinha remetido o FC Porto para "uma posição secundária".