Governo estuda potencial do lítio com os olhos postos na fábrica da Tesla
O governo está apostado em saber qual as reais potencialidades dos depósitos de lítio - a "gasolina" do futuro - em Portugal e o seu impacto na economia nacional. Decidiu, por isso, criar um grupo de trabalho que irá, até 31 de março de 2017, "identificar e caracterizar" as ocorrências deste depósito mineral, bem como "as atividades económicas associadas à sua revelação e aproveitamento", anunciou Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia. O grupo irá avaliar também a possibilidade de produção de lítio metal, usado no fabrico de baterias de telemóveis e de carros elétricos... com os olhos postos na fábrica que a Tesla quer construir na Europa.
Portugal é o sexto maior produtor mundial de lítio e tem a maior mina da Europa - a Felmica, na região da Guarda, que se estima dispor de reservas para 30 anos de produção. A questão é que os minerais de lítio extraídos em Portugal se destinam, quase em exclusivo, à indústria cerâmica, quando a grande mais-valia na atualidade se centra nas suas propriedades de geração ou armazenagem de energia. O problema é que obrigam a grandes investimentos para a transformação do minério extraído em carbonato de lítio.
"O potencial é enorme", admite, em declarações ao DN/Dinheiro Vivo, o secretário de Estado da Energia. Mas o governo "não quer entrar em nenhum tipo de euforias" e, por isso, quer ter "o trabalho de casa" feito.
A criação do grupo de trabalho surge na mesma altura em que a australiana Dakota anunciou que espera começar a produzir lítio no Norte do país em 2019, prazo que, sublinhou a empresa em comunicado, "coincide com a abertura planeada de várias fábricas de baterias de ião-lítio na Europa e a conclusão da expansão de capacidade nas unidades atuais".
Em causa está, por exemplo, a Tesla que está a estudar vários países, entre os quais Portugal, para instalar a sua fábrica na Europa. O Ministério da Economia já assumiu ter-se sentado à mesa com o Elon Musk. Guarda, Viana do Castelo, Mangualde e Palmela são algumas das câmaras que estão na corrida à nova fábrica.
Jorge Seguro Sanches não fala da indústria. Diz apenas que, sendo o lítio a "gasolina" do futuro, "o país tem de se preparar para esse desafio" para que possa "tirar o melhor partido". O interesse crescente que o lítio português tem despertado nos grupos internacionais é "mais uma razão" para que o país "esteja preparado para aproveitar as oportunidades quando elas se colocarem, promovendo o crescimento, o investimento e o emprego".
O grupo de trabalho será coordenado pela subdiretora-geral da Direção-Geral de Energia e Geologia e contará com representantes do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, da EDM - Empresa de Desenvolvimento Mineiro e da Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores e Granitos.
O governo promete ainda fazer em breve um levantamento cartográfico dos recursos geográficos do país e garante que tem estado a "desbloquear mais de uma centena de processos que estavam parados, alguns desde 2012, quase todos de prospeção".