Há 38 mil anos, europeus usaram técnica de Van Gogh nas suas pinturas rupestres
Serão das primeiras representações "artísticas" produzidas pelos homens modernos - o Homo sapiens - na Europa. Uma delas representa um mamute e há outras mais difíceis de interpretar, mas o novo conjunto de pinturas e gravações há pouco encontrado no abrigo rochoso de Abri Cellier, em França, é uma surpresa, sobretudo pela técnica que aqueles primeiros pintores europeus já usavam há 38 mil anos: o pontilhismo.
É a mesma técnica que os grandes mestres como Georges Seurat, Camille Pissarro ou Van Gogh utilizaram, também na Europa, mas muito mais tarde, no século XIX, para revolucionar a pintura.
"Estamos há muito familiarizados com as técnicas destes artistas modernos, mas agora podemos confirmar que esta forma de produzir imagens [através de muitos pequenos pontos] já era praticada na Europa através destas primeiras produções culturais humanas", declarou o antropólogo Randall White da Universidade de Nova Iorque, que coordenou estas escavações em Abri Cellier, citado num comunicado da sua universidade.
Publicada na revista científica Quaternary International, no final de fevereiro, a descoberta do grupo liderado por Randall White confirma, afinal, que esta técnica moderna já era usada pelos primeiros "artistas" do continente europeu.
Há 38 mil anos, a idade das pinturas inscritas nos 16 blocos de pedra encontrados em Abri Cellier pela equipa de White - a datação foi obtida por radiocarbono -, os humanos modernos estavam a expandir-se por todo o continente, depois da sua famosa migração out of Africa, levando consigo a sua marca cultural.
O refúgio rochoso de Abri Cellier é um velho conhecido sítio arqueológico dos cientistas. Foi escavado pela primeira vez em 1927, e foi ali se encontraram, na altura, vestígios de arte rupestre, num total de 15 blocos de rocha pintados, do chamado período Aurignaciano - o nome vem de Aurignac, em França, o local onde se descobriram pela primeira vez vestígios desta primeira arte produzida pelos Homo sapiens no continente europeu. Os 15 blocos desenterrados em 1927 estão hoje no museu nacional francês da Pré-História.
Randall White, especialista neste período e naquele tipo de cultura, pensou que valia a pena voltar a escavar aquele sítio que, depois de 1927, não tinha voltado a ser investigado. A sua equipa realizou as escavações em 2014 e foi nessa altura que desenterrou o novo conjunto de 16 blocos de pedras que, tudo indica, foram encontradas logo em 1927 pelos arqueólogos da época, mas foram ali deixadas por eles, enterradas. A difícil interpretação de algumas das imagens inscritas nas pedras poderá ter determinado essa atitude cautelosa por parte dos arqueólogos de há 90 anos.