Fazer as coisas certas
As organizações que sabem fazer as coisas certas são as mais produtivas. Por a produtividade ter impacto na eficiência e na competitividade, são também aquelas organizações as que melhores resultados alcançam, mais crescem, e, melhor realização pessoal e bem-estar proporcionam aos seus colaboradores.
Este é um assunto sensível para Portugal que regista apenas 66% da produtividade média da União Europeia, de acordo com o "Estado da Nação 2022" da Fundação José Neves.
Aumentar a produtividade passa por desenvolver melhores competências e uma adequada alocação das qualificações a profissões e tarefas. Na prática, são as organizações e culturas que apostam na melhoria contínua, no desenvolvimento e otimização de processos, para maior eficácia e rendimentos crescentes, as que sabem fazer as coisas certas.
Da minha experiência profissional registo dois projetos onde adotámos processos que muito impactaram a eficácia e o rendimento das operações: nos gasodutos de alta-pressão de gás natural, com as especificações e os procedimentos duma empresa de engenharia alemã (PLE); e, no terminal de GNL de Sines, com a revisão do projeto de engenharia pela empresa japonesa de referência (Tokyo Gas). Para além da predominância do conhecimento nas tecnologias em causa, marcaram-me os modos como as culturas daquelas empresas, naturalmente distintas, uma alemã e outra japonesa, combinavam qualidade com produtividade nos seus modelos produtivos.
Corroborando com a minha experiência na prática de vários desportos e em linha com o artigo Sijak do passado 21 Março, valorizo ainda as referências que se podem extrair de algumas modalidades. Nomeadamente, as demonstrações de como as equipas mais competentes, bem lideradas e treinadas fazem a diferença na concretização de objetivos. E, tratando-se de processos, considero pertinente a referência ao râguebi.
O râguebi é um desporto coletivo de intenso contato físico, onde duas equipas combatem pela conquista de terreno, com o propósito de fazer a bola transpor a linha de meta. No râguebi a demonstração de melhores processos e a eficácia do coletivo são fundamentais. É a equipa que ganha vantagem territorial, sabendo guardar a bola e, mais rapidamente, a faz passar entre todos, que consegue avançar e concretizar o ensaio. Por isso, os princípios do râguebi contemplam: avançar sempre, apoiar, continuar, reagir, comunicar, variar, velocidade e pressionar.
Quer no desporto quer nas organizações empresariais são necessários processos que alicercem ações e resultados diferenciados. Com base numa liderança no seio das equipas, no aproveitamento da complementaridade das suas valências, inspiradas em objetivos compartilhados, e, com feedback recíproco e reconhecimento torna-se possível a construção de processos robustos. Em contraponto, nas culturas onde a arrogância, a negação, a complacência e a microgerência possam pautar os comportamentos dos mais empoderados, encontramos as chefias tóxicas geradoras de ambientes de medo, do desperdício de talento e de baixas produtividades.
Nos cenários disruptivos em que vivemos, são as organizações com lideranças centradas no ser humano, assentes em princípios, valores humanistas e processos evolutivos as que sustentam bons resultados e mais crescem. E, é minha convicção, isso advém de conseguirem ter a pessoa certa, no lugar e hora certos, a fazer as coisas certas.
(Este artigo de opinião é o terceiro e último de três partes que foram publicadas nas últimas semanas)
Consultor, Gestor de Negócios e Conferencista / ex-praticante de rugby