Gaia: 'gente real' da beira-rio está a desaparecer
Não questionam a reabilitação do centro histórico de Gaia, mas, dizem, "a gente real está esquecida e a desaparecer em troca de uma modernidade que aniquila e desrespeita o bem mais precioso de uma terra". "Ninguém é contra o desenvolvimento, é lógico que está muito melhor", diz Abílio Guimarães, um dos porta-vozes de um movimento que dá os primeiros passos na defesa dos moradores: "Também queremos crescer social e economicamente, mas estamos entregues ao bilhete postal."
Segundo este movimento cívico, "nunca nenhuma família foi realojada no centro histórico e com certeza nunca o será", diz, antes de assinalar que haverá realojamentos em General Torres, "quando podiam fazer o restauro das casas devolutas". "Sentimo-nos enganados com esta política de abandono escudada na melhoria de condições de habitabilidade, que deu lugar a deportações para bairros sociais", critica.
O DN pediu um comentário à Câmara Municipal de Gaia (CMG), mas foi o presidente da Junta de Freguesia de Santa Marinha a fazê-lo. Joaquim Leite diz que a questão "é falaciosa" e que a autarquia, com a chegada de Luís Filipe Menezes, construiu 4 mil fogos para famílias "que viviam em condições sub-humanas". "Actualmente, está a construir um empreendimento social na Rua General Torres, no Centro Histórico, que terá 40 famílias que estavam deslocadas".
A câmara criou a Sociedade de Reabilitação Urbana, "que incentiva os proprietários a reabilitar os imóveis", e comprou o prédio onde está a sede do Clube Desportivo do Torrão. "Vai reabilitá-lo, fazer nova sede e permitir que os outros andares sejam habitados. Na próxima semana vão ser entregues quatro casas da "Tuna Musical de Santa Marinha", alugadas a preços sociais", diz Joaquim Leite. Adianta ainda que a SRU comprou um prédio na zona de Fervença para instalar um equipamento cultural.
"Não havendo pessoas, comércio e colectividades entraram em crise e o que era uma terra pejada de gente deu lugar a um sítio amorfo", afirma ainda o movimento, apontando "a aberrante ideia" de restringir o acesso automóvel, que dizem afastar os ex-habitantes que ali vão socializar, familiares de moradores, e os que recorrem "ao já debilitado comércio". Joaquim Leite contrapõe que a Câmara atribui via verde gratuita a cada morador e trabalhador com carro, mais autorização para estacionar.
O movimento atira ainda com o há muito anunciado pavilhão para a prática desportiva da EB 2,3 e a falta de actividades para a população. O Complexo Desportivo, Cultural e Recreativo "Zé da Micha", reabilitado pela autarquia, "é um elefante branco que podia ser uma mais-valia para a população".
Segundo a Junta, este espaço permite a prática de futebol de cinco, basquetebol e ténis de mesa, mas Abílio Guimarães diz que não há política desportiva. Quanto ao pavilhão, Joaquim Leite adianta que a CMG "comprou um terreno e disponibilizou-o à DREN para construção". "Contudo, temos visto que não tem sido uma prioridade", lamenta.