Ginger Baker, lendário baterista dos Cream, morreu aos 80 anos

Além de ser co-fundador da mítica banda de Eric Clapton, Baker andou pelo jazz, pelo blues e foi até África onde tocou com Fela Kuti.
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Ginger Baker, considerado um dos bateristas mais inovadores e influentes do rock, morreu aos 80 anos. Co-fundador da Cream, a banda do guitarrista Eric Clapton e do baixista Jack Bruce, Baker também se distinguiu ao tocar com grupos como PIL, Blind Faith, Hawkwind e Fela Kuti, numa carreira longa e variada.

O seu estilo combinava o lirismo do jazz com o poder bruto do rock. Um crítico escreveu no início dos anos 1970 no The New York Times que observá-lo era como testemunhar "uma ceifeira humana". Mas também era uma figura temperamental e algo conflituosa, cujo comportamento frequentemente levava a confusões no palco.

Apelidado de Ginger devido ao seu cabelo vermelho, o músico nasceu Peter Edward Baker em Lewisham, sul de Londres, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. O pai, pedreiro, foi morto em combate em 1943 e Baker foi criado em situação de pobreza pela mãe, padrasto e tia. Estudante problemático, terá sido membro de um gangue local na adolescência e envolveu-se em pequenos furtos. Quando tentou sair, membros do gangue atacaram-no com uma navalha.

A sua ambição inicial era participar na Volta à França em bicicleta, mas foi forçado a abandonar o desporto quando, aos 16 anos, a sua bicicleta foi "arrastada" por um táxi. Foi então que começou a tocar bateria. "Batia sempre nas mesas da escola", lembrou. "Então, todas as crianças diziam: 'Vá em frente, vá tocar bateria'. Sentei-me e comecei a tocar."

As pernas fortes que desenvolveu em longos passeios de bicicleta ajudaram-no depois a tocar com a configuração de bombo duplo que ele preferia. Tocou com bandas de jazz como Terry Lightfoot e Acker Bilk, mas o seu estilo - fragmentado e agressivo, mas articulado e insistente - criava com frequência um ajuste estranho. E assim mudou, foi para a cena de blues de Londres. Em 1962, juntou-se à Alexis Korner's Blues Incorporated por recomendação de Charlie Watts, que estava de saída para integrar os Rolling Stones.

Ganhou fama como membro da Graham Bond Organisation ao lado do baixista Jack Bruce, mas foi a parceria com Eric Clapton nos Cream que tornou os três em superestrelas.

Um dos primeiros "supergrupos" do rock, os Cream fundiram blues e rock psicadélico com efeitos inovadores em músicas como Strange Brew, Sunshine of Your Love, Badge e I Feel Free. Venderam mais de 35 milhões de álbuns e foram premiados com o primeiro disco de platina do mundo com o LP Wheels of Fire.

Juntamente com Jimi Hendrix, a banda expandiu o vocabulário do rock pesado, especialmente durante incendiários concertos ao vivo, onde os três músicos esticavam riffs simples até longas improvisações.

"Era como se algo mais tivesse assumido o controlo", disse Baker sobre os Cream. Mas a volatilidade que alimentou os desempenhos estava igualmente enraizada na animosidade. As discussões entre Baker e Bruce foram frequentes e violentas, levando Clapton às lágrimas. Numa ocasião, Baker tentou terminar um dos solos de Bruce batendo com um taco na cabeça de Bruce. Este ripostou com o seu baixo duplo.

A banda acabou por se separar após dois anos e quatro álbuns, com um espetáculo de despedida no Royal Albert Hall, em Londres, em 1968. "Cream chegou e saiu quase num piscar de olhos, mas deixou uma marca indelével no rock", escreveu Colin Larkin na Encyclopaedia of Popular Music. Em 2005, os Cream tocaram num concerto de reunião, em Nova Iorque.

Tocou logo depois com Clapton e Steve Winwood até que a morte do amigo, Jimi Hendrix, convenceu Baker de que era hora de abandonar a cena musical de Londres e limpar-se de drogas. Deixou a Grã-Bretanha para ir morar na Nigéria, onde gravou com Fela Kuti e construiu um estúdio de gravação. Ajudou Paul McCartney a gravar o clássico álbum dos Wings, Band On The Run, embora o relacionamento tenha azedado com as alegações de que Baker nunca foi pago. De resto, problemas financeiros de um tipo ou de outro sempre o perseguiram durante esse período e Baker acabou por perder o controlo do estúdio.

Nos anos 1980, tocou com os PIL de Johnny Lydon. A paixão pelo jazz nunca desapareceu e em 1994 teve um trio com Charlie Haden e Bill Frisell.

"É com muita tristeza que anunciamos que Ginger morreu pacificamente no hospital hoje de manhã", foi a frase que hoje surgiu na conta do músico no Twitter, escrita por familiares. Gary Hibbert, um representante da família, confirmou a morte à agência Associated Press. E desaparece assim um dos grandes bateristas da história do rock, comparado a Charlie Watts dos Rolling Stones, Mitch Mitchell da Jimi Hendrix Experience, Keith Moon dos The Who e John Bonham dos Led Zeppelin.

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