Guterres: "Temos de dar provas que queremos acabar com a guerra suicida contra a natureza"
António Guterres elegeu o combate às alterações climáticas e ao aquecimento global como a "batalha fundamental das nossas vidas". Porque - disse o secretário-geral das Nações Unidas este sábado na cerimónia de abertura de Lisboa Capital Verde da Europa - "não estamos a destruir o planeta, porque ele continuará a girar à volta do sol, estamos a destruir a nós próprios, a possibilidade de aqui vivermos".
O secretário-geral da ONU, que participou na cerimónia realizada no Pavilhão Carlos Lopes, afirmou que este é um ano decisivo: "Temos de dar provas que queremos acabar com a guerra que a Humanidade lançou contra a natureza. É uma guerra suicida porque a natureza não se fica e responde de uma maneira devastadora". O exemplos, adiantou, estão à vista: seca devastadora, furacões, tufões...
Este ano haverá três grandes oportunidades para o Homem, mas sobretudo os decisores políticos, mostrarem que estão disponíveis para lutar e tomar medidas com vista a um mundo mais verde e mais sustentável: a Convenção da Biodiversidade na China, a Cimeira dos Oceanos em Lisboa e a COP 26 em Glasgow.
Oportunidades, sublinhou, para recuperar das batalhas que estamos a perder. São elas a batalha da biodiversidade , quando um milhão de espécies está em risco de extinção; a batalha dos oceanos quando se assiste à degradação das zonas costeiras, ao aumento das zonas negras sem oxigénio e ao aumento das ilhas de plástico, nomeadamente no Pacífico Ocidental, onde já são maiores que a França.
"Corremos o risco de ter mais plástico do que peixe", disse Guterres. E alertou que as partículas que plástico já entraram na água que bebemos e no ar que respiramos.
A terceira batalha que António Guterres quer ganhar ainda este ano é a das alterações climáticas e para isso aposta que a Convenção transforme o Acordo de Paris em algo real. "Ao contrário de Portugal, a emissões de carbono estão a aumentar à escala mundial", disse, acrescentando que se registam 7 milhões de mortes por ano que seriam evitáveis com um combate eficaz ao aquecimento global.
A partir de 1 de fevereiro, todos os ministros só circularão em Lisboa e na área metropolitana em viaturas elétricas, anunciou o primeiro-ministro, para assinalar simbolicamente o facto de a cidade ser Capital Verde Europeia em 2020.
"Eu tenho a experiência própria desde que fui presidente da Câmara [de Lisboa] que é possível circular exclusivamente numa viatura elétrica na cidade de Lisboa e na área metropolitana. A partir do próximo dia 1 de fevereiro, todos os ministros só circularão na área metropolitana com viaturas elétricas", disse o primeiro-ministro, António Costa, durante uma conversa com jovens no Pavilhão Carlos Lopes, inserida nas cerimónias que marcaram o arranque de Lisboa Capital Verde Europeia 2020.
Além deste "gesto simbólico", referiu, o executivo gostaria ainda de dar "uma prenda" à cidade de Lisboa e, ao longo deste ano, será assegurada a neutralidade carbónica da residência oficial do primeiro-ministro, que produz anualmente 85 toneladas de dióxido de carbono.
"É a prenda simbólica que o Governo gostaria de dar à cidade de Lisboa ao longo deste ano, mas também para servir de exemplo para todos os outros", salientou.
Quarenta das 85 toneladas de dióxido de carbono produzidas anualmente pelo edifício da residência oficial do primeiro-ministro serão compensadas através da produção local de energia, 35 toneladas através de medidas de gestão de eficiência energética e dez toneladas através do arvoredo do jardim, adiantou.
Segundo o chefe do executivo, o investimento que será feito "é totalmente recuperável nos próximos cinco anos".
"Foi, aliás, assim que o ministro das Finanças aprovou, porque não contribuirá para o défice a longo prazo do Estado português", gracejou António Costa.
O primeiro-ministro salientou ainda que estas duas medidas correspondem a exemplos que o Governo quer dar.
"É um exemplo de que se isto é possível naquele edifício, é possível em todos os edifícios, se é possível relativamente à mobilidade dos membros do Governo, é possível para a mobilidade de todos e é essa mudança que temos de fazer coletivamente ao longo dos próximos dez anos se quisermos mesmo ganhar esta batalha", reforçou.
Lisboa é a primeira capital do Sul da Europa a receber o galardão europeu, que o ano passado foi ostentado por Oslo.
(em atualização)