"Futebolistas podem estar um ano sem receber. Ajudem quem precisa"

Internacional argentino do Boca Juniors colocou-se à disposição do governo para ir levar comida às pessoas que vivem em bairros carenciados.
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A mensagem chega de Carlos Tévez, internacional argentino e figura do Boca Juniors, numa altura em que a discussão em torno da redução dos salários dos jogadores está na ordem do dia e as dificuldades dos clubes e instituições em geral assumem graves proporções devido à pandemia de covid-19. Para o futebolista sul-americano, a prioridade dos governos deve ser ajudar quem mais precisa e nesse sentido colocou-se à disposição.

"O jogador de futebol pode viver seis meses, um ano, sem receber. Não está em desespero como alguém que vive com crianças a seu cargo, que tem que sair de casa às seis da amanhã e só regressa à noite para de comer à família. Não somos exemplo neste caso, sim em outras coisas. Ajudem que precisa", disse ao canal América TV.

Tévez diz que é a altura de os jogadores de futebol passarem à ação e ajudarem quem realmente precisa. "Temos que estar presentes e ajudar, estar na sala de jantar com as pessoas. Para nós futebolistas é muito fácil falarmos das nossas casas, sabendo que temos comida para dar aos nossos filhos. Mas há pessoas que estão desesperadas, que nem sequer podem sair de casa. E isso é preocupante. Temos que estar onde possamos estar com as pessoas necessitadas."

"Coloco-me à disposição do governo e do clube para ajudar. Não gosto de fantasiar sobre muitas coisas, porque quando se ajuda é do coração. Não é para estar num vídeo. Coloco-me à disposição do clube, mesmo que isso signifique entregar mercadorias numa casa de um bairro. Ou por exemplo ir às cozinhas de sopa em La Boca. Ficava feliz se fosse. Eu sei que a minha família está bem. Por isso estar com estas pessoas vai tornar-nos muito mais fortes. É aí que começa o grande exemplo", declarou.

"Estamos a perceber que somos todos iguais. Isto atinge-nos a todos, especialmente os nossos avós, seja na Argentina ou nos Estados Unidos. Se cabe a você, se envolva. Espero sinceramente que consigamos crescer como uma sociedade e que amanhã isto tenha mudado o mundo para melhor", concluiu.

Tévez nasceu e passou a infância no problemático bairro Forte Apache, em Buenos Aires. Sem pai, que foi assassinado ainda antes do futebolista argentino ter nascido, viu-se renegado pela mãe, que o entregou à irmã, pelo que o jogador foi criado pelos tios, a quem ainda hoje chama pais.

Mas os problemas não terminaram. Tinha apenas 10 meses quando água a ferver de uma chaleira lhe caiu em parte do corpo, um acidente que o levou para a cama do hospital. A situação esteve complicada e obrigou-o mesmo a uma terapia intensiva, mas não se livrou das marcas que hoje ainda são bem visíveis.

O ambiente no bairro Fuerte Apache era péssimo e um dos seus melhores amigos, a quem chamavam Cabañas, era um dos membros de um grupo de criminosos denominados Los Backstreet. O futebol ajudou-o a fugir da vida marginal e em entrevistas que concedeu já como jogador profissional deixou claro que se não fosse o jeito que tinha para o futebol teria seguido os amigos e "acabaria morto ou na prisão". Aliás, a história da infância de Carlos Tévez está recriada numa série de oito episódios na plataforma Netflix, com depoimentos do próprio jogador do Boca Juniors.

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