Gary Oldman a espreitar a 3.ª Guerra Mundial
Temos Gary Oldman no poster de um filme de ação lançado com algum aparato promocional. Nome em grande destaque e rosto a ocupar metade do poster. Puro engano, Hunter Killer, o filme que nos dá Oldman após o seu Óscar deste ano por A Hora Mais Negra, de Joe Wright, não é um veículo para o ator britânico. Oldman, diga-se a verdade, evapora-se a meio do filme e tem apenas um papel secundário sem grande esforço.
Aliás, em Hunter Killer ninguém se esforça muito, nem mesmo o protagonista, o escocês Gerard Butler, de novo a fazer de herói, aqui um capitão americano que comanda uma missão de um submarino do exército americano que poderá resgatar o Presidente russo, raptado por um ministro da defesa com obsessões bélicas semelhantes às de Jair Bolsonaro.
Sustentado por uma elisão de credibilidade narrativa (a intriga mete ainda uma força de elite em terra a remeter para a pancadaria à Rambo...), o filme de Donovan Marsh é um autêntico festival de ação implausível, onde além de clichés sobre a Guerra Fria e as relações EUA e Rússia, temos um autêntico caldeirão de roubos de atmosferas de filmes como Caça ao Outubro Vermelho passando por Maré Vermelha. Ou seja, a fórmula do thriller de submarino encenada sem particular fervor ou graça. Rotina de indústria que neste caso atinge mesmo uma dimensão cansativa e lenta.
Hunter Killer, louve-se ao menos isso, tenta ser de "velha escola" em relação à sua abordagem de formato. Nesse sentido, dispensa a montagem de "videojogo" à Michael Bay e tenta estabelecer formas de de avanço narrativo através de diálogos supostamente tensos e de "mind-games". Esse esquema é apenas pontualmente traído quando o realizador acelera bruscamente a velocidade dos frames sem percebermos porquê.
Sem desvios de humor ou pontos de ironia, é um filme "macho-macho" de ação que poderia ter vindo do baú dos anos 1980, mesmo quando inventa uma Presidente dos EUA. E por Gerard Butler figurar como herói titular, é legítimo pensarmos na fórmula de Assalto à Casa Branca, franchise da mesma produtora, a Millennium, produtora de Hollywood com dinheiro israelita que tem produzido este tipo de cinema de ação jurássico (os novos Rambo, Os Mercenários e outros produtos do género). Donovan Marsh faz trinta e um por uma linha para dar alguma dignidade à coisa, mesmo quando obriga o espetador a desesperar com um tom que se leva demasiado a sério, em especial ao fustigar-nos através da "dignidade" do russo bonzinho, o oficial simpático criado por Michael Nyqvist (Millennium 1 - Os Homens que Odeiam as Mulheres) , ator sueco que faleceu depois das filmagens. Além do mais, dentro do submarino, a câmara de Marsh parece perdida num confinamento que requeria um outro engenho cinematográfico.
Além dos já mencionados Nyqvist, Oldman e Butler, o elenco de Hunter Killer tem também muitos rostos conhecidos, entre os quais Toby Stephens, Common, Linda Cardellini e Caroline Goodhall. Dê por onde der, Hunter Killer, não será daqueles "filmes tão maus que fica bom", nem por sombras...
** Fraco