Franck Dubosc: "É esgotante filmar com crianças!"

Na semana do lançamento nas salas da comédia familiar <em>Mãe Fora, Dia Santo em Casa...Outra Vez!</em>, Franck Dubosc, a estrela do humor industrial francês, conta como foi interpretar um pai em apuros nas férias com os filhos. Um comediante que sabe que o humor francês não é fácil de ser exportado...
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Depois de Mãe Fora, Dia Santo em Casa, de Ludovic Bernard, onde se falava de um pobre pai em casa a cuidar dos filhos sem a mulher, eis que a mesma família tem uma sequela: Mãe Fora, Dia Santo em Casa...Outra Vez!, do mesmo realizador. Novo exemplo da comédia popular francesa que continua a atrair os distribuidores portugueses. Filmes como Que Mal Fiz Eu a Deus?, de Phillipe de Chauveron ou Bem-Vindos a África, de James Huth, espantaram realmente nas bilheteiras...

Desta vez, os Mercier preparam-se para umas férias na neve numa estância de ski. Quando tudo parecia correr pelo melhor, a mãe acaba por não se poder juntar devido a uma emergência no trabalho. Mais uma vez, o pai Antoine tem de lidar sozinho com os seus quatro irrequietos filhos.

Nesta comédia familiar, as atenções estão de novo viradas para o ídolo da comédia francesa, o veterano Franck Dubosc, o desgraçado pai, que tem de aturar as diabruras dos seus filhos, cada um mais insolente que o outro. Conhecido de filmes como Assim Não Vais Longe (2018), Os Reis do Disco (2008) ou Astérix nos Jogos Olímpicos (2008), é um dos nomes com maior cachet da indústria do cinema francês, quase sempre como estrela de comédias pensadas para o grande público pouco exigente.

Vindo da comédia televisiva nos Anos 1970, Franck notabilizou-se também no teatro e em espetáculos de comédia a solo. A sua figura é associada muitas vezes a uma caricatura do pai de família francês cheio de preconceitos. É também sempre um alvo a abater pela crítica cinematográfica. Em Paris recebeu o DN numa suite de um hotel onde estava todo o seu staff de agentes. "Star power", como se diz em Hollywood.

Este humor popular francês exporta-se?

O humor é de difícil exportação, ponto final. O drama exporta-se melhor do que a comédia. O ser humano não se ri das mesmas coisas, mesmo nós os franceses dividimo-nos nessa questão. Mas há países mais sensíveis para certo tipo de humor. Os países do sul, a Itália, a Espanha e vocês, estão mais próximos do nosso humor. Com as pessoas do norte o humor é diferente. No caso destes filmes, o tema é mesmo universal, trata-se de brincar com isto da paternidade.

Por outro lado, em Portugal nunca foi estreado em sala Campistas, uma comédia onde era protagonista e que foi um fenómeno em França.

Aí está: esse humor tocou mais os povos do norte! Tem mesmo a ver com o tema do campismo. O tema dos pais e filhos toca mais os portugueses, creio, é algo bastante latino. Os franceses e os portugueses talvez sejam pais mais permissivos. Aliás, o tema da família diz muito aos latinos. E é importante saber rir com os temas da família, sobretudo com a figura do papá.

Mas consegue realmente explicar a razão do sucesso do filme original?

Porque tudo aquilo acontece de facto! Todos nós, pais, passamos por estas situações com os miúdos! Vou-lhe contar, depois da rodagem de Mãe Fora, Dia Santo na Casa, aconteceu-me ficar sozinho com os meus filhos durante uns dias. Felizmente, foram apenas cinco dias...E tirei apontamentos do que tinha que fazer, entrei para o grupo whatsapp com os outros pais, etc. Agora abordamos as questões do ski e eu sei que vocês não são tão adeptos deste desporto como nós. Só a ideia da logística de umas férias de ski em família tem piada...Mas qualquer pai sozinho com os filhos remete para uma situação de humor universal. O título em francês já diz tudo: 10 Dias sem a Mamã, Outra Vez! E desta vez os miúdos são mais adultos do que os próprios adultos. Enfim, é o verdadeiro filme que os pais podem levar os filhos.

Os tropeções e os acidentes da sua personagem vão buscar muito a uma tradição de humor físico. Para um ator isso proporciona um grande prazer, certo?

Não, qual prazer? Cansa imenso o humor físico! Fazer rir com as palavras é muito menos fatigante. Acredite, cair na neve no ski é muito complicado! Muitas daquelas quedas são mesmo minhas, não são com o duplo. Tentei ser eu sempre a cair, mas por vezes teve mesmo de ser o duplo para a queda ser mais espetacular. Felizmente tivemos duplos! Muitas vezes não posso fazer ski porque é perigoso antes de uma rodagem, está nos contratos...Pessoalmente, não suporto fazer ski com os meus filhos. Sou igual à personagem do filme. Quem leva as crianças ao ski é a minha mulher.

Estamos então perante a nova comédia realista francesa...

Sim, exato! Foca todo o pesadelo de preparar uma criança para o ski!

O Frank é um dos rostos mais conhecidos em França. Ser uma celebridade está cada vez mais duro?

Habituei-me, já sou conhecido há muito! Sei gerir a coisa. Complicado é quando estou precisamente com os miúdos. Os meus filhos odeiam-me quando sou abordado. Querem mesmo estar à vontade e nem posso ir às reuniões de pais da escola, eles não me deixam. Na rua, quando estou com eles, as pessoas até os ignoram e vêm para cima de mim... Sempre foi assim e eles não gostam nada. Há coisas mais difíceis.

No humor em cinema há quem diga que a improvisação se torna mais complicada. É dessa opinião?

Não se pode improvisar em comédia no cinema, muda-se logo os tempos! O máximo que é possível é poder-se propor algo. A comédia é uma arte muito precisa, tem de ser toda escrita e representada com rigor. Só acredito na improvisação trabalhada. Temos de ter em conta que quando se improvisa estamos a afetar o cameraman, o colega ator, etc.

Mas nestes filmes contracena com crianças, não é diferente?

Pois, com eles somos obrigados a deixar entrar a improvisação e deixarmo-nos ir nesse caminho. Não é nada fácil, deixe-me dizer...É esgotante filmar com crianças! Com o menino mais novo encontrei um código para representarmos que me obriga a estar muito atento. Tenho de estar mais concentrado nele do que em mim. Uma vez apanhei-o a ter uma birra antes de rodarmos e tive de ser eu a acalmá-lo. O mais simpático nisto é que desenvolvi com ele uma relação quase de papá. Seja como for, sou um partidário dessa ideia que comunga que interpretar um filme dramático é muito mais fácil do que fazer uma comédia.

Há uma vontade de fazer mais uma continuação?

Sim porque aí podíamos ver os miúdos a crescer! Veja-se a evolução da menina: no primeiro filme foi o seu primeiro período, aqui é o seu primeiro amor. Teremos material divertido mas também comovente...

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