Há mais turbulência quando viaja de avião? A culpa é das alterações climáticas

Um estudo de uma universidade do Reino Unido indica que a turbulência tem crescido e continuará em crescimento, afetando a segurança dos voos, mas também os gastos relativos às viagens.
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As alterações climáticas estão a mudar a qualidade de vida humana e animal, a aumentar as vagas de calor, a gerar mais incêndios e secas, mas também a chuvas mais intensas e inundações. E não só. De acordo com um estudo da Universidade de Reading, no Reino Unido, publicado na revista científica Nature, estão também a mudar a qualidade das viagens de avião, tornando os voos mais turbulentos.

Segundo a investigação, as alterações no clima estão a fortalecer as "tesouras de vento verticais em altitudes de cruzeiro", que resulta numa maior instabilidade no voo e, consequentemente, em mais "turbulência de ar limpo". Um tipo de turbulência dificilmente detetada por radares ou aparelhos e que os pilotos não podem prever. Embora a companhia norte-americana Boeing garanta estar a desenvolver uma solução que permita a deteção desta turbulência, de forma a auxiliar os pilotos, de acordo com o The Guardian.

O estudo avança que a turbulência tem prejuízo direto para as transportadoras norte-americanas, na ordem dos 177 milhões de euros. E prevê-se que o problema aumente. Após terem recorrido a diversas simulações, tendo por base a análise de comportamentos de voo, tráfego aéreo e condições climáticas previstas, os investigadores ingleses concluíram que, entre 2050 e 2080 a agitação aérea pode mesmo aumentar 181% sobre o Atlântico Norte, 161% sobre a Europa, 113% sobre a América do Norte, 92% sobre o Pacífico Norte e 64% sobre a Ásia.

Mas as conclusões não surpreendem. Já em 2013 se tinha identificado uma relação direta entre a turbulência e o aquecimento global. Na altura, a análise concluiu que, no inverno, nas rotas transatlânticas, "a maioria das medidas de turbulência mostravam um aumento de 10 a 40% na força média da turbulência e de 40 a 170% na frequência de ocorrência da mesma".

O impacto destas mudanças nos voos pode ir além de uma viagem mais tremida. Tal terá também consequências para os custos das viagens. Com a crescente turbulência, os pilotos terão de fazer desvios na rota, o que implicará mais gasto de combustível e mais tempo de viagem. Consequentemente, os preços dos bilhetes de avião podem mesmo aumentar.

Ao nível da segurança, é pouco provável que um avião sofra uma queda devido à turbulência, o que não significa que cause acidentes. Em julho, por exemplo, um voo da Air Canada com destino a Sydney foi desviado para o Hawai depois depois de 30 passageiros terem ficado feridos no seguimento de momentos de turbulência durante o voo. "Algumas pessoas sem cinto voaram e bateram com as cabeças no teto. Foi muito intenso", descreveu um passageiro à estação de televisão de Honolulu. Em março, também 29 pessoas saíram feridas de um voo da Turkish Airlines pelos mesmos motivos. Em junho, o mesmo repetiu-se num voo do Kosovo para França.

O impacto geral acontecerá "silenciosamente", afirma um dos coautores do estudo, Paul Williams. "A mudança está a acontecer silenciosamente, bem acima de nossas cabeças, nos últimos 40 anos, e passou despercebida até agora. Isso faz-nos pensar o que mais ainda não sabemos sobre como a mudança climática está a alterar a circulação atmosférica global", sublinhou.

Atualmente, a indústria da aviação é responsável por cerca de 2% das emissões globais de CO2 e uma das causas poluentes em crescimento.

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