Final do Euro foi um jogo atípico
Uma nota prévia antes de falar do jogo: o destaque para a presença da Itália na final. Uma equipa que, no arranque deste Europeu, poucos apostariam poder estar presente em Kiev, e aí mérito para o seu treinador Cesare Prandelli pela forma como soube trabalhar a seleção dentro e fora de campo.
Tenho simpatia e gratidão por Itália. Foi durante 12 anos a minha casa e por isso ninguém pode levar a mal que o meu coração se inclinasse mais por uma vitória italiana. A verdade, porém, é que sou fã do futebol do país vizinho e é impressionante a raça dos grandes campeões desta seleção espanhola que não se cansam de ganhar.
Quando num mesmo jogo de futebol se conseguem reunir nomes como Xabi ou Iniesta, Pirlo ou Balotelli, Casillas ou Buffon, só podemos esperar um grande jogo. É verdade que numa final, com tantas coisas em jogo e com esta carga emotiva, o espetáculo muitas vezes é relegado para segundo plano, porque o que importa mesmo é ganhar. Nada disso aconteceu ontem.
Um jogo atípico
Quem tivesse imaginado a final de ontem, podia esperar, de início, uma Itália mais compacta e defensiva à espreita de explorar o contra-ataque, com a Espanha a assumir o jogo, no habitual sistema apoiado de passes curtos e muita posse de bola. Contra o futebol rendilhado de Espanha contava-se que a Itália apresenta-se um bloco denso a defender.
Nada disto aconteceu. Foi um jogo atípico para uma final, aberto desde o primeiro minuto.
A Itália apresentou-se a discutir o jogo de igual para igual. A fazer pressão alta, e a verdade é que a Espanha não conseguiu fazer o seu jogo habitual, não se conseguiu instalar no meio campo de Itália. Pelo contrário, a Espanha jogou com passes verticais e muito rápidos a rasgar a defensiva italiana.
Foi assim que se deu o primeiro golo espanhol com um passe de génio de Iniesta ao encontro de Fàbregas, que foi ao limite da linha e centrou atrasado para a cabeça de David Silva. E que dizer do segundo golo? A Espanha chega ao 2-0 numa típica jogada de contra-ataque com uma das revelações espanholas deste Euro, Jordi Alba.
Devo dizer que estranhei a mudança de sistema que a Itália apresentou neste jogo, considerando a forma como abriu o Euro contra esta mesma Espanha. O empate no primeiro jogo refletiu o acerto tático italiano, o que não aconteceu ontem.
O génio de Iniesta
Não se pode dizer que a Itália tenha jogado mal, nada disso. A Itália pagou precisamente por querer jogar de igual para igual. E só foi pena que o jogo tenha acabado tão cedo com a lesão de Thiago Motta. A Itália não merecia tamanho azar e o Europeu merecia ter tido uma final inteira. A verdade é que o grande mérito da Espanha foi ter conseguido anular o meu amigo Pirlo, porque o jogo ofensivo da Itália esteve sempre muito dependente dele, e ontem a Espanha soube anulá-lo.
Com a Itália em inferioridade numérica quase meia hora, não estranhou o terceiro e quarto golos espanhóis, carimbados por Torres que, mais uma vez, entrou na segunda parte, e Mata, que dois minutos depois de se estrear no Euro conseguiu marcar. Uma estreia que nunca irá esquecer.
Espanha entra, com todo mérito, na história como a primeira seleção que faz o Triplete (dois Europeus e um Mundial seguidos). A Itália não merecia este resultado. E Portugal pode orgulhar-se de ter sido a única seleção a resistir a Espanha sem sofrer qualquer golo da nova campeã europeia, nem no tempo regulamentar nem no prolongamento. Foi a única seleção que verdadeiramente conseguiu baralhar o sistema espanhol e isso deve ser valorizado.
Uma palavra final para Iniesta, um jogador único. Um jogador completíssimo, que faz o futebol parecer um jogo simples. Quando assim é só nos podemos render.