Há mais alunos a irem para a escola de autocarro em Lisboa
O automóvel voltou a ser no ano passado o principal meio de transporte nas deslocações entre casa e escola dos alunos entre o 1.º e o 12.º anos em Lisboa - sendo o peso mais visível entre aqueles que frequentam o ensino privado, mais do dobro em relação ao público -, apesar de registar o valor mais baixo de utilização desde 2019, de acordo com os dados do projeto Mãos ao Ar! da Câmara Municipal de Lisboa relativos a 2022.
"De uma forma geral, os resultados de 2019 a 2022 apresentam valores bastante semelhantes de repartição modal. No entanto, relativamente aos resultados de 2022 face aos anos anteriores, verifica-se uma ligeira tendência de diminuição do uso do automóvel que aparenta ter sido transferido, sobretudo, para o uso do autocarro, que foi o modo que apresentou maior variação positiva", pode ler-se o relatório a que o DN teve acesso. "A utilização da bicicleta continua a denotar uma tendência de ligeiro crescimento, em contraste com o modo "a pé" que sofreu uma diminuição, com menos estudantes das escolas públicas a optar pela utilização deste modo. Os restantes não apresentam variações de realce, em comparação com anos anteriores".
Na edição relativa a 2022 do Mãos ao Ar!, das 231 escolas abrangidas, participaram 158 (68%) - 119 escolas públicas (75%) e 39 privadas (25%). Relativamente ao número de alunos, participaram neste ano 38 996 estudantes (50% da população escolar do 1.º ao 12.º ano), correspondendo a 27 061 alunos do ensino público (69%) e 11 395 do ensino privado (31%).
Um dos dados mais significativos em 2022 tem a ver com a utilização do automóvel, que continua a ser a o meio de transporte mais utilizado pelos alunos de Lisboa (45,4%), mas abaixo dos anos anteriores - 48,2% em 2021, 51,4% em 2020 e 48,6% em 2019. Este decréscimo é ainda mais notório quando se fala apenas dos alunos que frequentam escolas do ensino privado - 72,3% em 2022, 78,9% em 2021, 75,2% em 2020 e 78,4% em 2019.
Esta quebra nas viagens de automóvel é acompanhada por uma subida do uso do autocarro nas idas para a escola, de 14,1% em 2021 para 17,2% no ano passado. Subida essa que se regista tanto nos alunos do ensino público - 19,6% em 2021 e 22,5% em 2022 -, como do privado - 1,9% em 2021 e 5,1% em 2022.
As deslocações a pé continuam a ser a segunda forma preferida de deslocação, sendo a escolhida por 24,5% dos alunos das escolas de Lisboa, mas registam uma quebra em relação ao ano anterior (25,8%), para a qual contribuiu o facto de menos estudantes do público a apontarem como escolha - 29,3% em 2022 e 32,1% em 2021. Mesmo assim, entre os alunos do privado, mais começaram a ir a pé para a escola - 13,6% em 2022 e 11,7% em 2021.
Apesar de programas como o Comboios de Bicicleta, as "duas rodas" apresentam um crescimento, mas ainda residual, com apenas 1,7% a preferirem ir a pedalar para a escola no ano passado. Em 2021, tinham sido 1,5%.
"Analisando os resultados, tendo em conta o grau de ensino dos alunos, verifica-se, mais uma vez, que com o aumento da idade dos alunos, a dependência do automóvel vai diminuindo (exceção para a passagem do 1.º para o 2.º ciclo, onde os valores de utilização do automóvel aumentam ligeiramente). No caso dos alunos do secundário, a utilização dos transportes públicos nas deslocações para a escola é superior à utilização do carro", refere o relatório Mãos ao Ar! 2022. "Analisando a repartição por ciclo de ensino e tipo de ensino (público/privado), verifica-se que existe menor variabilidade entre níveis no caso do ensino privado, marcado por uma grande utilização do automóvel, apesar de se verificar uma diminuição significativa no uso do automóvel do 3.º ciclo para o ensino secundário".
Quando se olha para os meios de transporte usados ao nível das freguesias, o top 3 dominante são automóvel, autocarro e viagens a pé. Os trajetos de carro para a escola são reis indiscutíveis nas freguesias da Estrela (63,3% dos alunos), Lumiar (61,5%) e Parque das Nações, enquanto o autocarro é o favorito nas Avenidas Novas (37,9%) e Penha de França (25,5%). As deslocações a pé dominam nas freguesias de Santo António (44,6%), Carnide (42,7%), Areeiro (42,2%), Ajuda (40,2%), São Vicente (39,1%), Santa Maria Maior (34,6%) e Misericórdia (24,6%).
Freguesias como Avenidas Novas (23,7%), Santa Maria Maior (18,5%) e Areeiro (11,5%), distinguem-se por serem as únicas onde o metro surge como um dos três meios de transporte mais utilizado nas viagens para a escola, sendo que nas duas últimas este ocupa o lugar do autocarro. As Avenidas Novas são a única freguesia de Lisboa onde o automóvel no está no top 3.
Belém e Parque das Nações são também casos peculiares - a primeira é a única freguesia onde o comboio é um dos três meios de transporte mais usados pelos estudantes (7%) no lugar das idas a pé e a segunda a única onde a bicicleta surge no top 3 (4,5%) tirando protagonismo ao autocarro.