Governo trata-nos (muito mal) da saúde
Por estes dias, Portugal foi sobressaltado com uma crise sem precedente na saúde. Precisamente o sector que costuma ser apresentado como a jóia da coroa da governação socialista para efeitos de propaganda.
Mas a propaganda é incapaz de disfarçar as enormes carências do Serviço Nacional de Saúde, entregue a políticos incompetentes e a administradores hospitalares que só ocupam funções por fidelidade partidária.
Nunca o SNS esteve tão degradado como agora. Portugal, infelizmente, tornou-se notícia em toda a Europa por andar a fechar urgências e a encaminhar grávidas de hospital em hospital. Num cenário digno do terceiro mundo.
Ficámos a saber que o número de óbitos em Portugal aumentou quase 20% no mês de Maio, face ao período homólogo do ano anterior, alavancado pela falta de acompanhamento oncológico.
Ficámos a saber que a mortalidade materna no nosso país atingiu o nível mais alto dos últimos 38 anos. Um retrocesso inaceitável.
E o que faz a Direcção-Geral da Saúde, confrontada com estes dados que suscitam máxima preocupação? Avisa que "vai investigar". Como se tivesse sido apanhada desprevenida.
Também a ministra da tutela parece ter ficado muito surpreendida ao ver a ruptura das estruturas hospitalares, com urgências encerradas e serviços fundamentais, como a ginecologia e a obstetrícia, sem garantir assistência a quem precisa.
O que fez Marta Temido? Agiu não como governante, mas como burocrata a picar o ponto: nomeou uma "comissão de acompanhamento". Como se não fosse ministra da Saúde há quase quatro anos. Pareceu muito incomodada por prestar declarações aos jornalistas. E até mandou dizer que recusaria "responder a perguntas". Só faltou queixar-se de ter sido forçada a interromper as férias, como fez a antiga ministra Constança Urbano de Sousa durante os dramáticos fogos florestais de 2017.
Não é preciso comissão nenhuma para sabermos que nesta área todas as promessas ficaram por cumprir e o problema é estrutural.
O primeiro-ministro prometeu que todos teríamos médico de família. Qual o resultado? Andámos para trás, estamos pior. Há hoje 1,3 milhões de portugueses sem médicos de família.
O primeiro-ministro prometeu gestão criteriosa nos dinheiros públicos. Qual é o quadro actual? Mil milhões de euros desperdiçados todos os anos no SNS e incapacidade de planeamento e gestão, com os médicos exaustos a somarem mais de oito milhões de horas extraordinárias nos serviços públicos.
Portugal é um dos dois países mais envelhecidos da Europa. Este drama demográfico reflecte-se também no exercício da profissão médica, com cerca de 40% dos clínicos de medicina geral e familiar à beira da reforma, enquanto milhares de jovens continuam impedidos de aceder à profissão e outros, já diplomados, optam por emigrar.
Entretanto, António Costa vai tentando adiar os problemas à sua maneira, empurrando-os com a barriga. Convicto de que outra questão acabará por afastar o problema anterior dos focos mediáticos. Entre duas deslocações a Paris e quatro cimeiras em Bruxelas, empurra portugueses para a emigração, empurra problemas para a frente.
É um estilo de governação que conduziu à situação actual, sete anos depois. Degradação generalizada dos serviços públicos. Saúde, educação, Segurança Social, justiça, SEF. Num país em que mais de quatro milhões de pessoas já recorrem a seguros privados ou a subsistemas de saúde, enquanto António Costa e Marta Temido insistem em diabolizar o sector privado e o sector social por preconceito ideológico. O resultado está hoje à vista.
Deputado. Escreve de acordo com a antiga ortografia.