As Manhãs da Rádio Comercial passaram a ser transmitidas, também, via Facebook. O The Voice teve uma emissão especial, para angariar meios para combater a covid-19, com recurso às aplicações online. Tudo isto feito num estúdio improvisado no quarto de brinquedos do Tomás, o filho de Vasco Palmeirim. Com o fim do Estado de Emergência, teme que haja abusos por parte da população e que tudo volte atrás. Ficando mais longe da possibilidade de abraçar os amigos, que é o que sente mais falta nesta pandemia..Como é que tem visto a evolução da pandemia em Portugal?.Passou muito rápido, também porque tenho muita coisa para fazer. Podia ter corrido bastante pior e grande percentagem dos portugueses teve juízo. Tirando algumas exceções, tivemos a noção do perigo que isto era. Dai que me faça espécie ver malta que acha que a covid deve ser tratada como se fosse uma gripe, que estão a exagerar, que é uma invenção de quem tem poder. Não. É um vírus que anda por ai, há pessoas a falecer, não se pense que a coisa está resolvida. O pior ainda vem aí. Vai haver uma recessão económica, houve muita gente que perdeu o emprego, recebemos muitas mensagens na Rádio Comercial de pessoas a pedir comida, vai custar muito a ultrapassar tudo isso. Isto acontece derivado da pandemia, mas portámo-nos bem e isso deixa-me bastante feliz. A prova é que somos constantemente analisados lá fora como um exemplo, não como bons organizadores de eventos, mas por uma razão cívica, o que é novo..Tem receio que haja um recuo com o fim do Estado de Emergência?.Tenho medo que as pessoas achem que já passou, que está tudo ok. É importante que percebam que não passou, o bicho, o novo coronavírus, continua aí, temos de ter cuidado. Vem ai uma segunda vaga, e temos de ter muita calma, se não, volta tudo ao zero, a ter de ficar em casa. É muito importante que se façam as coisas com calma,: quem puder, continuar a teletrabalhar, a manter os filhos em casa, etc..Nada vai voltar a ser como era?.Já pensei muito nisso, tenho algum receio que a vida não volte completamente ao que era. Todos percebemos que temos de ter cuidados rigorosos de higiene, isso vai ficar. O resto não sei, gostava que a vida voltasse ao normal, que pudéssemos abraçarmo-nos sem medos..É disso que sente mais falta?.A proximidade com as pessoas faz-me muita falta, para quem faz rádio e televisão, é fundamental. E eu sou assim na minha vida, gosto de estar com as pessoas, de receber pessoas, de estar com quem gosto. Estou com quem gosto, mas em casa, falta-me estar com as outras pessoas, com os amigos. Não tenho carta de condução, ando a pé por todo o lado, de metro, sinto muita falta de viver na rua, de andar na Baixa, ver a vida acontecer. Gostava muito que essa forma de viver não tenha que ser alterada por causa da pandemia. Temos de ter muito cuidado, andar de máscaras e luvas, de estar resguardados. Agora, em termos de convívio social espero que não seja alterada essa forma de estar e viver..O que é que mudou na sua vida?.A televisão está parada. Fizemos um The Voice um bocadinho diferente a partir de casa, uma emissão com recurso à tecnologia e por uma causa importante, mas o Joker era impossível continuar. A rádio dá para fazer em casa e mudou muito. Recorremos a uma tecnologia que permite entrar da nossa casa para a rádio, ao mesmo tempo que nos vemos através de um software, o que ajuda imenso. Somos cinco a fazer o programa e é muito importante vermo-nos para perceber a reação ao que dizemos. Ao mesmo tempo, transmitimos as nossas imagens pelo Facebook, para quem tem curiosidade de saber como é que esta rádio é feita. Estas Manhãs da Comercial no Facebook tem tido quatro mil pessoas e gostam muito, apesar de não permitir música. Quando apresentamos uma música na rádio, as pessoas não a podem ouvir no Facebook, se não, a emissão é cortada, nessas alturas, falamos só para quem está no Facebook..Como se faz essa gestão?.Sou eu que controlo a emissão da rádio e, quando passamos música, baixo o volume e falamos durante quatro a cinco minutos, sempre que passa uma canção. É uma nova forma de fazer rádio..Uma nova forma a explorar?.Pode ser, mas não de uma forma permanente. Ficámos com uma bagagem que nos permite fazer rádio a partir de casa se um ou dois de nós não puder estar no estúdio. Houve uma aprendizagem muito grande e não temos que começar do zero se voltar a acontecer, mas a essência continua a ser a rádio, até porque é muito cansativo fazer uma emissão também no Facebook, não há pausas A música na rádio é a parte onde descansamos um bocadinho, no Facebook há quatro mil pessoas que não nos querem ver parados. É muito desgastante e cansativo, mas há momentos muito engraçados, de partilha de histórias e de intimidade com quem nos vê e nos ouve. O formato rádio, na FM ou na aplicação, continua a ser a norma. Podemos transmitir algumas coisas no Facebook, mas um programa inteiro é muito cansativo e pode desvirtuar a magia da rádio. A partir desta segunda-feira, voltaremos ao Facebook só em momentos pontuais..As Manhãs na Comercial são quatro horas em emissão..São muitas horas, digo na brincadeira que as quatro horas valem por oito, fazemos dois programas, são quatro horas em que estamos sempre a falar. O programa acaba às 11:00 e estamos todos de rastos..Com é que fazem com as pausas e os silêncios?.É um bichinho que temos na rádio, preencher a branca. Quando sentimos que há silêncio, temos a necessidade de falar, até porque se não falarmos as pessoas reclamam. Mas, sinceramente, também acho que, quando a situação normalizar e as pessoas voltarem ao trabalho, muita gente vai deixar de nos ver no Facebook porque a situação não o vai permitir..Juntos sem estar, com a ajuda das tecnologias, é a mesma coisa?.Adorava dizer que é quase a mesma coisa mas não é, falta estar no mesmo sítio. E, com este sistema, há uma coisa difícil de gerir, que é o delay. Quem fala demora um a dois segundos a chegar às outras pessoas e a reação não é imediata. O que pode acontecer é falarmos todos ao mesmo tempo, uma coisa que no primeiro dia foi muito difícil e que temos vindo a controlar, por exemplo, pôr a mão no ar quando queremos falar. O imediatismo é fundamental em rádio, como é em comédia, e aqui não se tem a reação imediata. Dá para ver que as pessoas percebem o nosso esforço, agradecem por estarmos a fazer uma coisa muito complicada, perdoam as falhas técnicas, mas queremos voltar a estar todos em estúdio, a não estar constantemente à espera que alguma coisa aconteça..Têm tido surpresas por parte dos ouvintes/espetadores?.É engraçado ver pessoas a dizer que não faziam a ideia de como alguns de nós eram fisicamente ou que a ideia era completamente diferente. Ainda hoje, em pleno século XXI, com a Internet, e a facto de aparecermos em muitos sítios, ainda existem pessoas que só conhecem alguns pela voz e essa é a magia da rádio, o lado romântico da rádio. E há pessoas que todos os dias estão connosco, há uma relação de muita proximidade e conseguimos dar nomes às pessoas..Mudou alguma coisa em relação à forma de fazer rádio?.A essência da rádio não vai mudar, tem que ser num estúdio. É muito diferente falarmos num programa a dois ou num programa a cinco. Há uns anos, o grande António Sala e a Olga Cardoso faziam o programa Despertar cada um na sua cidade, o Sala estava em Lisboa e a Olga no Porto. A cinco é muito complicado, temos de estar juntos, até o toque é muito importante. Aprendemos novas ferramentas para poder trabalhar, abriram-se os nossos horizontes, percebermos um bocadinho mais de áreas em que não éramos expertise, o que não deixa de ser engraçado..Com o fim do Estado de Emergência não voltaram todos ao estúdio..Não, não é um regresso em pleno. O Pedro [Ribeiro] e a Vera [Fernandes] voltaram, até porque o Pedro, como o pivot das manhãs, sente-se mais à vontade e a emissão fica muito melhor; eu, o Markl [Nuno] e a Elsa [Teixeira] continuamos em casa. Não vamos fingir que o bicho passou e volta tudo à normalidade, temos de continuar com todos os cuidados. Nós, enquanto rádio, temos de dar o exemplo e dizer que não está tudo bem..À terça-feira têm o concerto "Somos nós em casa"..O concerto não é transmitido na rádio, apenas no Facebook. Por definição minha, é um concerto de meia hora, para cantar três a quatro canções e vamos fazer mais dois concertos., até porque vai nascer o meu filho. As nossas expectativas foram amplamente superadas, temos tido médias de 11 a 12 mil pessoas por concerto. Somos nós a tentar transmitir um bocadinho da galhofa, a cantar canções inspiradas no momento que estamos a viver, tudo acompanhado com uns copos de vinho e muita conversa. O online permite-me continuar a fazer canções, uma vez que durante a manhã é complicado, o aparato técnico é diferente. Consigo fazer coisas num concerto que não consigo durante a manhã. O feedback tem sido maravilhoso..Como é que se consegue fazer tudo isso em casa, ainda por cima com uma criança por perto?.O Tomás [quatro anos] está bem ensinado. O meu estúdio é o quarto dos brinquedos dele, mas já foi o meu cantinho. Agora é um misto entre o quarto dos brinquedos e a minha man cave, há brinquedos, computadores, mesa de mistura, microfones, uma guitarra, comboios, jogos, tambores, peluches, há de tudo. E ele sabe que, quando estou aqui em baixo, não pode entrar, sabe que o papá está a trabalhar. Assim que acaba o programa, vou a correr lá para cima, para dar um beijo de bom dia, às vezes até durante o programa..Melhorou o tempo em família?.Melhorou imenso. Quem faz os programas da manhã não pode levar os filhos à escola. Na minha rotina diária não via o Tomás quando ele acordava e, tendo em conta rádio e os programas de televisão, muitas vezes, só o via à noite. Agora, a partir das 11:00 estou com ele, passamos o dia juntos, habituou-se a estarmos juntos e vai ser complicado quando a coisa voltar ao normal. O Tomás já disse que gosta de ter o pai e a mãe todo o dia em casa, claro que tem saudades dos amigos, já perguntou quando pode ir a casa deles,.Como é que lhe explicaram o que está a acontecer?.Dissemos-lhe que há um bichinho que anda ai e percebeu que não podemos sair de casa por causa do bichinho. Agora, dissemos que, lentamente, as coisas vão voltar ao normal. É um ótimo miúdo, incrível. Fizemos um calendário que está na parede e ele marca o dia em que estamos, agora percebeu que está em maio. Maio na cabeça dele é o mês em que nasce o irmão, começou aos gritos: "Vem o mano, vem o mano". Estamos em pulgas para perceber a reação dele ao nosso mais novo..Não tem saído nem para correr?.Não tem dado. Há muito trabalho aqui em casa, mas temos um jardim pequenino e que tem uma espécie de rampa de acesso à garagem onde jogo à bola com o meu filho, não estou o dia no sofá de papo para o ar, há o mínimo de exercício. E também temos cuidado para não comer muito. Atenção: vou voltar a fazer o Joker e tenho de caber nos fatos..Uma gravidez obriga a um acompanhamento permanente, com a pandemia tiveram receios nas idas ao médico?.A minha mulher passou a ir sozinha, eu ficava em casa com o Tomás. A Bárbara ia sempre muito bem defendida, não se cruzava com ninguém quando ia ao médico, foi tudo pensado ao máximo para que não houvesse qualquer risco. Por muito que me custe, houve exames a que ela foi sozinha, depois trazia os relatórios e tem estado tudo bem, tive pena, mas foi melhor assim. Está tudo a correr muitíssimo bem, brevemente teremos mais um rapaz..Vai assistir ao parto?.Depende de como a situação evoluir, das diretrizes do hospital. Estive presente no nascimento do primeiro filho e gostava de estar presente no segundo, mas se não der não vou fazer disso um filme, as regras são para cumprir. Gostava muito que isso fosse possível, porque é uma experiência incrível..É daqueles que se sente mal disposto no bloco, quase a desmaiar?.Não, também não me aventuro. Tenho amigos que têm vídeos do nascimento dos filhos, em que se vê tudo e mais alguma coisa, não quero tanto. Como costumo dizer, estou do lado certo da cortina, não vejo demais, estou à espera que tudo corra bem, do momento em que digam : "Nasceu, nasceu!". Estou ao lado da minha mulher, ouço o miúdo a chorar, pego nele ao colo e a coisa corre bem, agora, não quero ver tudo..Vai tirar licença de parentalidade?.Claro.