Em cada paragem, Luísa ficava à espera de ver a mãe chegar. "Era sempre das últimas, mas nunca pensei em desistir", diz a jornalista Alberta Marques Fernandes, que se estreou como peregrina há dois anos e nesta semana fez a sua segunda viagem a pé até ao santuário. Francisco Siopa vai na sexta peregrinação. Houve um ano em que o chef do Penha Longa falhou um mês de maio, mas não deixou de ir em outubro, de mochila às costas. Foi um mês chuvoso e a roupa molhada colada ao corpo ou os pés enterrados na lama tornaram a viagem ainda mais dura. "Lembro-me de que houve um ano em que choveu todos os dias", recorda a deputada do CDS Ana Rita Bessa, que já fez "quatro ou cinco" peregrinações a Fátima. Há nove anos que não repete a experiência, mas volta muitas vezes aos diários que escreveu durante as viagens. Tenham sido uma, duas ou até dez as peregrinações, quem fez o caminho mais do que uma vez garante que nenhuma é igual..A primeira viagem a pé do chefe pasteleiro do Penha Longa Resort foi em 2008, tinha acabado de ser pai pela segunda vez. Foi com um grupo pequeno, não mais de trinta pessoas, o mesmo com o qual fez a maioria das peregrinações seguintes. O percurso de cerca de 120 quilómetros é feito por trilhos de terra batida e demora quatro dias..Sopa da pedra para ajudar na parte pior do percurso.Partem de Vila Nova da Rainha (Azambuja), dali até Porto de Muge, o segundo dia é para chegar a Santos e o terceiro traz a etapa mais difícil: "É neste ponto do percurso que subimos a serra de Santo António." Antes, almoçam em Monsanto (Santarém), aquela que é a refeição mais esperada durante toda a viagem. Comem sempre o mesmo prato: sopa da pedra e pão de lenha feitos por Rosalina, a sogra de Francisco Siopa. Mesmo nos anos em que não fez o caminho a pé, o chef foi levar o almoço aos peregrinos..O grupo do chef vai acompanhado de um frade da Ordem dos Franciscanos, o frei Paulo, líder espiritual destes peregrinos. É ele quem batiza os que se estreiam na peregrinação recorrendo às águas de um pequeno lago na Aldeia de Giesteira, mesmo antes de chegar a Fátima. "É um momento simbólico", diz o chef. Tal como é simbólica a subida da serra, que em 2010 lhe pareceu ainda mais difícil. "Foi o ano em que morreu o meu pai, e o percurso - com partes mais fáceis e outras mais difíceis - é como se fosse a nossa vida: há alturas em que achamos que não temos forças para continuar, mas continuamos.".A deputada Ana Rita Bessa não tem a mesma devoção mariana. Mas nunca deixa de se impressionar com a reação dos peregrinos à chegada. "São muito diferentes: há quem caia de cansaço e ali fique, à entrada, quem quase corra até à Capela [das Aparições] e quem fique em silêncio, de olhar fixo. Faz-me sempre pensar naquela passagem [da Bíblia]: "Em casa do meu Pai há muitas moradas", diz a deputada..A primeira vez que fez a viagem a pé até Fátima tinha 18 anos e estava no primeiro ano da universidade. Foi com um grupo de amigos, todos da mesma idade. "Fomos de mochilas às costas e dormíamos onde nos dessem guarida", recorda. Dormiram em sedes dos bombeiros ou em barracões emprestados por pessoas amigas. "Não tínhamos nenhum apoio, a nível de higiene, por exemplo, nem sequer um sítio fixo para comer - batíamos à porta de umas pessoas e perguntávamos se podíamos comer por lá", lembra Ana Rita Bessa, que por isso destaca a primeira peregrinação como "uma experiência muito forte de desprendimento e da noção de que estaríamos a depender da generosidade de outros"..Alberta Marques Fernandes: "Foi uma experiência única".As memórias são boas, mas a economista não esquece o que mais lhe custou. "Lembro-me do desconforto de dormir no ginásio. Estava exausta e queria dormir, e alguém ressonava imenso e aquilo faz um eco gigante. Recordo-me perfeitamente de estar nesta luta interior: "Eu não me posso irritar, estou a fazer uma peregrinação."".Fez mais duas viagens a pé, inserida num grupo de cem peregrinos. "Não há duas peregrinações iguais. Acontecem é em alturas diferentes da vida, podemos ir alegres ou tristes, com coisas por resolver interiormente ou não", diz a deputada.."Foi uma experiência única", diz Alberta Marques Fernandes, que em 2017 aceitou o desafio da filha, Luísa, para se juntar aos mais de 700 peregrinos da Família de Schoenstatt que todos os anos fazem a peregrinação. Na memória da jornalista ficaram o sentimento de fragilidade, mas sobretudo a generosidade de quem estava ao seu lado, a passar pelo mesmo. "Emprestaram-me bastões de caminhada, fizeram-me massagens nas pernas, a entreajuda é muita.".A primeira viagem "foi muito difícil. Não tenho preparação física nenhuma. Sofri muito", diz a pivô da RTP. Desta vez foi mais bem preparada: levou um kit com meias especiais, calçado mais apto à terra batida dos caminhos, proteção para os dedos. "Perdi duas unhas na primeira viagem." Gostava de "sofrer um bocadinho menos" nesta segunda peregrinação, mas acredita que irá chegar ao fim do caminho.
Em cada paragem, Luísa ficava à espera de ver a mãe chegar. "Era sempre das últimas, mas nunca pensei em desistir", diz a jornalista Alberta Marques Fernandes, que se estreou como peregrina há dois anos e nesta semana fez a sua segunda viagem a pé até ao santuário. Francisco Siopa vai na sexta peregrinação. Houve um ano em que o chef do Penha Longa falhou um mês de maio, mas não deixou de ir em outubro, de mochila às costas. Foi um mês chuvoso e a roupa molhada colada ao corpo ou os pés enterrados na lama tornaram a viagem ainda mais dura. "Lembro-me de que houve um ano em que choveu todos os dias", recorda a deputada do CDS Ana Rita Bessa, que já fez "quatro ou cinco" peregrinações a Fátima. Há nove anos que não repete a experiência, mas volta muitas vezes aos diários que escreveu durante as viagens. Tenham sido uma, duas ou até dez as peregrinações, quem fez o caminho mais do que uma vez garante que nenhuma é igual..A primeira viagem a pé do chefe pasteleiro do Penha Longa Resort foi em 2008, tinha acabado de ser pai pela segunda vez. Foi com um grupo pequeno, não mais de trinta pessoas, o mesmo com o qual fez a maioria das peregrinações seguintes. O percurso de cerca de 120 quilómetros é feito por trilhos de terra batida e demora quatro dias..Sopa da pedra para ajudar na parte pior do percurso.Partem de Vila Nova da Rainha (Azambuja), dali até Porto de Muge, o segundo dia é para chegar a Santos e o terceiro traz a etapa mais difícil: "É neste ponto do percurso que subimos a serra de Santo António." Antes, almoçam em Monsanto (Santarém), aquela que é a refeição mais esperada durante toda a viagem. Comem sempre o mesmo prato: sopa da pedra e pão de lenha feitos por Rosalina, a sogra de Francisco Siopa. Mesmo nos anos em que não fez o caminho a pé, o chef foi levar o almoço aos peregrinos..O grupo do chef vai acompanhado de um frade da Ordem dos Franciscanos, o frei Paulo, líder espiritual destes peregrinos. É ele quem batiza os que se estreiam na peregrinação recorrendo às águas de um pequeno lago na Aldeia de Giesteira, mesmo antes de chegar a Fátima. "É um momento simbólico", diz o chef. Tal como é simbólica a subida da serra, que em 2010 lhe pareceu ainda mais difícil. "Foi o ano em que morreu o meu pai, e o percurso - com partes mais fáceis e outras mais difíceis - é como se fosse a nossa vida: há alturas em que achamos que não temos forças para continuar, mas continuamos.".A deputada Ana Rita Bessa não tem a mesma devoção mariana. Mas nunca deixa de se impressionar com a reação dos peregrinos à chegada. "São muito diferentes: há quem caia de cansaço e ali fique, à entrada, quem quase corra até à Capela [das Aparições] e quem fique em silêncio, de olhar fixo. Faz-me sempre pensar naquela passagem [da Bíblia]: "Em casa do meu Pai há muitas moradas", diz a deputada..A primeira vez que fez a viagem a pé até Fátima tinha 18 anos e estava no primeiro ano da universidade. Foi com um grupo de amigos, todos da mesma idade. "Fomos de mochilas às costas e dormíamos onde nos dessem guarida", recorda. Dormiram em sedes dos bombeiros ou em barracões emprestados por pessoas amigas. "Não tínhamos nenhum apoio, a nível de higiene, por exemplo, nem sequer um sítio fixo para comer - batíamos à porta de umas pessoas e perguntávamos se podíamos comer por lá", lembra Ana Rita Bessa, que por isso destaca a primeira peregrinação como "uma experiência muito forte de desprendimento e da noção de que estaríamos a depender da generosidade de outros"..Alberta Marques Fernandes: "Foi uma experiência única".As memórias são boas, mas a economista não esquece o que mais lhe custou. "Lembro-me do desconforto de dormir no ginásio. Estava exausta e queria dormir, e alguém ressonava imenso e aquilo faz um eco gigante. Recordo-me perfeitamente de estar nesta luta interior: "Eu não me posso irritar, estou a fazer uma peregrinação."".Fez mais duas viagens a pé, inserida num grupo de cem peregrinos. "Não há duas peregrinações iguais. Acontecem é em alturas diferentes da vida, podemos ir alegres ou tristes, com coisas por resolver interiormente ou não", diz a deputada.."Foi uma experiência única", diz Alberta Marques Fernandes, que em 2017 aceitou o desafio da filha, Luísa, para se juntar aos mais de 700 peregrinos da Família de Schoenstatt que todos os anos fazem a peregrinação. Na memória da jornalista ficaram o sentimento de fragilidade, mas sobretudo a generosidade de quem estava ao seu lado, a passar pelo mesmo. "Emprestaram-me bastões de caminhada, fizeram-me massagens nas pernas, a entreajuda é muita.".A primeira viagem "foi muito difícil. Não tenho preparação física nenhuma. Sofri muito", diz a pivô da RTP. Desta vez foi mais bem preparada: levou um kit com meias especiais, calçado mais apto à terra batida dos caminhos, proteção para os dedos. "Perdi duas unhas na primeira viagem." Gostava de "sofrer um bocadinho menos" nesta segunda peregrinação, mas acredita que irá chegar ao fim do caminho.