Fracasso da base de Óbidos forçou etarras à trégua
"A ETA pára porque não pode mais e fá-lo depois do desmantelamento da base portuguesa de Óbidos e de uma outra base em Girona. A ETA pára para se reconstituir, ninguém deve iludir-se." Foi com estas palavras que o ministro do Interior espanhol reagiu ontem à trégua anunciada no domingo pela organização terrorista basca. Numa entrevista que deu à estação de televisão TVE, Alfredo Pérez Rubalcaba criticou que no comunicado os etarras digam que a decisão de não levar a cabo mais acções armadas foi tomada há meses e "não digam que decidiram parar porque se encontravam numa debilidade extrema".
Nos últimos dois anos, sete líderes etarras foram detidos, na sua maioria em França. Só nos primeiros três meses deste ano, 32 operacionais acabaram presos, em Espanha, Portugal e França. A vivenda de Óbidos, onde no início de Fevereiro foram encontrados 1500 quilos de explosivos, 300 dos quais estavam prontos a detonar, foi considerada como uma das maiores fábricas de bombas da organização dos últimos anos.
Rubalcaba classificou como insuficiente a trégua declarada num vídeo enviado à BBC, descartou qualquer hipótese de diálogo com os etarras e garantiu que a política antiterrorista do Governo socialista não sofrerá alterações. Ou seja, a repressão policial sem cedências vai continuar em Espanha e para além das suas fronteiras, impedindo que a organização terrorista se rearme para voltar a atentar e consiga voltar a participar na vida política do País Basco.
"Não mudamos uma vírgula na nossa política antiterrorista. A ETA mata para impor e, portanto, não se pode dialogar. E, por isso, o Estado diz-lhe não, não e não", afirmou o governante espanhol. O Executivo de Zapatero parece ter aprendido a lição com o último cessar-fogo permanente da ETA, declarado a 22 de Março de 2006, durante o qual a repressão policial terá sido afrouxada em nome da negociação de uma solução política para aquela comunidade - cuja independência é defendida pelos etarras através da força.
Esta trégua terminou abruptamente a 30 de Dezembro de 2006 quando os etarras liderados pelo chefe militar Txeroki, preso em França em Novembro de 2008, fizeram explodir o terminal 4 do aeroporto internacional de Barajas, matando dois cidadãos equatorianos que dormiam nos carros. Longe da organização fundada há 51 anos no tempo da ditadura fascista do general Franco, a ETA, que até hoje matou 829 pessoas, está agora dominada por operacionais muito novos e inexperientes.
A trégua de domingo foi por tudo isto encarada com uma grande dose de cepticismo. O vice-secratário-geral do PSOE e ministro responsável pelo Desenvolvimento, José Blanco, disse à rádio Onda Cero: "A ETA está muito debilitada e procura uma janela de oportunidade. Mas não existem oportunidades sem o abandono definitivo das armas e da violência", declarou o braço-direito do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero.
O líder do Partido Popular, principal partido da oposição, afirmou que nada mudou após o comunicado dos etarras e que por isso não deve mudar também a política antiterrorista do Estado. "O único anúncio de que estamos à espera é o da dissolução da ETA." O presidente do Governo autónomo basco, Patxi López, disse que a trégua "não serve para nada".
López governa o primeiro Executivo não nacionalista basco da Espanha democrática. O Batasuna, ilegalizado desde 2003, por ser considerado a ala política da ETA, destacou que a trégua dá um "contributo indiscutível para a paz". Mas Rubalcaba já avisou: "Ou rompem de vez com a ETA ou convencem-na a abandonar a violência definitivamente."