Há festa italiana na Filmin (com o melhor cinema)
Esta seria uma edição da Festa do Cinema Italiano imbuída de um particular espírito de celebração e toque de magia: é o ano do centenário de um dos seus grandes mestres, Federico Fellini. Dizemos "seria" apenas como força de expressão. A Festa foi adiada, mas a partir desta sexta-feira, e assinalando a data em que o evento começaria em Lisboa (com extensão a outras cidades), é possível descobrir mais de cem títulos da cinematografia italiana... em casa; que é como quem diz, num canal criado na plataforma Filmin [https://www.filmin.pt/].
Para além de Fellini, de quem poderão ser revisitadas várias obras essenciais, de La Dolce Vita a Otto e Mezzo, há também clássicos de Rossellini, Visconti, Antonioni, Dino Risi, Vittorio De Sica, Ettore Scola, Marco Ferreri, entre outros. Um conjunto riquíssimo de "viagens ao passado" a que se reúne uma colheita de filmes mais ou menos recentes. É o caso do fabuloso Dogman, de Matteo Garrone, conto violento sobre um gentil tratador de cães; de Tommaso, com assinatura de Abel Ferrara, íntimo retrato do artista pelo cúmplice Willem Dafoe, que protagonizara o seu Pasolini (igualmente disponível); de Noites Mágicas, de Paolo Virzì, comédia vibrante no rasto da era gloriosa do cinema italiano; ou do encantador Feliz Como Lázaro, de Alice Rohrwacher, fábula milagrosa conduzida por uma personagem de bondade infinita.
Destacam-se ainda os filmes premiados em edições anteriores da Festa do Cinema Italiano, como Almas Negras, de Francesco Munzi, ou Le Cose Belle, de Giovanni Piperno e Agostino Ferreante - este último passado em Nápoles, região retratada pelos romances de Elena Ferrante, o fenómeno da literatura contemporânea que é observado no documentário A Febre Ferrante, de Giacomo Durzi.
E, numa vasta programação que contempla também títulos populares como Cinema Paraíso, de Giuseppe Tornatore, não faltam filmes de grandes veteranos. Oportunidade para ver ou rever Sonhos Cor-de-Rosa, essa ode à maternidade realizada por Marco Bellocchio, César Deve Morrer, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, o clássico do terror italiano Suspiria, de Dario Argento, e a derradeira obra de Bernardo Bertolucci, Eu e Tu, por sinal, um filme com um adolescente que mente aos pais sobre uma semana de férias com amigos a fazer esqui para se fechar sozinho na cave da casa, cruzando-se nesse lugar recôndito com a sua meia-irmã. Memorável é a cena em que os dois, abraçados, dançam ao som de Ragazzo Solo, Ragazza Sola, a versão italiana do Space Oddity de David Bowie.