Governo cria programa para captar alunos estrangeiros
Nos últimos anos, as universidades e institutos politécnicos têm feito um investimento considerável para captar alunos estrangeiros. Tanto nos programas de curta duração, como o Erasmus, como em cursos completos de licenciatura e mestrados, os números subiram significativamente, ultrapassando os 31 mil estudantes no total das ofertas. Agora, o governo quer juntar-se ao esforço, através de um programa centralizado de promoção de Portugal como destino de estudantes.
"No último Conselho de Ministros, aprovámos uma resolução, a publicar em Diário da República [nesta semana], para lançar na Direção-Geral do Ensino Superior [DGES] o programa Study in Portugal", revelou ao DN o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor. "É um programa para estimular a cooperação entre a DGES, as embaixadas e as missões diplomáticas, para melhor articular os esforços que já estão a ser feitos", acrescentou, dando os exemplos de países como "o Reino Unido, a Suíça - muito ativa nos seus consulados - e a Alemanha" como fontes de inspiração para esta medida.
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Manuel Heitor não quis adiantar qual será o valor atribuído ao programa, que arranca no início do próximo ano, explicando que este "conjuga os orçamentos e dotações da DGES, sobretudo para essas funções", e que a verba necessária "já está no orçamento global da DGES" previsto na proposta de Orçamento do Estado para 2017. "Podemos dizer que é pouco", admitiu, "mas a ideia é, dentro do quadro daquela que é a missão do ministério, pormos uma ênfase que nunca tinha sido colocada nestas iniciativas, que já vêm sendo desenvolvidas, num trabalho de todos os dias, pelas universidades e institutos politécnicos".
"Longo caminho a percorrer"
Para António Cunha, reitor da Universidade do Minho e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), "tudo o que seja promover o nome de Portugal pelo mundo, e articular a nossa capacidade com a ajuda da nossa rede diplomática, para promover o país como destino para formação superior, é positivo". No entanto, avisou, serão necessários grandes esforços para atingir o nível de competitividade de outros países nestas áreas: "Temos um longo caminho a percorrer. Portugal tem boas universidades, que têm boa qualidade, mas ainda não é reconhecido como mercado de formação no ensino superior."
O certo é que, nomeadamente após a aprovação do Estatuto do Estudante Internacional - que permite às universidades e politécnicos cobrarem propinas de valor mais elevado, próximo do preço de custo, a alunos não oriundos nem da União Europeia nem dos países de língua portuguesa, que têm estatuto equiparado aos nacionais -, as instituições têm intensificado os seus esforços de internacionalização, com um crescimento de cerca de 50% nos alunos internacionais no espaço de seis anos.
De acordo com os últimos dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência, em 2015-16 frequentaram as instituições do ensino superior portuguesas 13 282 estudantes estrangeiros nos chamados programas de modalidade de crédito, como o Erasmus, em que os alunos fazem parte dos seus cursos no país, sendo essa aprendizagem creditada no curso que estão a frequentar no país de origem. Quanto aos inscritos na mobilidade de grau (cursos completos, ainda que possam não os concluir no país), ascenderam a 19 445. Ou seja: 5,4% de todos os inscritos no ensino superior no ano passado.
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O setor público domina a procura (78,7%) e, dentro deste, são as universidades (80,6%) que mais atraem estudantes estrangeiros, que dão preferência às áreas de ciências sociais, comércio e direito e engenharia, indústrias transformadoras e construção.
Por nacionalidades, Brasil (32,7%), Angola (13,9%) e Cabo Verde (11,3%) dominam as inscrições em cursos - um dos objetivos das instituições é chegar a outros mercados sul-americanos e ao asiático. Já no Programa Erasmus, Portugal é o oitavo destino mais popular entre estudantes europeus, com espanhóis, italianos, polacos e alemães a dominarem a lista dos que mais nos procuram.