Governo e Macron pressionam coletes amarelos a desistir

Governo francês enfrentou moção de censura e quer que o movimento de contestação não vá para a rua no sábado. Mas coletes amarelos continuam a bloquear estradas e prometem "quinto ato" no fim de semana.
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Votada favoravelmente por apenas 70 deputados, a Assembleia Nacional rejeitou, sem surpresa, a moção de censura da esquerda contra o governo de Édouard Philippe pela gestão da crise dos coletes amarelos. Por seu turno, o executivo apelou para que os cidadãos desistam das manifestações. Já o chefe de Estado, em Bruxelas, afirmou que vai assegurar aos parceiros europeus de que a crise dos coletes amarelos não vai pôr em causa as suas reformas nem a sua ambição de "reconstruir" a União Europeia.

Os três grupos parlamentares de esquerda - PS, França Insubmissa e PC - queriam dar ouvidos aos "gritos do povo" lançados pelos coletes amarelos com a moção e condenar "a política social e fiscal injusta conduzida nos últimos 18 meses" pelo governo. O líder dos socialistas, Olivier Faure, disse que era altura de "mudar de rumo".

Com o país a recuperar da emoção de mais um atentado terrorista, desta vez em Estrasburgo, o governo "não decidiu, para já, proibir as manifestações" previstas pelos coletes amarelos para sábado, mas o porta-voz Benjamin Griveaux apelou para que fossem "razoáveis", devido ao ataque no mercado de Natal, que matou três pessoas e feriu 13. O governo lembrou que na sequência do atentado seria "fácil" proibir as manifestações, mas isso não impediria que "as pessoas que querem estragar e pilhar fossem para as ruas", insistiu Griveaux.

O presidente da Assembleia Nacional, Richard Ferrand, do República em Marcha, apelou para que o movimento pare, bem como à "construção de um novo modelo francês", através do diálogo nacional anunciado por Emmanuel Macron.

A pressão sobre os manifestantes veio também de Laurent Berger, secretário-geral da central sindical CFDT, que defendeu a anulação da manifestação. O presidente da Câmara de Saint-Etienne, Gaël Perdriau, dos Republicanos (ex-UMP, centro-direita) também se juntou às vozes contra o protesto. "A mensagem dos coletes amarelos torna-se inaudível porque as manifestações são agora uma base para saqueadores e vândalos."

"Cabe ao governo garantir a segurança dos seus cidadãos", respondeu Maxime Nicolle, uma das principais figuras do movimento, numa conferência de imprensa em Versalhes. No dia anterior, Nicolle tinha lançado a dúvida sobre a natureza terrorista do tiroteio em Estrasburgo.

Um grupo de coletes amarelos de Saône-et-Loire, na Borgonha, respondeu de pronto: "Nada vai ser abandonado, o quinto ato terá lugar no sábado", afiançou. "A propaganda governamental não passará." Durante a noite, cerca de 200 camiões ficaram bloqueados na estrada Centre-Europe Atlantique, nesse departamento. Da intervenção da polícia resultaram 11 detenções.

Macron quer conciliar coletes com projeto europeu

Não é só Theresa May que se encontra no Conselho Europeu numa situação fragilizada e a necessitar de convencer os parceiros europeus. Emmanuel Macron chegou a Bruxelas com a imagem enfraquecida, bem longe de, quando há ano e meio, deu esperanças de que iria levar avante um plano de reformas pró-europeias.

À chegada ao Conselho, anunciou a intenção de explicar na sexta-feira as medidas sociais que anunciou na segunda-feira para acalmar a revolta que rebentou em França no início de novembro. "Vou dizer que as escolhas que fiz para responder à raiva, a qual considero legítima e justa, escolhas de apoio real, medidas fortes para acelerar e reforçar os cortes fiscais em particular, para que o trabalho seja mais compensador no nosso país", disse.

Em Bruxelas, mas também em Berlim, os dirigentes mostram-se preocupados com uma eventual derrapagem orçamental em face das medidas anunciadas por Emmanuel Macron. O custo das medidas está estimado em 10 mil milhões de euros, o que deverá agravar o défice orçamental para cerca de 3,4% do PIB em 2019, contra uma previsão inicial de 2,8%.

Macron garantiu que esta resposta aos coletes amarelos "não impede a vontade" de controlar as despesas". O presidente francês disse ainda que a crise não ameaçou o seu compromisso com a UE. "Nunca irei conduzir o projeto europeu, no qual acredito, contra aspirações que considero legítimas. Penso que são conciliáveis e é isso que estamos a fazer", afirmou.

Em Bruxelas, um diplomata disse à AFP que "Macron não é o único a sofrer. Muitos líderes à volta da mesa do Conselho estão em dificuldades nos seus países, o que dá um ambiente algo especial ao Conselho."

"Temos um interesse tremendo em que a presidência de Macron corra bem. Especialmente no período que antecede as eleições europeias, que serão uma enorme batalha" entre pró e anti-europeus, disse outro diplomata.

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