Governo quer evitar país parado. Motoristas usam eleições como pretexto para greve

Ministro aconselha portugueses a abastecerem-se antes de 12 de agosto e Governo prepara plano de contingência para eventual paralisação. Motoristas admitem que estratégia passa por pressionar antes das eleições.
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No Governo, a palavra de ordem é evitar a greve dos motoristas que pode pôr em causa o abastecimento de bens e a circulação de pessoas a partir de 12 de agosto. O ministro das Infraestruturas avisou esta quarta-feira que o mais previdente é os portugueses abastecerem-se antes, evitando a corrida até à última gota como a que se registou em abril.

Já antes, os governantes tinham antecipado que o executivo de António Costa estava a preparar-se para evitar o pior. Hoje, Pedro Nuno Santos, explicou que, no Governo, estão "todos a trabalhar para nos preparar para qualquer eventualidade e, antes disso, para que não haja sequer greve".

"O Governo trabalha da melhor forma para que o impacto negativo [da eventual greve] na vida dos portugueses seja o mínimo", explicou-se o ministro das Infraestruturas e da Habitação, que mediou com sucesso o conflito laboral entre os motoristas de matérias perigosas e a ANTRAM, em abril passado. "Ao mesmo tempo, tem a preocupação de que um diferendo entre as duas partes se consiga resolver e toda abertura para que as partes se entendam e cheguem a um acordo", disse Pedro Nuno Santos.

Da surpresa ao regresso às negociações

Quando no início deste mês os motoristas voltaram a ameaçar com greve - apesar de terem acordado uma negociação que se prolongariam até ao final do ano - o ministro admitiu ter sido "apanhado de surpresa". E desabafou: "Não é assim que se negoceia." Pedro Nuno Santos apelou então "ao bom senso, ao regresso às negociações, ao abandono do pré-aviso de greve. Não podemos estar sistematicamente num processo negocial com ameaças de greve."

O homem-forte do sindicato, o advogado Pedro Pardal Henriques, disse num encontro de motoristas que as eleições são o pretexto para antecipar esta guerra com as empresas e o Governo. Num vídeo, divulgado na noite de terça-feira pela SIC, Pedro Pardal Henriques revela a estratégia do sindicato: "Este ano é ano de eleições, em setembro, em outubro. Se nós não conseguirmos fazer nada este ano, eu acho um bocado difícil. Mas eu estou convosco até ao fim", disse, no Congresso Nacional de Motoristas, em 6 de julho.

No executivo socialista, a palavra de ordem agora é preparar-se para o pior. Na entrevista ao Dinheiro Vivo e à TSF, em 18 de julho, o secretário de Estado da Energia, João Galamba, já desenhava um plano de contingência. "Se acontecer algo semelhante ao que aconteceu na última greve, teremos no terreno um dispositivo que identifica os abastecimentos prioritários, os postos que têm de ser abastecidos, os circuitos que abastecem esses postos, bem como depois a necessidade de motoristas que garantam esses abastecimentos. Iremos definir os serviços mínimos e esperamos que sejam cumpridos, mas se não forem temos medidas alternativas."

No dia seguinte, a 19, foi a vez de o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, se mostrar otimista. "Aquilo que eu quero acreditar é que patrões e sindicatos, até ao dia 12 [de agosto], falta tempo, vão continuar a sentar-se à mesa - o Governo está muito empenhado em que isso aconteça -, para se chegar a um acordo e a uma solução em que todas as partes fiquem bem e que não venha a haver greve." E avisava que haveria um plano de contingência. "Mal fora que o Governo não tenha um plano de emergência para situações como esta. De facto, o Governo construiu esse plano de emergência. Tem vontade de o pôr em prática? Não. Vamos acreditar que vai haver um acordo."

Pelo sim, pelo não, Pedro Nuno Santos já foi aconselhando os portugueses a não deixarem tudo para a última hora.

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