Governo e OCDE às turras por causa da corrupção
A OCDE prepara, para sair em fevereiro ou março, um relatório sobre a economia portuguesa que, pela primeira vez, põe o ênfase na corrupção. O governo português considera que a opção é forçada e está descontente, avança o Expresso, na sua edição deste sábado.
A equipa encarregue de elaborar o relatório de 2019 - o documento é produzido a cada dois anos - é liderada por Álvaro Santos Pereira, que foi ministro da Economia no governo de Passos Coelho entre junho de 2011 e julho de 2013.
O retrato do fenómeno da corrupção em Portugal, refere aquele semanário, é traçado a partir de "números do Banco Mundial, assentes em indicadores de perceção, que não deixam o país especialmente bem na fotografia. E incluem ainda opiniões recolhidas junto de atores da Justiça, deputados e investigadores por Álvaro Santos Pereira e a sua equipa durante as deslocações a Lisboa".
Questionado pelo Expresso sobre a crescente tensão nos bastidores entre o governo e a OCDE, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, do PS, desvalorizou o assunto, sublinhando que "o relatório que contará será o relatório produzido com a chancela da OCDE". Porém, admitiu, refere o jornal, "que se o relatório fosse transformado numa simples listagem de ideias feitas, perceções, estereótipos, seria muito errado e Portugal teria de protestar".
Santos Pereira, que depois de deixar o governo do PSD foi para a OCDE, tem sido particularmente ativo na sua conta de Twitter. Em maio de 2018, nota o Expresso, escreveu nesta rede social: "foram políticas erradas, a corrupção e o compadrio entre a política e os privados que nos levaram à bancarrota, à ajuda externa e ao resgate dos bancos. Sem um combate sério contra a corrupção não voltará a haver confiança no Estado e na política".
Dois meses mais tarde, sobre o estado da Justiça em Portugal, a propósito do BES, Santos Pereira questionava: "Já passaram 4 anos desde que se desvendou a maior fraude financeira da nossa História. Quem foi preso? Também já passaram 7 anos após o país (e grande parte dos nossos bancos) ter ido à bancarrota. Quem foi preso? Quem foi responsabilizado?".
Há poucas horas, num novo tweet, o ex-ministro da Economia, escreveu: "Sem dúvida. É mais do que altura de agir contra a corrupção. A falta de meios eficazes para lutar contra a corrupção mina a democracia, a política e o sistema judicial".