Grécia criticou Portugal mas vai mandar 130 refugiados yazidis
Até ao final de março vão chegar a Portugal, provenientes de campos de refugiados na Grécia, 130 yazidis, 30 dos quais "nas próximas semanas", segundo confirmou ao DN o gabinete do ministro adjunto Eduardo Cabrita. Apesar das críticas que ontem vieram a público, da parte do ministro grego para as migrações, Ioannis Mouzalas, que acusou o governo de "discriminar tendo em conta a raça", alegando que pediu especificamente refugiados desta etnia, o plano para recolocar yazidis em Portugal mantém-se. "O governo português não tem qualquer informação oficial por parte das autoridades gregas no sentido de impedir a vinda dos refugiados yazidis", garantiu a porta-voz de Eduardo Cabrita.
Segundo ainda a mesma fonte oficial, o primeiro grupo será acolhido em Guimarães e os restantes em Lisboa. O gabinete esclarece que "a vinda para Portugal de pessoas da comunidade yazidi surge no âmbito do Programa de Recolocação da União Europeia e não através de qualquer outro pedido específico", recusando que se tenha feito "qualquer discriminação entre refugiados". Acrescenta que "os elementos da comunidade yazidi que estão em campos na Grécia manifestaram interesse em ser colocados em Portugal e Portugal aceitou" e que "o governo português está em contacto com o governo grego para esclarecer aquilo que é, certamente, um mal-entendido".
Ontem, quer o ministro adjunto quer o ministro dos Negócios Estrangeiros multiplicaram-se em declarações para contrariar as afirmações de Mouzalas. "Portugal não dirigiu nenhum pedido à Grécia para privilegiar, fosse a que título fosse, um conjunto étnico dentro do contingente de refugiados que Portugal se disponibilizou a acolher", disse Augusto Santos Silva. Cabrita lembrou que o país tem recebido pessoas de várias origens, sendo o quarto país europeu que acolheu mais refugiados (902).
Ana Gomes e o apoio aos yazidis
O plano para acolher em Portugal estes refugiados contou com o empenho público da eurodeputada socialista Ana Gomes e com o apoio do governo. Questionado pelo DN em outubro passado, sobre a iniciativa, o gabinete do ministro adjunto confirmou que esse "foi um dos temas abordados numa reunião em setembro, em Lisboa, com o ministro adjunto da Defesa Nacional grego".
Esta comunidade foi alvo de perseguições e massacres por parte dos terroristas do autoproclamado Estado Islâmico, a tal ponto que a comissão de inquérito da ONU sobre a Síria, considerou que foram vítimas de tentativa de genocídio. Foi esta "especial vulnerabilidade" que motivou Ana Gomes. Em novembro visitou, com Josef Weidebholzer, eurodeputado austríaco e vice-presidente do grupo dos socialistas e democratas do parlamento europeu, os campos de refugiados na Grécia.
O cenário que observaram era aterrador. Mais de 2500 yazidis estão a viver em tendas esfarrapadas, sem aquecimento nem eletricidade. As condições sanitárias "são horríveis", segundo relataram posteriormente, com 30 casas de banho para 1400 pessoas. A maior parte destas pessoas são crianças órfãs que perderam os pais e que ainda estão traumatizadas com a carnificina brutal que testemunharam. Desde que chegaram à Grécia, há três anos, nunca tiveram escola. "Ficámos chocados com o que vimos e perguntámo-nos como é possível que uma situação destas aconteça na Europa", afirmaram numa conferência de imprensa, sublinhando a disponibilidade portuguesa para os receber.
"É absurdo acusar Portugal de discriminação quando já recebeu centenas de refugiados de várias etnias", lamentou Ana Gomes. "A UE diz que se deve dar prioridade aos casos de maior vulnerabilidade e foi apenas isso que defendi. Os yazidis pertencem a uma comunidade que foi vítima de genocídio e são pessoas com necessidades especiais", explicou ao DN.