Fernando Mendes suspeito de terrorismo e sequestro

Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa confirma que os quatro detidos foram constituídos arguidos
Publicado a
Atualizado a

Fernando Mendes e os restantes três detidos ontem à noite são suspeitos de "comparticipação" nas agressões que tiveram lugar na Academia do Sporting a 15 de maio.

De acordo com a PGDL, os factos em causa são "suscetíveis de integrar a prática dos crimes de introdução de lugar vedado ao público, ameaça agravada, ofensa à integridade física qualificada, sequestro, dano com violência, detenção de arma proibida agravada, incêndio florestal, resistência e coação sobre funcionário e terrorismo".

Foram ainda emitidos quatro mandados de busca domiciliária e um de não domiciliária, que, segundo fonte policial, abrangeram as residências dos detidos e a sede da Juve Leo.

Os quatro detidos serão presentes ao juiz de instrução criminal do Barreiro para aplicação de medida de coação adequada. A investigação prossegue e é dirigida pelo Ministério Público do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa/sede, com a coadjuvação da PSP e da GNR-Unidade de Investigação.

Fernando Mendes foi líder da Juventude Leonina e foi identificado como estando no balneário no dia em que aconteceram as agressões a jogadores e equipa técnica do Sporting. Foi detido ontem à noite, juntamente com o motorista do carro onde abandonou a academia, Nuno Torres. Este último já tinha dado entrevistas onde referia que apareceu no fim e apenas para dar boleia a quem se encontrava no interior do local de treinos do Sporting. Garantia que tinha tido autorização para entrar em Alcochete. A identidade dos outros dois arguidos ainda não é conhecida.

Já, Mendes terá sido identificado por Jorge Jesus no depoimento que fez à polícia sobre os acontecimentos. O antigo treinador do Sporting diz que lhe pediu ajuda, mas que este respondeu que apenas estava lá para falar e não para agredir ninguém.

Fernando Mendes, 48 anos, já esteve impedido de entrar em estádios por duas ocasiões, uma delas durante seis anos, hoje será ouvido em tribunal por causa do seu alegado envolvimento nas agressões na Academia de Alcochete, a 15 de maio.

O antigo líder da claque Juventude Leonina e mais três suspeitos foram detidos ontem à noite, ainda no caso relacionado com das agressões a jogadores e equipa técnica. Entre os detidos está também Nuno Torres, o condutor do BMW em que saíram da academia vários dos envolvidos no episódio das agressões. Vão ser presentes a juiz esta tarde no Tribunal do Barreiro, enquanto os atuais 23 arguidos do caso permanecem em prisão preventiva.

Este não foi, no entanto, o primeiro problema com a justiça que Fernando Mendes teve enquanto adepto de futebol. O homem a quem Jorge Jesus terá pedido ajuda durante a invasão do balneário, já esteve impedido de entrar em estádios por duas vezes. A última entre 2010 e 2017, depois dos confrontos com a claque do Atlético de Madrid.

Fernando Barata "Mendes" já tinha sido identificado por várias testemunhas como estando no balneário da equipa durante o episódio em que vários elementos do Sporting foram agredidos. Embora as testemunhas digam que o ex-líder da claque leonina não participou das agressões, Jorge Jesus terá dito no seu depoimento que lhe pediu ajuda e que este nada fez para travar os ataques. "Fernando, ajuda, estes gajos estão a bater nos jogadores, ajuda-me", terá pedido Jorge Jesus. A resposta terá sido: "A gente não veio aqui para bater, só para falar."

Antes deste episódio, já Fernando Mendes tinha estado envolvido em altercações no aeroporto da Madeira, depois da derrota do Sporting com o Marítimo, que impediu a equipa de ficar no segundo lugar e aceder à Liga dos Campeões. Nas câmaras da CMTV vê-se membro da Juve Leo a gritar: "Falamos em Alcochete."

Duas vezes fora dos estádios

Adepto fervoroso do Sporting, ficou duas vezes impedido de entrar em estádios. A primeira durante o Euro 2004, a segunda, mais longa durou de 2010 a 2017. À revista Sábado contou, a propósito de um artigo sobre pessoas impedidas de frequentar os seus locais preferidos, contava no ano passado o que lhe custou viver esses momentos de interdição.

Foi castigado seis meses por invasão de campo durante um Sporting-Benfica. "Fi-lo porque era contra a construção do fosso entre a bancada e o relvado e quis provar que aquilo não impedia invasões." Para seu azar a interdição durou o tempo do europeu de futebol que se realizou em Portugal. Acabou a ver os jogos na esquadra onde tinha de se apresentar uma hora antes dos jogos da seleção. Estava também impedido de entrar nos outros jogos.

Seis anos depois vê-se envolvido em confrontos com a claque do Atlético de Madrid. Depois de desacatos na capital espanhola, a resposta em Lisboa correu mal a 12 elementos das claques do Sporting. "Chamámos a malta do grupo para defender a nossa "casinha" e os adeptos do Sporting, ao mesmo tempo que dei uma entrevista à RTP manifestando a minha indignação em relação aos desacatos e invocando a batalha de Aljubarrota como símbolo da nossa resistência face aos espanhóis. Esses depoimentos foram posteriormente julgados como incentivo à violência", descreveu então à revista.

Houve arremesso de tochas, pancada e um carro de exteriores acabou em cinzas. Fernando Mendes seria proibido de entrar em estádios até 22 de agosto de 2017. Diz que só por uma vez tentou quebrar a lei e não foi bem sucedido. Pagou 12 mil euros, mas isso foi o menos - "posso comer uma sopa em vez de um bife e ir pagando, mas não poder acompanhar o meu Sporting dói-me muito."

Fernando Mendes só aprecia dos jogos no meio da claque, no estádio. Em casa, contava, até faz zapping porque se aborrece. Gosta de estar junto dos seus, "em tronco nu" a mostrar as tatuagens do Sporting.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt