Feira da Luz está de volta. Uma tradição com mais de 500 anos

A Feira da Luz está de volta às ruas da freguesia lisboeta de Carnide, a partir de sábado até 25 de setembro, depois de dois anos de suspensão devido à pandemia. Nestes 30 dias e 30 noites de animação, quem por lá passar pode encontrar desde comércio tradicional e petiscos a concertos e aulas de dança. Além, claro, da tradicional missa solene e a procissão de Nossa Senhora da Luz no último dia desta festa, que é uma das mais antigas do país.

"Depois de três anos em que a vida nos trocou as voltas, em que fizemos planos para edições que nunca chegaram a sair do papel por imposição do contexto pandémico em que vivemos, estão finalmente reunidas as condições para lhe apresentarmos uma Feira da Luz completa", refere Fábio Sousa, presidente da Junta de Freguesia de Carnide, que tem a seu cargo a totalidade da organização deste evento desde 2014.

"Estamos muito felizes por voltar. Muitas pessoas dizem-nos que estão à espera da feira para comprar algumas coisas mais tradicionais, como loiças, cutelarias e artesanato, que só encontram aqui. Este ano, já podem comprar", acrescenta o autarca.

O evento foi cancelado devido à pandemia, tendo em 2020 sido substituído por uma exposição de fotografias de edições anteriores no Largo da Luz, enquanto em 2021 apenas se realizaram as cerimónias religiosas.

Este ano, a feira, que se realiza há mais de cinco séculos, traz ao Jardim da Luz, mesmo ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Luz, a padroeira desta freguesia lisboeta, comerciantes de artesanato, loiças, vergas, plásticos, atoalhados, tapetes, flores, móveis, roupa, calçado e um sem fim de utensílios e ferramentas que já são difíceis de encontrar. Também há, claro está, comidas e bebidas, petiscos da gastronomia tradicional, farturas e algodão doce e carrinhos de choque, além da música tradicional e uma grande dinamização cultural. Neste capítulo, estão programadas diversas atividades, como aulas de danças latinas, conversas com a nutricionista Catarina Duarte, apresentação de livros, teatro de rua, ateliers de artes plásticas e até ações de sensibilização para a adoção de cães.

"O programa deste ano é uma aposta deste executivo para toda a família. Grandes nomes do panorama artístico nacional vão trazer a Carnide momentos únicos de música que todos sabemos de cor e a participação dos parceiros locais vem enriquecer, ainda mais, o ambiente de festa que todos aguardamos", defende Paula Granja, vogal da Cultura da Junta de Freguesia de Carnide e membro da comissão organizadora da Feira da Luz, nomeada em 2020 para as Sete Maravilhas da Cultura Popular. "Não é um regresso fácil - ainda vivemos sob o fantasma da pandemia e a triste realidade de uma guerra insólita que tem trazido consequências menos positivas para todos nós. Mas, mesmo assim, a Junta de Freguesia quis reunir todos os esforços que estão ao seu alcance para que a nossa festa seja, de novo, uma feliz realidade", sublinha.

Os concertos ao ar livre, com entrada gratuita, iniciam-se sábado com a banda Carapaus Azeite e Alho, num programa que pretende "tocar vários públicos, desde o juvenil ao mais tradicional", refere Fábio Sousa. O cartaz da edição deste ano da Feira da Luz inclui ainda Ivo Lucas e HMB (nos dias 2 e 3 de setembro), Kumpania Algazarra e Matay (a 9 e 10), Jorge Guerreiro e Gisela João (a 16 e 17), Rosinha, Rita Guerra (a 23 e 24) e ainda Agir no dia do encerramento.

Para Fábio Sousa, a Feira da Luz está de regresso num formato muito semelhante ao que assistiu antes da pandemia, sendo que no essencial o grupo de feirantes é o mesmo, apesar da "dificuldade gigante adicional" que a organização está a ter este ano, relacionada com o impacto financeiro, numa altura em que "tudo aumentou", desde o combustível ao aluguer dos stands.

"A feira mantém a sua génese também muito religiosa, tem todas as procissões agregadas, desde a menos conhecida procissão das velas, à noite, até à procissão em honra de Nossa Senhora da Luz que é bem mais conhecida e tem lugar no último dia da Feira, no último domingo do mês de setembro", enumera o presidente da Junta de Carnide.

A Feira da Luz teve origem precisamente na romaria ao Santuário de Nossa Senhora da Luz, que há mais de 500 anos, quando Carnide era uma povoação dos arredores de Lisboa, durava todo o mês de setembro.

*Com LUSA