O governo japonês não deixou nada ao acaso e apostou numa agenda ambiciosa empenhada na transição digital, nos desequilíbrios estruturais da economia globalizada e na reforma urgente da Organização Mundial do Comércio (no que conta com o apoio da UE). Mas os temas mais mediáticos serão a guerra comercial entre os EUA e a China, o estado de pré-guerra entre EUA e Irão e o combate às alterações climáticas..Osaka preparou-se a preceito para receber os chefes de Estado e de governo das 20 maiores economias mundiais. A segunda cidade japonesa está vigiada por 32 mil polícias e 60 navios da guarda costeira. O trânsito está cortado em certas artérias e 700 escolas estarão fechadas durante os dois dias da cimeira, apesar de o encontro se realizar no centro de congressos da cidade, localizada numa ilhota na periferia. Até a prostituição é suspensa: os 160 estabelecimentos - oficialmente são restaurantes, uma vez que o comércio sexual é ilegal - do bairro de Tobita-Shinchi tomaram a iniciativa de encerrar, o que acontece pela primeira vez desde as cerimónias fúnebres do imperador Hirohito, em 1989..Pressão interna.A cimeira realiza-se num momento em que vários líderes estão, de uma ou de outra forma, sob pressão ou em fragilidade interna. A começar pelo norte-americano Donald Trump, que não esconde a ira pela ida do procurador especial Robert Mueller ao Congresso para testemunhar sobre a investigação que conduziu à interferência russa nas eleições presidenciais. O homem com quem vai ter o encontro mais esperado, o presidente chinês, Xi Jinping, vê-se a braços com uma revolta generalizada em Hong Kong devido à lei da extradição. Os ativistas da antiga colónia britânica têm apelado aos participantes para levarem a questão para a mesa, mas o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Jun, disse que Pequim não vai permitir que o tema seja abordado, já que o considera "um assunto interno" sobre o qual "nenhum país estrangeiro" deve interferir. A isto junta-se a preocupação com os direitos humanos no país mais populoso. O caso da população muçulmana uigure, que terá um milhão de pessoas em "campos de reeducação", poderá também ser abordado..A menos de um mês de sair do cargo, a primeira-ministra do Reino Unido Theresa May não exercerá grande poder, mas também poderá sentir-se mais livre para defender os cidadãos de Hong Kong ou o combate às alterações climáticas. No dia em que chegou ao Japão, o seu governo comprometeu-se em cortar as emissões de carbono para zero em 2050. Durante a viagem contou aos jornalistas que no local em que costuma passar férias na Suíça tem observado "o glaciar a desaparecer rapidamente". "O G20 representa 80% das emissões, por isso não é só o que o Reino Unido faz, mas o que podemos fazer juntos", disse..Emmanuel Macron não está a dias de sair do Eliseu, mas continua a não convencer os franceses. Para o presidente, que estará também a negociar os cargos de topo da União Europeia, a questão ambiental é prioritária. À chegada ao Japão advertiu: "Se, para chegarmos a um acordo numa sala de 20 pessoas, não formos capazes de defender a ambição em matéria de clima, será sem a França. É simples!" E ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro deixou o recado de que Paris não vai assinar um acordo comercial com o Mercosul se Brasília se retirar do Acordo de Paris sobre o clima..Brasil preocupa.Também a chanceler Angela Merkel, que no espaço de uma semana mostrou duas vezes sinais de saúde fragilizada, não escondeu a "grande preocupação" sobre a "atuação do novo presidente brasileiro" no que respeita ao meio ambiente. No Bundestag, Merkel recusou a ideia de suspender as negociações e posterior aprovação do acordo comercial entre a União Europeia e o bloco sul-americano, mas disse que iria confrontar o brasileiro sobre o desmatamento da Amazónia. "Durante a cimeira do G20 vou aproveitar a oportunidade para falar diretamente sobre o tema, porque vejo como dramático o que está a acontecer no Brasil", disse a governante alemã..Debaixo de fogo pelos europeus, Bolsonaro viu a sua comitiva apanhada num escândalo. Um sargento da Força Aérea, que seguia na comitiva, foi preso em Sevilha, onde o avião fez escala, com 39 quilos de cocaína. Bolsonaro, que, por não ter programa oficial, se passeou por Osaka e foi a uma churrasqueira, respondeu de forma ácida à chegada aos comentários de Merkel. "Isso é problema meu. Nós temos exemplo para dar à Alemanha, inclusive sobre meio ambiente. A indústria deles continua sendo fóssil, em parte de carvão, e a nossa não. O governo do Brasil que está aqui não é como alguns anteriores que vieram aqui para serem advertidos por outros países. Não aceitaremos o tratamento como no passado, em alguns casos com chefes de Estado que estiveram aqui." É a primeira vez que o Japão recebe uma cimeira do G20..Também o príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohamed bin Salman continua sob pressão pela morte do ativista e colunista do The Washington Post Jamal Khashoggi. Uma relatora especial da ONU, Agnes Callamard, concluiu que o príncipe deve ser investigado sobre o assassínio de Khashoggi num relatório de cem páginas, mas em Riade o conteúdo do relatório foi recebido como "alegações sem fundamento"..Trégua entre Trump e Xi?.Donald Trump e Xi Jinping estarão interessados em anunciar um acordo, ainda que provisório. Segundo o South China Morning Post, que cita fontes próximas das duas delegações em Osaka, o acordo prevê o adiamento da aplicação de mais taxas alfandegárias por parte dos EUA, no valor de 300 mil milhões de dólares. Pequim quer que Washington acabe com as sanções à empresa de telecomunicações Huawei e em troca compromete-se a comprar mais produtos norte-americanos - o setor agrícola dos EUA, por exemplo, foi bastante afetado com a guerra comercial..O jornal de Hong Kong revela que o adiamento da imposição das tarifas adicionais foi a condição imposta pelo presidente chinês, Xi Jinping, para se reunir com o homólogo norte-americano, Donald Trump, durante o G20. O objetivo desta trégua, que as fontes sugerem que durará cerca de seis meses, seria retomar as negociações, visando pôr fim à guerra comercial que começou no verão passado..No entanto, e tendo em conta o temperamento de Donald Trump, as fontes citadas pelo jornal temem que o presidente dos EUA mude de ideias a qualquer momento. Na quarta-feira anunciara estar "preparado" para impor novas taxas alfandegárias, caso as negociações fracassem. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, garantiu que um acordo comercial entre a China e os Estados Unidos está concluído em 90 por cento..Na quinta-feira, Xi Jinping encontrou-se com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. "Os dois líderes concordaram em desenvolver um sistema de comércio livre e justo", disse no final o vice-secretário do gabinete nipónico. Ambos os países estão envolvidos numa disputa comercial com os Estados Unidos, já que a maior economia do mundo ameaça com tarifas para reverter o que o presidente Donald Trump diz serem desequilíbrios injustos que prejudicam a economia dos EUA.
O governo japonês não deixou nada ao acaso e apostou numa agenda ambiciosa empenhada na transição digital, nos desequilíbrios estruturais da economia globalizada e na reforma urgente da Organização Mundial do Comércio (no que conta com o apoio da UE). Mas os temas mais mediáticos serão a guerra comercial entre os EUA e a China, o estado de pré-guerra entre EUA e Irão e o combate às alterações climáticas..Osaka preparou-se a preceito para receber os chefes de Estado e de governo das 20 maiores economias mundiais. A segunda cidade japonesa está vigiada por 32 mil polícias e 60 navios da guarda costeira. O trânsito está cortado em certas artérias e 700 escolas estarão fechadas durante os dois dias da cimeira, apesar de o encontro se realizar no centro de congressos da cidade, localizada numa ilhota na periferia. Até a prostituição é suspensa: os 160 estabelecimentos - oficialmente são restaurantes, uma vez que o comércio sexual é ilegal - do bairro de Tobita-Shinchi tomaram a iniciativa de encerrar, o que acontece pela primeira vez desde as cerimónias fúnebres do imperador Hirohito, em 1989..Pressão interna.A cimeira realiza-se num momento em que vários líderes estão, de uma ou de outra forma, sob pressão ou em fragilidade interna. A começar pelo norte-americano Donald Trump, que não esconde a ira pela ida do procurador especial Robert Mueller ao Congresso para testemunhar sobre a investigação que conduziu à interferência russa nas eleições presidenciais. O homem com quem vai ter o encontro mais esperado, o presidente chinês, Xi Jinping, vê-se a braços com uma revolta generalizada em Hong Kong devido à lei da extradição. Os ativistas da antiga colónia britânica têm apelado aos participantes para levarem a questão para a mesa, mas o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Jun, disse que Pequim não vai permitir que o tema seja abordado, já que o considera "um assunto interno" sobre o qual "nenhum país estrangeiro" deve interferir. A isto junta-se a preocupação com os direitos humanos no país mais populoso. O caso da população muçulmana uigure, que terá um milhão de pessoas em "campos de reeducação", poderá também ser abordado..A menos de um mês de sair do cargo, a primeira-ministra do Reino Unido Theresa May não exercerá grande poder, mas também poderá sentir-se mais livre para defender os cidadãos de Hong Kong ou o combate às alterações climáticas. No dia em que chegou ao Japão, o seu governo comprometeu-se em cortar as emissões de carbono para zero em 2050. Durante a viagem contou aos jornalistas que no local em que costuma passar férias na Suíça tem observado "o glaciar a desaparecer rapidamente". "O G20 representa 80% das emissões, por isso não é só o que o Reino Unido faz, mas o que podemos fazer juntos", disse..Emmanuel Macron não está a dias de sair do Eliseu, mas continua a não convencer os franceses. Para o presidente, que estará também a negociar os cargos de topo da União Europeia, a questão ambiental é prioritária. À chegada ao Japão advertiu: "Se, para chegarmos a um acordo numa sala de 20 pessoas, não formos capazes de defender a ambição em matéria de clima, será sem a França. É simples!" E ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro deixou o recado de que Paris não vai assinar um acordo comercial com o Mercosul se Brasília se retirar do Acordo de Paris sobre o clima..Brasil preocupa.Também a chanceler Angela Merkel, que no espaço de uma semana mostrou duas vezes sinais de saúde fragilizada, não escondeu a "grande preocupação" sobre a "atuação do novo presidente brasileiro" no que respeita ao meio ambiente. No Bundestag, Merkel recusou a ideia de suspender as negociações e posterior aprovação do acordo comercial entre a União Europeia e o bloco sul-americano, mas disse que iria confrontar o brasileiro sobre o desmatamento da Amazónia. "Durante a cimeira do G20 vou aproveitar a oportunidade para falar diretamente sobre o tema, porque vejo como dramático o que está a acontecer no Brasil", disse a governante alemã..Debaixo de fogo pelos europeus, Bolsonaro viu a sua comitiva apanhada num escândalo. Um sargento da Força Aérea, que seguia na comitiva, foi preso em Sevilha, onde o avião fez escala, com 39 quilos de cocaína. Bolsonaro, que, por não ter programa oficial, se passeou por Osaka e foi a uma churrasqueira, respondeu de forma ácida à chegada aos comentários de Merkel. "Isso é problema meu. Nós temos exemplo para dar à Alemanha, inclusive sobre meio ambiente. A indústria deles continua sendo fóssil, em parte de carvão, e a nossa não. O governo do Brasil que está aqui não é como alguns anteriores que vieram aqui para serem advertidos por outros países. Não aceitaremos o tratamento como no passado, em alguns casos com chefes de Estado que estiveram aqui." É a primeira vez que o Japão recebe uma cimeira do G20..Também o príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohamed bin Salman continua sob pressão pela morte do ativista e colunista do The Washington Post Jamal Khashoggi. Uma relatora especial da ONU, Agnes Callamard, concluiu que o príncipe deve ser investigado sobre o assassínio de Khashoggi num relatório de cem páginas, mas em Riade o conteúdo do relatório foi recebido como "alegações sem fundamento"..Trégua entre Trump e Xi?.Donald Trump e Xi Jinping estarão interessados em anunciar um acordo, ainda que provisório. Segundo o South China Morning Post, que cita fontes próximas das duas delegações em Osaka, o acordo prevê o adiamento da aplicação de mais taxas alfandegárias por parte dos EUA, no valor de 300 mil milhões de dólares. Pequim quer que Washington acabe com as sanções à empresa de telecomunicações Huawei e em troca compromete-se a comprar mais produtos norte-americanos - o setor agrícola dos EUA, por exemplo, foi bastante afetado com a guerra comercial..O jornal de Hong Kong revela que o adiamento da imposição das tarifas adicionais foi a condição imposta pelo presidente chinês, Xi Jinping, para se reunir com o homólogo norte-americano, Donald Trump, durante o G20. O objetivo desta trégua, que as fontes sugerem que durará cerca de seis meses, seria retomar as negociações, visando pôr fim à guerra comercial que começou no verão passado..No entanto, e tendo em conta o temperamento de Donald Trump, as fontes citadas pelo jornal temem que o presidente dos EUA mude de ideias a qualquer momento. Na quarta-feira anunciara estar "preparado" para impor novas taxas alfandegárias, caso as negociações fracassem. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, garantiu que um acordo comercial entre a China e os Estados Unidos está concluído em 90 por cento..Na quinta-feira, Xi Jinping encontrou-se com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. "Os dois líderes concordaram em desenvolver um sistema de comércio livre e justo", disse no final o vice-secretário do gabinete nipónico. Ambos os países estão envolvidos numa disputa comercial com os Estados Unidos, já que a maior economia do mundo ameaça com tarifas para reverter o que o presidente Donald Trump diz serem desequilíbrios injustos que prejudicam a economia dos EUA.