"Há um setor embrionário de empresas do espaço"

Entrevista a Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que lembra aposta na ESA
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Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior considera que a participação em grandes projetos internacionais é o caminho do futuro para o setor aeroespacial no país e dá o exemplo do retorno do envolvimento com a Agências Espacial Europeia e dos projetos para um AIR Center (centro de investigação) nos Açores, onde poderá ser construído um pequeno lançador de satélites.

Vivemos numa era em que o esforço de desenvolvimento de novos produtos e tecnologias é muitas vezes um esforço de conjunto de diversos países. Portugal pode tirar partido desse contexto para se afirmar em alguns setores, nomeadamente no Aeroespacial?

Claro que sim. É a única possibilidade. Mas temos resultados concretos: a participação de Portugal na Agencia Espacial Europeia (ESA), nos últimos 20 anos, mostra bem aquilo de que beneficiámos. Conseguimos retirar de lá, em termos quantitativos, muito mais do que pomos na ESA. E se hoje temos já um setor, ainda embrionário, de empresas do espaço, deve-se a esse investimento. Hoje, o setor do espaço em Portugal fatura, sobretudo em projetos com a ESA, cerca de 40 milhões de euros. É ainda pouco mas é um sinal de que o esforço foi recompensado. E é um setor que hoje emprega cada vez mais profissionais.

E além da ESA, é importante alargar a participação a outros consórcios, não só ao nível do espaço mas da aeronáutica em geral?

Um país com dimensão média ou pequena, como Portugal, tem de fazer parcerias estratégicas. E estamos a fazê-lo com outros países, nomeadamente no Atlantic Air Center...

... o projeto que envolve os Açores e um eventual centro espacial.

O objetivo é integrar tecnologias do espaço com tecnologias oceânicas e do clima, e dá novas oportunidades, quer científicas quer económicas, sobretudo para a integração de projetos empresariais, trazendo também esforços de diversos países e regiões do Norte e do Sul, para criar uma nova organização do Atlântico em que possamos partilhar o risco com outros, em que o espaço assume uma dimensão na questão dos oceanos. Investir no oceano é muito caro. Há muita coisa que pode ser feita com as novas tecnologias, as novas tecnologias do espaço. Hoje temos, devido à capacidade de miniaturização da tecnologia, a possibilidade de lançar pequenos satélites, nano satélites, e criar pequenas constelações de pequenos satélites, para uma série de fins. Outros países mais pequenos como o Luxemburgo estão a investir e fizemos um acordo com esse país na indústria do espaço.

O projeto dos Açores prevê um pequeno lançador de satélites, quando a tendência da indústria é usar grandes lançadores para reunir muitos satélites num lançamento. Há viabilidade?

Essa é uma das potenciais utilidades mas o Air Center não tem de ser uma infraestrutura espacial. Tem de ser sobretudo um centro com pessoas, para atrair pessoas para trabalharem na observação da Terra. Pedimos estudos à Universidade de Austin, à Fundação para a Ciência e a Tecnologia e à Agência Espacial Europeia para termos as diferentes perspetivas. Há muitas incertezas mas também muitas oportunidades e estamos a tentar estar atentos para, no próximo ano, avançarmos com uma estratégia clara para o espaço.

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