Fazedores que inovam são essenciais para o futuro do país
Uma temática foi dominante na conferência comemorativa dos 10 anos do Dinheiro Vivo: mais do que fazedores (que são importantes), o país (e o mundo) precisa de inovadores. Pessoas com a capacidade de pegar num sonho e dar-lhe vida. De concretizarem e passarem à ação.
Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa - que discursou na sessão de abertura do evento -, falou em três tipos de personalidades fundamentais: os pensadores, os sonhadores e os fazedores. Para o autarca, "sem eles não há crescimento, não há produtividade, não há competitividade e não há produção de riqueza".
E sobre a inovação, a opinião coincidente entre Maria José Campos, administradora do BCP, Teresa Abecasis, administradora da Galp, e Marta Sousa Uva, CEO da A-To-Be by Brisa, é de que as empresas deveriam apostar em ecossistemas de inovação aberta, assentes em parcerias.
No caso da Galp, por exemplo, a inovação permitiu-lhe transformar o que era uma empresa petrolífera pura e dura numa organização que tem como objetivo ser neutra em carbono até 2030. Está a reconverter a refinaria de Sines, não só para transformar o espaço num hub de inovação, capaz de se posicionar num ecossistema de inovação mundial como capaz de ombrear na produção de energias renováveis, nomeadamente no solar, biocombustíveis e hidrogénio verde. Sobre este último, que, a par do lítio, é essencial para o futuro da mobilidade elétrica, a empresa, nas palavras da sua administradora, tem como objetivo ter em 2030 um gigawatt de capacidade instalada.
Com tudo isso, a Galp quer alterar a perceção e imagem que (ainda) tem junto do público. Dar a conhecer que é um dos maiores players ibéricos de produção de energia solar e que lidera, em Portugal, nos pontos de carregamento de viaturas elétricas.
Mas quando falamos de futuro não basta mencionar a parte da produção de energia. A estratégia de descarbonização passa igualmente pela infraestrutura - onde a Brisa, e mais precisamente a A-To-Be by Brisa, dá cartas - e por algo tão essencial como a parte financeira do negócio. Seja a nível individual - com o aparecimento de novas formas de pagamento digital - seja no segmento corporativo, com a banca a ter de inovar no sentido de apresentar novos produtos e serviços. Sobre isso, Maria José Campos afirmou que "vamos assistir a uma fase de convergência em que a banca tradicional vai incorporar muitas destas tecnologias", acrescentando que a próxima utilização do blockchain será, muito provavelmente, no central bank digital currencies.
Mas se é importante apostar na inovação, esta tem de ter um caráter contínuo. Porque, como alertou Marta Sousa Uva, não basta pegar num bom produto e exportá-lo. "Se não tivermos inovação contínua, este rapidamente se torna obsoleto", conclui.
Embora Portugal tenha um currículo ímpar no que à criação de startups diz respeito, gestores e empreendedores alertam que é necessário superar alguns obstáculos de forma a aproveitar em pleno a sua capacidade de inovação. De acordo com Luís Rodrigues, diretor-executivo da Startup Braga, o país está "13% acima da média europeia de startups per capita" e regista um crescimento de 40% no número de incubadoras entre 2016 e 2021. Entre os desafios a superar, aponta a escassez de talento no mercado - em particular no setor das TIC - e a falta de investidores para todas as fases de desenvolvimento de projetos inovadores como alguns dos principais. O responsável defendeu ainda a "ambição de tornar Portugal numa startup nation", sendo para isso necessário construir um quadro regulatório e fiscal atrativo para a fixação de novas empresas.
Ainda no campo da disrupção, Alexandre Fonseca, CEO da Altice, aproveitou a intervenção na conferência para reafirmar o compromisso da gigante de telecomunicações em "colocar Portugal a uma só velocidade" através da expansão do 5G. E porque a nova geração móvel promete impactar de forma positiva vários setores de atividade, como a indústria ou a saúde, o empresário sublinha ser preciso segurar "talentos e cérebros" que continuem a criar projetos inovadores. "É fundamental continuar a investir no ecossistema empreendedor", reforçou, pouco depois de terem subido a palco cinco empreendedores portugueses que estão a inovar na logística, na mobilidade e na saúde.
Alexandre Fonseca lembrou ainda a longa duração do leilão do espectro 5G, que se prolongou por 11 meses, e criticou, uma vez mais, os efeitos causados pela demora na disponibilização da rede. "Deixou-nos, pela primeira vez na história das telecomunicações, na cauda da Europa", afirma o gestor.
O CEO não tem dúvidas de que "as fábricas e os gestores portugueses" estiveram em desvantagem concorrencial em relação a outros países, diminuindo a competitividade da economia nacional. Agora, diz, é tempo de seguir em frente e trabalhar para apanhar o comboio da nova geração móvel, que acredita ser uma ferramenta essencial em temas cada vez mais relevantes na sociedade digital - cibersegurança, criptomoedas e sustentabilidade. "O 5G será decisivo para a melhoria da sustentabilidade", remata, apelando a um maior coinvestimento público e privado na rede de comunicações nacional.
Marco Galinha, CEO do Global Media Group, deu as boas-vindas aos participantes no evento sublinhando que "fazedores somos todos nós". Aludindo ao período em que o jornal nasceu, em plena intervenção da troika, disse que "foram 10 anos de resiliência, de determinação", acrescentando que "estamos aqui para apoiar este tipo de projetos".