"Há quem tenha todo o seu percurso profissional num "call center""

Manuel Afonso pertence à direção do Sindicato dos Trabalhadores de Call Center. Tem 31 anos e trabalha há mais de sete anos na Teleperformance. É o exemplo de que esta não é uma profissão para entrar no mercado de trabalho e de curta duração. O Parlamento discute esta quinta-feira as suas condições laborais
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O Sindicato dos Trabalhadores de Call Center lançou uma petição em 2015 e entregou um ano depois à Assembleia da República, contando atualmente com mais de seis mil assinaturas. Está nesta quinta-feira em debate parlamentar, depois de ter sido discutida na Comissão de Trabalho e Segurança Social. Manuel Afonso, da direção do Sindicato dos Trabalhadores de Call Center justifica que há quem tenha trabalhado toda a vida num call center, que a média de idades são os 35 anos, e com salários baixos. Reivindicam o estatuto de profissão de desgaste rápido; o máximo 75% do horário laboral em linha por jornada de trabalho e o direito seis minutos (10%) de intervalo por cada hora a atender o telefone.

Têm esperança que a petição dê lugar a propostas legislativas?

Infelizmente não. Soubemos por terceiros que não havia essa vontade por parte dos partidos, que não o disseram pessoalmente nem responderam à nossa carta. Enviámos uma carta a cada um dos partidos da Assembleia da República para os sensibilizar para a situação dos trabalhadores dos call center, mas também para esclarecer que damos destaque ao facto desta ser uma profissão de desgaste rápido, mas estamos abertos a outras propostas. O debate não se inicia nem termina com a questão do desgaste rápido. Há outras medidas que poderiam ser tomadas e não teriam qualquer custo para o Estado.

.Reuniram com os grupos parlamentares?

Reunimo-nos com deputados do Bloco de Esquerda, PCP, Verdes e CDS, mas tivemos contactos mais aprofundados com o BE e o PCP.. A vantagem é que a petição vai lançar o debate a nível nacional e envolver toda a sociedade na discussão sobre a redução do horário de trabalho dos cal center. E pretendemos mobilizar os trabalhadores para esta campanha, têm que perceber que passa por eles não deixar estas questões nas mãos dos deputados. Este é também um apelo à mobilização.

O que é que tem sido feito a nível internacional?

Há países que reduziram o horário de trabalho sem que isso implique a redução do salário. Por exemplo no Brasil e na Itália há um horário de seis horas com uma remuneração de um horário de oito (um horário a tempo completo). Em Espanha, as pausas estão regulamentadas. Propomos o aumento do número de intervalos, a diminuição do tempo em linha e, mesmo que tenhamos uma jornada de oito horas, estas não têm que ser todas ao telefone. Há outras funções que se podem desempenhar, como o trabalho de back office (e-mails) ou monitorização de qualidade. É, também, importante fazer formação, o que é totalmente descurada nos call centers e é uma fonte de stress. As tecnologias evoluem e os trabalhadores não são preparados.

Esta é uma profissão de jovens e com muita rotatividade?

Há bem menos rotatividade do que já houve e menos do que se espera. A média de idade dos sócios do STCC é 35 anos e que estão em média há sete anos e meio nesta profissão, o que significa que fizeram todo o seu percurso profissional num call center.

Quais são as principais queixas que chegam ao sindicato?

São três as principais: o assédio moral, a Incompatibilidade da vida laboral com a vida familiar e os salários baixos.

Quanto é que ganha o trabalhador de um call center?

A nossa perceção é que é muito raro um trabalhador do call center que fale só português - um português ou um brasileiro - ganhar acima dos 600 euros mensais, alguns ganham 550 euros. Os naturais de Alemanha, Holanda, do Reino Unido, de Espanha ou de Itália, os que falam línguas estrangeiras, ganham mais mas sempre abaixo do que receberiam no país de origem. Mas, por exemplo, os venezuelanos ganham menos do que os espanhóis embora falando a mesma língua porque se tiverem problemas não podem regressar à Venezuela.

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