Mayday! Mayday!

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Se o sucesso da liderança passa por termos a pessoa certa, no lugar e hora certos, fazendo a coisa certa, importa atender aos desafios e às situações mais exigentes: contextos, onde o que verdadeiramente importa é a atitude em relação às situações que se possam desencadear; momentos em que, mais do que questionar o sentido da vida, temos, em vez disso, de pensar em nós mesmos como aqueles que estão a ser questionados pela vida; alturas em que as respostas adequadas exigem, não conversa e meditação, mas ação e conduta corretas; e, situações críticas que, por vezes, dão também a quem as enfrenta a oportunidade de superação e crescimento.

Vivemos num mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo. Mas também frágil, ansioso, não linear e incompreensível. Ao mesmo tempo, algumas organizações vivem obcecadas com o fracasso e a sua prevenção, mesmo vendo que os seus planos estratégicos já não estão gravados em pedra e que é necessário adaptá-los. Estarão as organizações a preparar-se para melhores diagnósticos, equação de cenários, planos de contingência, gestão de riscos, e, maior agilidade, coordenação e eficácia nas reações a imponderáveis? E terão consciência da necessidade de reforçarem as vertentes colaborativas das suas equipas, as capacidades de adaptação, a gestão emocional e a resiliência para reagirem a cenários imprevisíveis?

No contexto de situações críticas, recordo duas experiências vividas na marinha de comércio. Uma no Golfo da Biscaia e outra no mar das Caraíbas, após ter cruzado o canal do Panamá, ao iniciar uma travessia do Atlântico. Em ambas as circunstâncias, ainda que navegando a bordo de navios com cerca de 150 metros de comprimento e significativas envergaduras, senti-me singularmente um ponto, tal a força do mar e a forma brutal como aquelas estruturas foram impactadas pelas tempestades a que subitamente fomos expostos. Jornadas que, entre outras lições, me terão tornado mais respeitador da natureza e momentos em que pude beneficiar da liderança de excecionais comandantes de marinha. Homens de carisma, cuja força de caráter foi forjada em vidas de luta contra adversidades e desafios na navegação dos oceanos. Líderes com rumos definidos, mas que, quando necessário, com base em análises racionais e avaliações instintivas, rapidamente decidiam de forma inteligente o ajustamento das rotas. Demonstrando assim que a chave para a tomada de decisões acertada não era o conhecimento, mas a sua compreensão e agilidade na ação.

Ainda nesses cenários, quando a razão era convidada a dançar ao ritmo das emoções, os sentimentos abalavam e era possível perder o controlo, aqueles líderes, no meio da dúvida e de possíveis sentimentos de desamparo, não permitiram que o desespero espreitasse, e, instilaram esperança e confiança.

Daqueles líderes, recordo ainda o desenvolvimento antecipado de planos de contingência e exercícios de simulação. Semanalmente, à voz de "Mayday! Mayday!" mobilizavam as equipas em simulacros e treinos "à séria" de: incêndios a bordo, queda de homem ao mar e outras situações críticas que as tripulações pudessem ter de enfrentar. E isto com o propósito de criar equipas capacitadas e multifuncionais, prontas para, se necessário, no local e à hora certos, se adaptarem e reagirem com prontidão a situações críticas.

(Este artigo de opinião é o segundo de três partes que serão publicadas nas próximas semanas)
Artigo I - Somos o que aprendemos, sentimos e fazemos

João Filipe Torneiro, Consultor, Gestor de Negócios e Conferencista

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