Fotógrafo português Gonçalo Fonseca distinguido pela Leica

O fotógrafo português Gonçalo Fonseca foi distinguido com o prémio Leica Oskar Barnack, na categoria novos talentos, com um conjunto fotografias sobre a crise da habitação em Lisboa.
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Gonçalo Fonseca, de 27 anos, foi distinguido na categoria "Newcomer" do prémio Leica Oskar Barnack 2020, criada para premiar novos talentos, pelo trabalho intitulado "New Lisbon", uma série 19 fotografias que reportam a dramática situação dos residentes em habitações de Lisboa, cujos preços têm subido exponencialmente nos últimos anos.

"Este trabalho é o resultado de algumas inquietações que me surgiram ao passear por Lisboa, que é a minha cidade, onde eu nasci e onde moro", conta ao DN Gonçalo Fonseca, que começou a fazer este trabalho no início de 2019 e terminou-o já este ano, durante o confinamento.

O fotógrafo tinha estado a trabalhar na Índia em 2018 e, ao voltar a Portugal, ficou impressionado com as mudanças que viu em Lisboa. "Encontrei muitas histórias que estavam a ficar atrás de portas fechadas e que eu achei que tinham que ser contadas", explica. "Primeiro reparei nas lojas e nos restaurantes que já tinham fechado e isso depois levou a uma preocupação com a habitação. No centro da cidade, as pessoas estavam a sofrer bullying para deixar as suas casas mas não tinham para onde ir."

"O boom do turismo, a especulação imobiliária e a progressiva gentrificação provocaram a deslocação de milhares de pessoas da cidade, alguns deles depois de viver toda a vida em casas antigas. Muitas destas pessoas ficaram sem abrigo ou tornaram-se ocupantes ilegais" de edifícios abandonados, explica Gonçalo Fonseca no texto de apresentação do trabalho. Nas fotografias, que entretanto foram publicadas no semanário Expresso e noutros meios internacionais, são visíveis as difíceis condições de vida das pessoas e a forma como procuram adaptar-se ao impacto da pressão imobiliária, improvisando lugares de abrigo.

Cada fotografia é acompanhada por uma pequena legenda, que conta a história daquela imagem. Gonçalo Fonseca sabe os nomes de todas as pessoas que fotografou e, mais do que isso, criou uma relação com elas. "Este é um trabalho de muita proximidade", explica ao DN. Para conseguir captar estas imagens, ele passou muito tempo com aquelas pessoas, teve que conquistar a sua confiança. "São momentos de muita intimidade. A fotografia é só a parte visível deste trabalho."

"Continuo em contacto com a maioria destas pessoas, que deram um passo de coragem ao partilharem comigo a história das suas vidas", diz Gonçalo Fonseca no mesmo texto. Por isso, apesar de agora já estar a trabalhar em novos projetos, gostaria de poder continuar a desenvolver esta série sobre Lisboa.

Gonçalo Fonseca nasceu em 1993, estudou Jornalismo na Universidade Católica de Lisboa (2011-2014), e decidiu dedicar-se totalmente à fotografia, tendo continuado os estudos na Universidade Autónoma de Barcelona, em Espanha. Tem realizado trabalhos em Portugal, Espanha, China e Índia para várias publicações internacionais desde 2017.

A trabalhar como freelancer, o fotógrafo ficou muito feliz com o prémio e por poder ver as suas fotografias ao lado de tantos nomes importantes na exposição dos 40 anos do prémio, que está patente a partir desta sexta-feira e até 28 de março de 2021 no Ernst Leinz Museum, em Wetzlar, na Alemanha. O prémio Oskar Barnack, que leva o nome do inventor da marca Leica de máquinas fotográficas, foi atribuído pela primeira vez em 1979, pelo centésimo aniversário do nascimento do criador.

O português irá receber uma câmara Leica no valor de 5 mil euros, um curso de fotografia na Alemanha, e ainda a possibilidade de realizar um trabalho encomendado pela Leica. "Mas o melhor de tudo é mesmo a possibilidade de mostrar o meu trabalho e de fazer algo diferente do que tenho feito", diz.

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