Quando se declarou presidente encarregado da Venezuela, Juan Guaidó pediu o apoio do povo, dos militares e da comunidade internacional. A avaliar pela multidão que saiu à rua na quarta-feira, tem garantido o primeiro. Do estrangeiro, contou de imediato com o aval dos EUA e da maior parte do Grupo de Lima, e cada vez mais da União Europeia, mas não com o da Rússia, China, Turquia ou Cuba. Contudo, até agora, falta ao presidente encarregado o terceiro apoio, o dos militares..A hierarquia das Forças Armadas saiu em defesa do "presidente constitucional" e apelidou de "tentativa de golpe" as ações do líder da Assembleia Nacional. Mas Guaidó, que ontem deu uma conferência de imprensa diante de uma multidão em Chacao, enviou uma mensagem a todos os militares: "Irmãos é com vocês, chegou o momento de se porem ao lado da Constituição, chegou o momento de se porem ao lado do povo da Venezuela." E reiterou a proposta de amnistia, recusando dizer se há ou não diálogo com responsáveis das Forças Armadas. Pediu ainda o fim da ingerência de Cuba nesta instituição - uma acusação recorrente da parte da oposição..O apoio da hierarquia militar era algo esperado, disse ao DN o investigador para a América Latina do Real Instituto Elcano, Carlos Malamud. "Que o ministro da Defesa, Padrino Lopez, e os outros generais digam que apoiam Maduro estava no guião. Ninguém esperava outra coisa. Especialmente se tivermos em conta que a maior parte dos ministros são generais, que a maior parte dos governadores são generais, que a maior parte dos altos cargos do regime são militares", indicou.."Evidentemente os militares são bastante sensíveis às mudanças de vento e neste momento o vento está a mudar de direção. E sabem que se continuam aferrados em Maduro, não têm um caminho muito longo pela frente. A questão é saber quanto pode durar isto e quão intensa e sangrenta vai ser a transição", acrescentou o analista. Pelo menos 369 pessoas foram detidas e pelo menos 26 morreram..No último fim de semana, uma tentativa de revolta militar por um grupo de duas dúzias de oficiais, que atacaram um posto da Guarda Nacional num bairro de Caracas, foi travada pelas autoridades. O presidente encarregado já prometeu amnistia aos militares que virem as costas a Maduro - não exclui a hipótese de fazer o mesmo ao próprio herdeiro político de Hugo Chávez. Ontem, pediu aos venezuelanos que partilhem com os amigos e vizinhos militares a proposta de amnistia.."Não nos vamos cansar".Guaidó anunciou ainda que no domingo convocará nova manifestação para a próxima semana. "Em Miraflores [palácio presidencial], acreditam que este movimento se vai esvaziar, que nos vamos cansar. Mas aqui ninguém se rende. A Venezuela despertou para nunca mais dormir, mas para sonhar com a Venezuela que merecemos", disse, reiterando os próximos passos: acabar com a usurpação, governo de transição e eleições livres..À mesma hora, Maduro falava a partir do palácio de Miraflores e garantia que Guaidó está a tentar fazer um golpe de Estado "com um guião bem avançado, escrito a partir de Washington, para empurrar a direita venezuelana, encorajada pela pressão internacional". E reiterou que o seu governo vai "derrotar esta tentativa de depor o regime democrático e o Estado de direito que há na Venezuela". Anunciou ainda a realização de exercícios militares de 10 a 15 de fevereiro, com "todo o povo venezuelano convertido numa milícia"..O prazo das 72 horas dado por Maduro para os diplomatas norte-americanos deixarem o país, depois do corte de relações decretado, termina neste sábado. Ontem, funcionários que não são essenciais deixaram o país, mas os EUA não reconhecem o regime e não deverão acabar as ordens, o que deixará Nicolás Maduro num impasse sobre o que fazer a seguir..O chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, participa hoje numa reunião do Conselho de Segurança da ONU para apelar à comunidade internacional que reconheça Guaidó como presidente interino. A Rússia já disse que se vai opor à política "destrutiva" dos EUA para com países da América Latina..Maduro deixou ainda claro que não abandonou o cargo e não o vai abandonar, numa referência ao primeiro artigo da Constituição que Guaidó usou como argumento para assumir o cargo de presidente encarregado: o 233. Este diz que o líder da Assembleia Nacional deve assumir a presidência caso seja declarado "abandono do cargo" por parte do presidente, de forma a convocar novas eleições. Algo que a Assembleia Nacional considera ter havido, já que não reconheceram como válidas as eleições de maio e o primeiro mandato de Maduro acabou a 11 de janeiro..Guaidó citou ainda outros dois artigos da Constituição: o 333 e o 350. É por isso que os seus apoiantes rejeitam a ideia de que se "autoproclamou presidente" e defendem que é o líder legítimo. O 333 diz que a Constituição é a norma jurídica suprema e não pode ser derrogada de maneira indevida. Caso isso aconteça, todos os venezuelanos têm de "colaborar para o restabelecimento da sua respetiva vigência". Finalmente, o artigo 350 (e último), reconhece o direito a desobedecer a qualquer governo que vulnere a Constituição..União Europeia aumenta pressão.A União Europeia, que já não reconhecia o novo mandato de Nicolás Maduro, aumentou ontem a pressão, exigindo que este convoque eleições livres o mais rápido possível ou reconhecerão que só Guaidó o poderá fazer. "Se Maduro mantiver a intransigência e se recusar a participar nesta solução de transição pacífica, isso significa que mais ninguém poderá contar com ele, deixará de ser interlocutor válido" para a comunidade internacional, disse o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, aos jornalistas em Lisboa..Um português que vive há 25 anos na Venezuela disse ao DN, pedindo anonimato, que Lisboa deve atuar com prudência. "Qualquer decisão do governo português poderá prejudicar não só as relações com Portugal mas também da comunidade na Venezuela. Qualquer decisão que seja. Acho que a prudência e manter uma certa calma é o melhor", indicou, lembrando que há meio milhão de portugueses no país. Disse ainda que a comunidade vive esta situação como os venezuelanos, com grande expectativa, lembrando que foi muito afetada pela crise económica e pelos problemas de segurança.
Quando se declarou presidente encarregado da Venezuela, Juan Guaidó pediu o apoio do povo, dos militares e da comunidade internacional. A avaliar pela multidão que saiu à rua na quarta-feira, tem garantido o primeiro. Do estrangeiro, contou de imediato com o aval dos EUA e da maior parte do Grupo de Lima, e cada vez mais da União Europeia, mas não com o da Rússia, China, Turquia ou Cuba. Contudo, até agora, falta ao presidente encarregado o terceiro apoio, o dos militares..A hierarquia das Forças Armadas saiu em defesa do "presidente constitucional" e apelidou de "tentativa de golpe" as ações do líder da Assembleia Nacional. Mas Guaidó, que ontem deu uma conferência de imprensa diante de uma multidão em Chacao, enviou uma mensagem a todos os militares: "Irmãos é com vocês, chegou o momento de se porem ao lado da Constituição, chegou o momento de se porem ao lado do povo da Venezuela." E reiterou a proposta de amnistia, recusando dizer se há ou não diálogo com responsáveis das Forças Armadas. Pediu ainda o fim da ingerência de Cuba nesta instituição - uma acusação recorrente da parte da oposição..O apoio da hierarquia militar era algo esperado, disse ao DN o investigador para a América Latina do Real Instituto Elcano, Carlos Malamud. "Que o ministro da Defesa, Padrino Lopez, e os outros generais digam que apoiam Maduro estava no guião. Ninguém esperava outra coisa. Especialmente se tivermos em conta que a maior parte dos ministros são generais, que a maior parte dos governadores são generais, que a maior parte dos altos cargos do regime são militares", indicou.."Evidentemente os militares são bastante sensíveis às mudanças de vento e neste momento o vento está a mudar de direção. E sabem que se continuam aferrados em Maduro, não têm um caminho muito longo pela frente. A questão é saber quanto pode durar isto e quão intensa e sangrenta vai ser a transição", acrescentou o analista. Pelo menos 369 pessoas foram detidas e pelo menos 26 morreram..No último fim de semana, uma tentativa de revolta militar por um grupo de duas dúzias de oficiais, que atacaram um posto da Guarda Nacional num bairro de Caracas, foi travada pelas autoridades. O presidente encarregado já prometeu amnistia aos militares que virem as costas a Maduro - não exclui a hipótese de fazer o mesmo ao próprio herdeiro político de Hugo Chávez. Ontem, pediu aos venezuelanos que partilhem com os amigos e vizinhos militares a proposta de amnistia.."Não nos vamos cansar".Guaidó anunciou ainda que no domingo convocará nova manifestação para a próxima semana. "Em Miraflores [palácio presidencial], acreditam que este movimento se vai esvaziar, que nos vamos cansar. Mas aqui ninguém se rende. A Venezuela despertou para nunca mais dormir, mas para sonhar com a Venezuela que merecemos", disse, reiterando os próximos passos: acabar com a usurpação, governo de transição e eleições livres..À mesma hora, Maduro falava a partir do palácio de Miraflores e garantia que Guaidó está a tentar fazer um golpe de Estado "com um guião bem avançado, escrito a partir de Washington, para empurrar a direita venezuelana, encorajada pela pressão internacional". E reiterou que o seu governo vai "derrotar esta tentativa de depor o regime democrático e o Estado de direito que há na Venezuela". Anunciou ainda a realização de exercícios militares de 10 a 15 de fevereiro, com "todo o povo venezuelano convertido numa milícia"..O prazo das 72 horas dado por Maduro para os diplomatas norte-americanos deixarem o país, depois do corte de relações decretado, termina neste sábado. Ontem, funcionários que não são essenciais deixaram o país, mas os EUA não reconhecem o regime e não deverão acabar as ordens, o que deixará Nicolás Maduro num impasse sobre o que fazer a seguir..O chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, participa hoje numa reunião do Conselho de Segurança da ONU para apelar à comunidade internacional que reconheça Guaidó como presidente interino. A Rússia já disse que se vai opor à política "destrutiva" dos EUA para com países da América Latina..Maduro deixou ainda claro que não abandonou o cargo e não o vai abandonar, numa referência ao primeiro artigo da Constituição que Guaidó usou como argumento para assumir o cargo de presidente encarregado: o 233. Este diz que o líder da Assembleia Nacional deve assumir a presidência caso seja declarado "abandono do cargo" por parte do presidente, de forma a convocar novas eleições. Algo que a Assembleia Nacional considera ter havido, já que não reconheceram como válidas as eleições de maio e o primeiro mandato de Maduro acabou a 11 de janeiro..Guaidó citou ainda outros dois artigos da Constituição: o 333 e o 350. É por isso que os seus apoiantes rejeitam a ideia de que se "autoproclamou presidente" e defendem que é o líder legítimo. O 333 diz que a Constituição é a norma jurídica suprema e não pode ser derrogada de maneira indevida. Caso isso aconteça, todos os venezuelanos têm de "colaborar para o restabelecimento da sua respetiva vigência". Finalmente, o artigo 350 (e último), reconhece o direito a desobedecer a qualquer governo que vulnere a Constituição..União Europeia aumenta pressão.A União Europeia, que já não reconhecia o novo mandato de Nicolás Maduro, aumentou ontem a pressão, exigindo que este convoque eleições livres o mais rápido possível ou reconhecerão que só Guaidó o poderá fazer. "Se Maduro mantiver a intransigência e se recusar a participar nesta solução de transição pacífica, isso significa que mais ninguém poderá contar com ele, deixará de ser interlocutor válido" para a comunidade internacional, disse o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, aos jornalistas em Lisboa..Um português que vive há 25 anos na Venezuela disse ao DN, pedindo anonimato, que Lisboa deve atuar com prudência. "Qualquer decisão do governo português poderá prejudicar não só as relações com Portugal mas também da comunidade na Venezuela. Qualquer decisão que seja. Acho que a prudência e manter uma certa calma é o melhor", indicou, lembrando que há meio milhão de portugueses no país. Disse ainda que a comunidade vive esta situação como os venezuelanos, com grande expectativa, lembrando que foi muito afetada pela crise económica e pelos problemas de segurança.