"Fernando Santos é o Karpov do futebol e Ronaldo a rainha"
A Rússia é um dos países que deram a conhecer alguns dos melhores xadrezistas do mundo. Quem não se lembra dos grandes e intermináveis duelos entre Anatoly Karpov e Garry Kasparov? Pois bem, no país das estrelas do xadrez vive um português que, em 2015, foi vice-campeão da Europa amador e que atualmente ensina os mais novos "a chegar a um nível de excelência", numa escola privada de Moscovo. É essa mesma excelência que Paulo Fanha, de 47 anos, espera ver transportada pela seleção de Portugal, esta tarde, (16.00 horas) para o relvado do Estádio do Spartak, para assim vencer a Rússia em jogo da segunda jornada do grupo A da Taça das Confederações de futebol.
Paulo Fanha é um dos cerca de 300 mil emigrantes portugueses em terras russas e faz uma comparação entre o futebol e o xadrez, modalidade que aprendeu a jogar aos 4 anos. E não tem dúvida em dizer que "Fernando Santos é o Karpov da nossa seleção, pois joga as suas peças de forma segura, posiciona-as bem e no momento certo sabe matar o jogo". Quanto às peças no tabuleiro, ou no relvado, fala de "Cristiano Ronaldo como a dama [ou rainha]" da equipa das quinas, por ser "a peça mais poderosa, que pode movimentar-se em todas as direções e jogar em todas as diagonais". Já Rui Patrício é apresentado como "o rei, que nunca podemos perdê-lo... ou seja, não pode sofrer golos" e, finalmente, "Ricardo Quaresma é o cavalo que pode desequilibrar pela forma desconcertante como joga". Os restantes jogadores são, para Paulo Fanha, "peões", pois "formam uma estrutura sólida que permite a outros dois ou três jogadores fazer a diferença".
É com este tabuleiro que se move a seleção nacional, que o xadrezista comparara com o "estilo da seleção italiana", por causa da forma "fria e cínica" com que se habituou a jogar, um pouco à imagem do lendário Anatoly Karpov, que hoje é deputado na Federação Russa.
À primeira vista pode não parecer, mas Paulo Fanha garante que há muitas semelhanças entre o futebol e o xadrez, sobretudo aquele que é jogado pelos russos. "Quando cá cheguei tive de reinventar a minha forma de jogar, pois o nível aqui é tão elevado que aprendi outro tipo de jogo. É preciso ter um poder de cálculo superior, que se baseia na identificação de mais padrões... quantos mais padrões se conhecer, mais jogadas antecipamos e mais possibilidades temos de identificar o problema que o adversário coloca", refere.
O que, numa transposição para o relvado, é quase como os futebolistas de elite se mostram em campo: "Cristiano Ronaldo é um excelente jogador de xadrez, mas com a cabeça e os pés em todo o tabuleiro, pois sabe antecipar as jogadas e depressa encontra uma solução para os problemas", explica.
"Os russos nunca desistem"
Os moscovitas "têm o futebol português em grande conta", algo que enche de orgulho o professor de xadrez. "Quando sabem que sou português falam-me logo de Ronaldo, que é muito popular e há muita publicidade com ele nos outdoors. Além disso, conhecem bem o Benfica, o FC Porto... e os adeptos do CSKA conhecem bem o Sporting", atira este benfiquista, com um sorriso, recordando que foi essa a equipa que venceu os leões na final da Taça UEFA em Alvalade, em 2005. No entanto, os amigos russos de Paulo Fanha não arriscaram fazer apostas com ele sobre o jogo desta esta tarde: "Têm medo porque sabem do valor da nossa seleção."
Apesar de reconhecerem a qualidade da equipa das quinas, Paulo Fanha deixa um aviso sobre aquela que é a mentalidade russa: "Eles nunca têm aquela atitude de superioridade em relação aos adversários, porque têm sempre muito respeito por quem está do outro lado, mas têm uma característica que eu admiro e que é terem sempre fé no seu desporto. Vão sempre à luta, mesmo que saibam que são à partida mais fracos, e vão criar um ambiente hostil a Portugal."
Preços afastam-no dos estádios
A organização da Taça das Confederações, que representa um pouco um teste tendo em vista o Mundial do próximo ano, é vista por Paulo Fanha com alguma desilusão. "Não vou estar no estádio a assistir ao jogo porque o preço dos bilhetes para quem não é russo é superior a cem euros, o que acho demasiado", atirou, lamentando que no jogo de abertura entre a Rússia e a Nova Zelândia tenha estado "tão pouca gente na bancada". "Não foi muito inteligente ter os preços tão altos, pois o futebol tem de ter público, e isso é algo que os russos têm de melhorar para o Campeonato do Mundo", sublinhou o professor de xadrez, que na sua escola Win Win Mind procura, juntamente com outros dois professores de Física e Matemática, que os jovens russos atinjam um nível de excelência numa área específica. No futebol, caberá à seleção nacional mostrar hoje porque atingiu o estatuto de campeã da Europa no verão passado.