Guião inédito de García Márquez para obra de Juan Rulfo descoberto 60 anos depois
O Galo de Ouro (escrito entre 1956 e 1958), segundo romance do autor Juan Rulfo, inspirado num mundo de desgraça e fortuna, foi escrito com a intenção de ser aproveitado para o grande ecrã. A versão, elaborada por Carlos Fuentes e Gabriel García Márquez, dá origem ao filme, em 1964, dirigido pelo realizador mexicano Roberto Gavaldón.
A primeira versão, de dezembro de 1963, com um cariz mais literário, muito ao estilo de García Márquez, apresenta algumas diferenças tanto da versão de 1964 como da obra original de Rulfo, sobretudo no que toca à caracterização das personagens e à sensibilidade com que é abordado O Galo de Ouro.
Descoberto este novo guião - confirmado pela Fundação Juan Rulfo -, desconhecido até à data, o filho de Rulfo, Juan Carlos, explicou à agência Efe, que se trata de "um dos primeiros que 'Gabo' [como era familiarmente conhecido o autor colombiano] escreveu e não foi contemplado pelo realizador". Apesar de serem conhecidos os contributos de García Márquez e Fuentes, através dos créditos do filme que lhes atribuíam os papéis de adaptadores, até agora ninguém sabia da existência de "um guião solitário" escrito, maioritariamente, pelo autor de Amor em Tempos de Cólera.
Juan Rulfo (México, 1917-1986) "é talvez o autor sul-americano mais comentado, elogiado e imitado do século XX", escreve a editora portuguesa Cavalo de Ferro, responsável pela publicação das obras do autor, na página dedicada ao mesmo. O legado deixado pelo autor, com pouco mais de 300 páginas, é considerado o fundamento "de uma nova forma de literatura", tendo inspirado escritores como Pablo Neruda, Carlos Fuentes, Octávio Paz, Jorge Luís Borges, Juan Carlos Onetti e, por fim, García Márquez, "um dos seus mais famosos e reconhecidos devedores".
Gabriel García Márquez nasceu em Aracataca (Colômbia), a 6 de março de 1927 e morreu em abril de 2014, na Cidade do México, aos 87 anos. Nobel da Literatura em 1982 chegou ao México em 1961 e revelou, numa entrevista à agência espanhola de notícias, em 2013, um ano antes da sua morte, que se inspirou em Pedro Páramo para escrever uma das suas obras mais famosas, Cem Anos de Solidão.
A editora D. Quixote, que tem a obra do escritor editada em Portugal, define-o como a pessoa por detrás "do realismo mágico latino-americano, essencial para o reconhecimento da literatura americana em língua castelhana no resto do mundo", acrescentando que "o caráter universal da sua obra coloca-o entre os maiores escritores de sempre". No conjunto das suas obras destaca-se, ainda, Memória das Minhas Putas Tristes (2004), a sua derradeira obra de ficção.
A adaptação da obra de Rulfo vai estar disponível no próximo livro do especialista em cinema e literatura mexicana Douglas J. Weatherford, de acordo com a publicação feita pela fundação nas redes sociais. Além disso, o livro irá conter, também, o guião de adaptação cinematográfica do romance Pedro Páramo, outra obra do autor, de 1955.