Gasolineiras esperavam boom na fronteira, "mas ainda não há carros" suficientes

O confinamento generalizado em Portugal trocou as voltas às gasolineiras posicionadas perto da fronteira entre Castro Marim, no Algarve, e Espanha. Espera-se um maior desconfinamento numa zona com a economia virada para o país vizinho.
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São vários os cidadãos portugueses que escolhem frequentemente atravessar a fronteira com a Espanha para atestar o combustível dos seus carros no país vizinho, onde os preços são mais baixos, o que naturalmente se traduz numa redução de clientes nas bombas de abastecimento do lado de cá, próximas desta fronteira. Mas os funcionários destes espaços esperavam ver o cenário invertido com as passagens entre Portugal e Espanha proibidas, desde 16 de março, o que ainda não se concretizou.

A título de exemplo, no dia 28 de maio, o gasóleo simples numa bomba junto ao cais de Vila Real de Santo António marcava 1,219 euros. O preço tinha descido no arranque do confinamento em Portugal, mas voltou a aumentar desde que se registou mais movimento nas ruas, fruto do plano de desconfinamento. Atravessada a fronteira, para Ayamonte - passagem autorizada apenas a trabalhadores transfronteiriços e jornalistas -, no mesmo dia, este valor descia imediatamente para os 1,029 euros à entrada da cidade. Ou 1,014 avançando mais para o interior da mesma.

Não raras vezes, as famílias portuguesas que residem nesta ponta de Portugal escolhem fazer as suas compras nos supermercados de Ayamonte, uma vez que a exclusão de taxas torna tudo um pouco mais barato. Aproveitam também para atestar as viaturas ou comprar botijas de gás, a metade do preço do que se pratica em Portugal. Um vaivém que não se compara à realidade a que se assiste nas gasolineiras deste lado, embora esperassem agora tempos diferentes.

Depois de cinco anos a trabalhar na Alemanha, Alexandre, 43 anos, regressou à terra. Vila Real de Santo António não lhe podia soar mais familiar, sendo o local onde nasceu. E soou também a saudade, por isso é que voltou. "Isto é uma terra muito peculiar", justifica a decisão. Há oito meses, tornou-se funcionário de uma das bombas de gasolina nesta cidade, de onde é possível avistar Espanha, do lado de lá do rio Guadiana. Eram tempos diferentes, ainda de fronteiras abertas e sem vírus à solta.

Com estas mesmas fronteiras fechadas como medida de contenção da pandemia, "esperava-se um boom" de clientes nas gasolineiras portuguesas nesta margem. "Mas ainda não há carros, está tudo parado", conta Alexandre. O DN percorreu cinco gasolineiras na zona e o ambiente não podia ser mais sereno, fazendo adivinhar um país ainda a meio gás. "Mesmo as firmas que têm cartão [cliente] daqui não vêm."

O país avança no plano de desconfinamento, tendo entrado nesta segunda-feira na terceira fase, e com isto chega a esperança de ver crescer a circulação nestas ruas e aumentar finalmente as vendas. A alguns quilómetros de onde trabalha Alexandre está "Jorge" (nome fictício, porque decidiu ficar anónimo), também funcionário de um posto de combustível, a aguardar "dias mais felizes". "É preciso que as pessoas venham para a rua, que as empresas comecem a funcionar normalmente" para garantir trabalho.

No entanto, as fronteiras também começam a abrir. Um despacho conjunto dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Administração Interna definia "a título excecional e temporário" determinados horários para atravessar as fronteiras com Espanha nas localidades de Rio de Onor (Bragança), Tourém (Vila Real) e Barrancos (Beja). A partir desta segunda-feira, 1 de junho, às quartas-feiras e aos sábados, entre as 10.00 e as 12.00, "Rio de Onor, que faz fronteira com a Rua da Costa, caminho rural, é ponto de passagem autorizado na fronteira terrestre". Em Tourém e Barrancos, o ponto de passagem decorrerá às segundas-feiras e às quintas-feiras, entre as 06.00 e as 08.00 e das 17.00 às 19.00.

A sul, Castro Marim e Vila Real de Santo António, com uma economia virada para Espanha, continuam por conta própria. Aqui, as gasolineiras vão dependendo do desconfinamento dos mais aventureiros.

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