Ferro e dois Andrés à espreita de um lugar. O que esperar da convocatória de Santos

Fernando Santos anuncia nesta quinta-feira às 12.30 os convocados para a <em>final four</em> da Liga das Nações, que se realiza entre Guimarães e Porto (5 a 9 junho). Jorge Costa, internacional português e ex-jogador do FC Porto, deixa algumas pistas. O Benfica pode surpreender no número de jogadores chamados.
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São mais as certezas do que as dúvidas em relação à lista final de Fernando Santos para a final four da Liga das Nações (Guimarães e Porto, 5 a 9 de junho). Nesta quinta-feira (12.30), no anúncio do treinador da seleção campeã da Europa há dois Andrés que podem verdadeiramente surpreender: André Almeida (fez uma grande época no Benfica, mas a última chamada à seleção foi em 2015, num particular com Cabo Verde) e André Silva (não joga há quase dois meses, por estar a recuperar de uma lesão). E depois há ainda a possível chamada de Ferro, o jovem central do Benfica de 22 anos. Mas certezas, certezas só mesmo uma - Fernando Santos já disse que é CR7 mais 22.

"O André Almeida fez uma época excecional, ao nível do Ricardo [eleito melhor jogador do Leicester]. O Cancelo é indiscutível. São todos muito idênticos, tirando o Almeida, que tem características diferentes. É discreto mas muito eficaz e inteligente", observou ao DN Jorge Costa, internacional português e ex-jogador do FC Porto que atualmente é treinador do Mumbai City (Índia).

No entanto, André Almeida revelou que jogou limitado nas últimas semanas, o que só por si deve ser motivo para acabar com "surpresas" - e, face ao quadro físico duvidoso de Nélson Semedo, alguém ficaria de queixo caído se o jogador do Benfica se juntasse a João Cancelo nas opções para a lateral direita? Curiosamente, esta é uma posição de fartura teórica (Ricardo, Cédric...), mas os dois principais estão debilitados. Se no caso do lateral do Barcelona se trata de uma lesão (que não deverá ser impeditiva), no de Cancelo trata-se da operação (na terça-feira) para reduzir uma fratura dos ossos nasais. Nada impeditivo, portanto. No lado esquerdo da defesa, Mário Rui (Nápoles) e Raphaël Guerreiro (B. Dortmund) deverão ser os escolhidos. E na baliza também não deverão surgir novidades: Rui Patrício (Wolverhampton), José Sá (Olympiacos) e Beto (Goztepe).

A outra surpresa seria a chamada do avançado do Sevilha, André Silva. "O André Silva não tem estado bem durante a segunda volta e não joga há praticamente dois meses. Espero que, pelo bem do futebol, Portugal não o convoque para jogar pela seleção em junho. Seria algo feio para o futebol. Ele está a receber tratamento e penso que não vai poder jogar, por isso acho que não vai ser convocado. Os relatórios médicos da equipa que lhe paga religiosamente têm de ser respeitados. É algo que magoa os jogadores, mas não somos parvos. Penso que ele não vai jogar pela seleção", disse recentemente o treinador do Sevilha, Joaquín Caparrós.

O esqueleto já está mais ou menos fixo na cabeça do selecionador: Rui Patrício; João Cancelo, Pepe, Rúben Dias e Raphaël Guerreiro; William Carvalho, Danilo, João Moutinho; Bernardo Silva; Cristiano Ronaldo e João Félix. Mas, como assinala Jorge Costa, "tem de haver continuidade, mas não deixa de haver espaço para o momento de forma, como no caso do Rafa, que fez uma época muito boa no Benfica". E João Félix, que dará ao ataque a mobilidade e repentismo consagrados por CR7 e Bernardo Silva. Nas costas, um muro de rigor, intensidade, boa saída de bola e visão de jogo, tudo combinado no trio William-Danilo-Moutinho.

Mas há Rúben Neves e Bruno Fernandes, para não falar de Pizzi, cujos picos de forma sugerem que deverão provocar ansiedade a Fernando Santos. Só que a Suíça, o primeiro adversário de Portugal na prova, é robusta, rápida nas transições e letal na finalização musculada - um tal de Seferovic, melhor marcador da I Liga pelo Benfica (23 golos). E passando os helvéticos, venha o diabo e escolha: a centrifugadora Holanda ou a esplendorosa e explosiva Inglaterra (o tal país que vai ganhar a Champions - Liverpool- Tottenham na final; e Liga Europa - Arsenal-Chelsea na final).

Dos senadores à renovação

Para Jorge Costa, que já foi selecionador (Gabão, mais de três anos) e antigo pupilo de Fernando Santos no penta do FC Porto (há 20 anos, 1999), será a combinação de três pilares a ditar as escolhas do técnico. "Os senadores [consagrados como Pepe, Moutinho e Ronaldo], o bom momento [apontou Ferro e Rafa, além de André Almeida] e a renovação", diz. E explica que além do onze-tipo (que no caso de Portugal é mais um 14 ou 15), além do possível alinhamento supracitado, tem de se lhes juntar Rúben Neves, Bruno Fernandes, Dyego Sousa e Rafa: "É preciso começar a levar o Ferro e o Félix para lhes criar ambiente de seleção e mostrar aos senadores que ninguém tem lugar cativo", diz.

O campeão Benfica dominará a convocatória, como tem sido hábito nos últimos meses: certos estarão Rúben Dias, Pizzi, João Félix e Rafa, igualando o número registado em outubro e que não se verificava há quase 12 anos, e se entrar André Almeida e Ferro passam a ser seis benfiquistas. Depois no meio-campo há também algumas dúvidas em torno da chamada de João Mário, que pouco tem jogado pelo Inter Milão. E Adrien Silva (Mónaco) parece não ter espaço nesta convocatória

E agora, para o especialista: e os defesas centrais? O treinador só chamou três (Pepe, José Fonte e Rúben Dias) nas convocatórias anteriores, mas para uma minifase final deverá levar outro. "Como quarto central levava o outro miúdo do Benfica, o Ferro, na perspetiva desta competição e já a pensar no futuro. Fonte e Pepe já não devem jogar muito mais na seleção e é preciso promover a competitividade", atira Jorge Costa.

Outra vantagem que um central tem é a análise de avançados, independentemente de, depois, a saber executar da melhor forma ou não, claro. "Avançados? Cristiano Ronaldo, João Félix, Bernardo Silva, Rafa. O Gonçalo Guedes vai. E o sexto é o Dyego Sousa. Não tem muita lógica naturalizá-lo e agora deixá-lo de fora. Embora tenha tido um estranho final de época: foi à seleção, deixou de jogar e houve jogos em que não foi titular pelo Sp. Braga", conclui.

Na convocatória anterior (a 15 de março anunciou uma lista de 25 jogadores para os empates com Ucrânia - 0-0, 22 março - e Sérvia - 1-1, 25 março -, ambos no Estádio da Luz), Fernando Santos alegou que ao chamar João Félix e Diogo Jota (estrearam-se nas chamadas para a seleção principal) tinha deixado "15 jogadores de fora". Isto foi num conjunto de 25. Com apenas 23 vagas, serão pelo menos 17 a ver a final four da Liga das Nações na bancada ou na televisão. Desses 25, a lesão deverá retirar André Silva naturalmente da lista e Diogo Jota deve ser sacrificado - é compreensível que Fernando Santos, além dos obrigatórios três guarda-redes, queira oito defesas para quatro lugares, seis médios para três posições; e seis avançados para três titulares de cada vez (em março, convocou oito avançados).

Embora estas convocatórias sejam consideradas provisórias, porque pelo regulamento da competição podem ser alvo de alterações até dez dias antes do primeiro jogo (até dia 26, uma vez que Portugal joga a 5 de junho com a Suíça, no Dragão), o selecionador não fará exercícios teóricos. Os 23 que pode levar à prova que se disputa entre o Afonso Henriques de Guimarães e o Dragão do Porto estarão neste anúncio. Mesmo que lhes junte dois nomes que cairão, salvo qualquer imprevisto físico (ou outro), três dias depois.

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