Heróis: "Gorbachev e Mandela por terem feito o que deveria ser e não o que seria previsível"
A sua virtude preferida?
Coragem. Como nos ensina Aristóteles, sem ela as outras não lançam raízes.
A qualidade que mais aprecia num homem?
A aliança entre inteligência e humildade.
A qualidade que mais aprecia numa mulher?
A mesma aliança, e a superior capacidade de perceber que o diabo se esconde nos detalhes.
O que aprecia mais nos seus amigos?
A sua paciência para comigo. A capacidade de retomar o fio da amizade, como se o tempo fosse sempre o "agora".
O seu principal defeito?
Com horror ao ressentimento, tendo a esquecer demasiado as ofensas e danos. O que, por vezes, não é prudente.
A sua ocupação preferida?
Não sentir passar o tempo quando se aprende e discute com gente que morreu há séculos. Gente com muito talento e pouca pegada ecológica.
Qual é a sua ideia de "felicidade perfeita"?
A felicidade é sempre imperfeita. Schopenhauer tinha razão quando nos alertava para que a felicidade chega depois das coisas negativas que, temporariamente, atenua. Por isso, a ética utilitarista, hoje dominante, está condenada ao fracasso.
Um desgosto?
Ter perdido quem nos acolheu no mundo, ou a perspetiva assustadora de ficarmos por aqui, mesmo depois daqueles a quem abrimos as portas da vida.
O que é que gostaria de ser?
Ser eu mesmo, o melhor possível. Como diz o ditado: "todos os outros lugares já estão ocupados".
Em que país gostaria de viver?
Só sairia de Portugal empurrado pelas baionetas ou pela miséria.
A cor preferida?
Hesito entre o Azul e o Verde: Mar e Floresta.
A flor de que gosta?
Aquelas que crescem livremente nos campos.
O pássaro que prefere?
Todos, mas estremece-me o coração com o regresso primaveril das andorinhas ou o bater do bico das cegonhas na torre da Igreja da minha infância.
O autor preferido em prosa?
Eça de Queiroz e o seu irmão brasileiro, Machado de Assis.
Poetas preferidos?
O saudoso Ruy Belo, Antero de Quental (tenho os sonetos na banca de cabeceira), a lírica camoniana.
O seu herói da ficção?
O Candide, de Voltaire, ou o Winston, de George Orwell. São da família do D. Quijote, de Cervantes.
Heroínas favoritas na ficção?
A Antígona. Tanto a de Sófocles, como a de Jean Anouilh (1944).
Os heróis da vida real?
Gorbachev e Mandela, por terem feito o que deveria ser e não o que seria previsível. A multidão de heróis anónimos que fazem por manter o mundo como um sítio decente, apesar da deriva dos poderosos.
As heroínas históricas?
Hannah Arendt, que estamos agora a perceber. Rachel Carson, fez uma revolução na compreensão da crise ambiental com o livro, A Primavera Silenciosa (1962). Elinor Ostrom, a Nobel da Economia dos bens comuns (2009). Em Portugal, Maria de Lourdes Pintasilgo, por tudo o que foi e fez.
Os pintores preferidos?
Turner, Hooper, mas também os contemporâneos portugueses que contemplo em casa, o Eduardo Carqueijeiro, a Maia Horta.
Compositores preferidos?
Bach, Beethoven, Mahler, Erik Satie,
Os seus nomes preferidos?
Maria, Margarida, Rodrigo.
O que detesta acima de tudo?
Os otimistas profissionais. São os mercenários do século XXI.
A personagem histórica que mais despreza?
Estaline. Nem os seus camaradas escaparam à sua sede de sangue.
O feito militar que mais admira?
Voltaire dizia que a história moderna começava com Vasco da Gama. Mas sem a invenção portuguesa da batalha naval moderna, com o uso autónomo da artilharia, o regresso dos europeus à Índia, 1 800 anos depois de Alexandre, não teria acontecido.
O dom da natureza que gostaria de ter?
Melhor visão.
Como gostaria de morrer?
Causando o mínimo transtorno aos que se sentiriam no dever de me amparar, caso a morte fosse um processo lento.
Estado de espírito atual?
Realista não resignado.
Os erros que lhe inspiram maior indulgência?
Aqueles que nascem da generosidade e da sede de saber.
A sua divisa?
Entre nascer e morrer há uma vida para viver.