Ferreira Diniz diz que continua a atender crianças

Por onde passa, Ferreira Diniz ouve cochichos. Os bancos não aceitam o seu dinheiro e ele já não vai à TV nem à rádio, mas no centro de saúde é o médico com mais doentes.
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Seja no metro, no centro comercial ou num restaurante, é raro a passagem de Ferreira Diniz não dar em cotoveladas, em jeito de chamada de atenção, e em sussurros do género: "Olha quem vai ali, o tipo da Casa Pia." Esta é uma realidade "pouco agradável" com a qual o "médico do Ferrari" - como é apelidado pelas vítimas do processo - tem convivido nos últimos dez anos. Como o próprio diz, o processo não lhe mudou a vida "nem muito nem pouco, mudou tudo"!

Dias antes de ir para a prisão, Ferreira Diniz não se inibe de "andar de transportes, de ir a restaurantes ou de passear e ir ao cinema em grandes superfícies comerciais", como o El Corte Inglés ou o Colombo. Apesar de "sentir muito o cochicho", garante que nunca ouviu "nenhuma boca na rua". Sentado no seu consultório, onde recebe o DN, continua a jurar inocência.

A vida profissional de Ferreira Diniz foi um dos aspetos que menos se alteraram, apesar de ter "deixado de ser convidado para conferências e colóquios", pois "do ponto de vista científico as pessoas não se querem associar" à sua imagem. No Centro de Saúde da Graça, em Lisboa, onde continua a exercer, integrado no Serviço Nacional de Saúde, orgulha-se de ser "o médico com mais utentes".

No seu consultório privado, situado em Belém, Lisboa, garante que tem "os mesmos pacientes que tinha antes do processo". Além de que, assegura, "continuo a ver os doentes de há muitos anos, que traziam os filhos deles ao meu consultório e que agora trazem os netos". "Não têm problemas em confiar-me as crianças, que atendo no consultório", reforça o médico.

Por outro lado, o processo Casa Pia colocou-o numa situação financeira mais débil, embora Ferreira Diniz garanta que "ganha bem". Mas não consegue juntar um pé de meia. "Tudo o que ganho gasto no processo. Ao longo destes dez anos tenho tido despesas astronómicas com advogados que nem consigo quantificar", conta ao DN.

Também a banca mudou perante Ferreira Diniz, que desistiu de recorrer a instituições bancárias para depositar o dinheiro. Em 2005, o Santander fechou-lhe a conta dizendo que era "persona non grata". Tempos depois, no Barclays, a reação foi idêntica. "Quis abrir uma conta com 50 mil euros e disseram que não aceitavam", lamenta.

Quanto a amigos, perdeu apenas "curiosamente, os que eram figuras públicas". Na sua vida mudaram também as presenças constantes na rádio e na televisão em rubricas de medicina. Deixou de dar aulas na Escola Superior de Tecnologias de Saúde, atividade que, antes do processo, lhe ocupava as manhãs.

Passa os dias com a mãe, com quem "trabalha e vive", e garante que a progenitora conhece a sua "vida toda". "Não lhe escondo nada", afiança. Atormenta-o o regresso à prisão, uma vez que na primeira passagem pela reclusão conta que teve "sentimentos suicidas" e até "homicidas" quando o juiz Rui Teixeira lhe rejeitou a passagem da cela para prisão domiciliária. Regressará agora à cadeia, local onde na anterior experiência sempre foi "bem tratado pelos outros prisioneiros", que nunca aplicaram os "códigos de honra" a que estão normalmente sujeitos os acusados de crimes sexuais com crianças.

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